Ainda ecoam na memória nacional os tiros disparados no recente 7 de abril, na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Rio de Janeiro (RJ). Senti um frio na espinha ao lembrar de meus dois filhos na escola. Ainda assim, mesmo como mãe, é impossível dimensionar a dor das mães dessas vítimas inocentes, mesmo aquela confortada pelo heroísmo do pequeno que, ferido, correu para chamar os policiais que interromperam a matança.
Wellington Menezes de Oliveira repetia, 12 anos depois, o gesto tresloucado de Dylan e Eric, dois alunos do Instituto Columbine, em Littleton (EUA), em 20 de abril de 1999. Doze adolescentes, em trágica coincidência, foram mortos em ambos os casos. Um professor tombou no primeiro, onde dezenas de jovens ficaram feridos e no qual, horas depois, cercados pela polícia, os atiradores decidiram se matar.
Identificar sociopatias tem sido um desafio da sociedade, mesmo nos países mais desenvolvidos. Exemplos como o de Columbine, transformado em documentário ganhador do Oscar por Michael Moore, mostra muito claramente que o sistema educacional norte-americano foi incapaz de prever aquela tragédia, como outras que a sucederam.
Acho pouco chamar um novo plebiscito do desarmamento ou equipar as escolas com detectores de metais. É tirar o sofá da sala. É preciso, mais que isso, combater o mercado negro das armas, o contrabando que atravessa as fronteiras de nosso País e faz um revólver chegar às mãos de sociopatas nos bairros mais ermos das mais distantes cidades. E, sobretudo, é preciso repensar o sistema educacional brasileiro.
O mundo, dirão alguns, não conseguiu combater essas aberrações. Como o Brasil conseguirá, com as dificuldades inerentes ao modo de vida nacional? Começando pelo combate frontal ao medo de inovar, caminhando no estudo das experiências que obtiveram melhores resultados e mexendo nas estruturas didáticas ultrapassadas.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), um avanço no sentido de criar um ranking das escolas brasileiras, precisa ser aprimorado. Onde entram as inteligências múltiplas de que fala Howard Gardner, em seu livro Estruturas da mente (1983), num teste que mede apenas inteligência verbal e inteligência lógica/matemática? Cinco dimensões do cérebro humano, as inteligências visual/espacial, musical, interpessoal, intrapessoal e corporal/cinestética, apontadas pelo psicólogo cognitivo e educacional norte-americano, simplesmente não passam por essa avaliação.
O Ministério da Educação (MEC) está às voltas com o retorno da música ao currículo básico escolar. Termina em 2011 o prazo de três anos, a contar de 19 de agosto de 2008, para que estados e municípios determinem em quais séries e como a disciplina será ministrada. A falta de professores é um obstáculo, mas, sem dúvida, trata-se de avanço a ser registrado.
Voltando aos tiros em Realengo, o atirador tenta justificar a própria insanidade, nas cartas e vídeos que deixou, com os maus tratos (bullying) aplicados pelos colegas na escola Tasso da Silveira. Outros alunos confirmaram que isso aconteceu. Afastando as tentativas de explicar o inexplicável, a moderna ciência educacional pode e deve encontrar meios de contemplar os diversos tipos de inteligências, inclusive de mentes doentias como essa, lançando mão da música e de outras artes, por exemplo, a ponto de impedir que dediquem tanto tempo a maquinar barbaridades.
Em nome da memória dos inocentes que tombaram, o Brasil precisa aprender esta lição.