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Ao se eleger nesta manhã presidente da Câmara, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) trouxe uma dificuldade a mais para a já extensa lista de problemas que o Executivo é obrigado a administrar em seu relacionamento com o Congresso. Incapaz de unir o PT e os parlamentares dos demais partidos que o apóiam na escolha do sucessor do deputado João Paulo (PT-SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva torna-se refém de uma situação inédita. Pela primeira vez, a Câmara dos Deputados não será comandada por um integrante da maior bancada da Casa. Pior: além de perder a presidência para um membro da quinta maior representação partidária , o PT ficará de fora da Mesa Diretora, já que abriu mão de lançar candidatos aos demais cargos em disputa. Em uma eleição histórica, Severino derrotou, em segundo turno, o candidato oficial do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). O pernambucano obteve 300 votos, contra 195 do paulista. Houve dois votos nulos e um em branco. O resultado, anunciado por volta das 6h30 desta terça-feira, representa a maior derrota do governo Lula no Congresso. Greenhalgh conseguiu menos votos no segundo turno do que no primeiro, quando obteve o apoio de 207 deputados. Entre uma votação e outra, Cavalcanti praticamente triplicou o número de votos. Com o apoio de 124 deputados, ele quase ficou de fora da disputa final, já que o candidato avulso do PT, Virgílio Guimarães (MG), obteve 117 votos. José Carlos Aleluia (PFL-BA) ficou em quarto lugar, com o apoio de 53 deputados. Outro pefelista, Jair Bolsonaro (RJ), teve apenas dois votos. Também foram registrados quatro votos nulos e três em branco. Muito aplaudido ao ser empossado, pouco antes das 7h de hoje, Severino fez um discurso conciliador. Comparou-se a Lula – nordestino e sem diploma superior como ele – para em seguida afirmar: “Não criarei empecilhos para o meu conterrâneo”. Ao mesmo tempo, reafirmou os compromissos que o levaram a vencer Greenhalgh. "A minha presidência será a presidência de todos os deputados e deputadas", afirmou. A vitória de Severino é também a vitória do chamado “baixo clero”, nome que se dá ao majoritário grupo de deputados desconhecidos, em geral queixosos do tratamento que recebem do governo e notabilizados pela prioridade que dão a dois tipos de demandas: o atendimento de pleitos específicos (indicações para cargos públicos, verbas para suas bases eleitorais) e a desenvoltura com que defendem para si próprios melhorias salariais. Ela também deve ser creditada à falta de habilidade do governo. Primeiro, por tentar impor um candidato – Greenhalgh – que, se já não era o favorito na bancada petista (que preferia Virgílio), foi claramente rechaçado pelos demais partidos da base governista. Segundo, por mobilizar ostensivamente ministros muito empenhados em participar de reuniões com potencial para render fotos em jornal mas pouco dispostos a cuidar do varejo da política – a começar pela abertura de suas agendas para receber parlamentares. Terceiro, por dar gás involuntariamente ao fenômeno Severino ao satanizar a candidatura de Virgílio, petista histórico e absolutamente fiel ao governo Lula. Quarto, por não captar os regionalismos de uma Casa onde o sentimento dominante era de que seria demais eleger mais um paulista para suceder João Paulo. Nas últimas semanas, não faltaram deputados e líderes partidários que alertaram os estrategistas do Planalto para o risco de o governo pagar caro por sua soberba. Não foram ouvidos. A questão agora é saber se o governo aprendeu a lição. A julgar pela primeira reação do presidente nacional do PT, José Genoíno, que na manhã de hoje se apressava a culpar Virgílio Guimarães pela vitória de Severino, a resposta talvez seja negativa. |
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