Célio Pezza*
No dia 7 de setembro de 1822, o príncipe regente D. Pedro declarou oficialmente a separação política entre Portugal e o Brasil colônia. Logo depois, em 12 de outubro de 1822, D. Pedro foi aclamado Imperador, sendo coroado no Rio de Janeiro em 1º de dezembro, com o título de D. Pedro I. Desde então, comemoramos esta data como o fim do domínio português e a conquista da autonomia política, ou seja, nossa independência.
É costume nesta data haver desfiles e paradas militares, onde diversos órgãos de segurança marcham em filas ostentando com orgulho suas conquistas. Também as escolas participam, com seus alunos marchando ao som de suas fanfarras. É uma festa cívica. É uma festa com o objetivo de lembrar a data em que o povo brasileiro conquistou a liberdade e ficou livre da opressão de Portugal.
Os anos se passaram, o Brasil experimentou várias formas de governo, passou por períodos duros sem nenhuma liberdade de expressão, e chegou a uma democracia em que, por meio do voto, o povo escolhe seus representantes. Os desfiles cresceram, e atualmente outros segmentos da sociedade participam desta grande festa, que em algumas cidades chega a durar horas e reunir milhares de pessoas. Volto a pensar no objetivo. Povo liberto, povo sem amarras políticas, povo independente e soberano. Pena que existam algumas nódoas que tiram o brilho desta data. Uma delas é a corrupção em todos os cantos, tanto no poder público quanto no privado.
Vemos diariamente na mídia notícias sobre ministérios envoltos até o pescoço em escândalos de todos os tipos, empresas prestadoras de serviços faturando quantias escandalosas em todos os segmentos, desde obras de infraestrutura como estradas, pontes, passando por escolas, estádios de futebol, enfim são desvios de dinheiro público em todos os cantos deste Brasil. O Tribunal de Contas da União faz sorteios das cidades e obras a serem checadas, pois é impossível controlar tudo e na esmagadora maioria descobre irregularidades. Após essa constatação, entram na fila das averiguações, e no emaranhado jurídico de um sistema feito para não dar em nada. Em seguida, aparece outro escândalo maior e o anterior cai no esquecimento.
Assim vamos seguindo e o Brasil vai crescendo aos olhos do mundo. É um crescimento muito desigual, muito maquiado, como um grande desfile de 7 de setembro. Muitos morrem nas portas dos hospitais, milhares nas mãos de bandidos que tomaram conta das grandes cidades, onde existem arrastões até em restaurantes, mas o desfile não pode parar. Fico imaginando um desfile diferente, onde mostrassem os problemas que afligem a nossa cidadania, não só as belezas dos aviões fazendo malabarismos, soldados e estudantes com novos uniformes, em formação, marchando ao som de bandas afinadas.
Gostaria de ver um pelotão representando a corrupção, outro a falta de segurança, mais um mostrando a situação das escolas e hospitais e, por fim, um grande batalhão de verdadeiros brasileiros como eu gritando por justiça, educação, segurança e mudanças que nos deem motivos para sentir orgulho de nosso país. Talvez, assistindo a esse desfile, lá no alto dos palanques, possa estar entre os políticos e autoridades um grande brasileiro ou brasileira que se lembre do real sentido dessa comemoração, se sensibilize pela demonstração de amor à pátria desses homens do povo e tome a decisão de dar um basta nesta situação.
* É escritor (www.celiopezza.com), com formação acadêmica em química e administração de empresas. Nascido em Araraquara, interior de São Paulo, Célio mora atualmente em Veranópolis, no Rio Grande do Sul. Suas obras são: A Nova Terra (1999 – Brasil); O Conselho dos Doze (2000 – Brasil); The Seven Doors – em inglês (2006 by Trafford Publishing, Canadá-USA-UK); As Sete Portas (2008 – Brasil) ; Ariane (2008 – Brasil); A Palavra Perdida (2009 – Brasil).
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