É possível ganhar eleição com uma campanha exclusivamente negativa? Até porque nas mais “notáveis” realizações tucanas, cinismos à parte – e por realizações entenda-se tudo o que não é factóide ou omissão ou desacontecimento – o sinal também se inverte, uma vez que constituem exclusivamente empreendimentos negativos, pois ideologicamente – em tese e na prática – seus políticos atuam contra os interesses da população que os elege. Eis a fórmula tucana da “boa gestão”: a aplicação literal do subcapitalismo desigual e combinado – que combina a iniquidade do atraso com a truculência do progresso. Ou seja, a tecnologia do futuro em retrocesso!
E a nunca por demais esquecida omissão ou desinformação ou mentira descarada ou manobra divergente ou contramedida ou denuncismo anacrônico que campeia criminosa e impunemente via jornalões, vejas, blogs, rádios e tevês associados ao PIG Inc. E como Serra trata o não-PIG? A tapa (vide episódio ocorrido esta semana com minha xará, Márcia Peltier). Deu ontem no Datafolha: Dilma (51%) ganha de Serra (27%) no primeiro turno. Então no vale-tudo do Zé, perdido por perdido, truco!
Daí que, de “olhar armado”, caçadoramente, começa-se a garimpar pela imprensa informações aqui e ali, e pouco a pouco a realidade começa a emergir – bela e horrível, banal, gravíssima, definitivamente inexorável:
Estadão de 14/4
“Anunciando a quem passasse: “Sou a mulher do Serra e vim pedir seu voto”, Mônica Serra esteve na tarde de hoje em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Acompanhada do candidato a vice, Índio da Costa (DEM), a mulher de Serra partiu para o ataque à petista Dilma Rousseff. A um eleitor evangélico, que declarou voto em Dilma, Mônica Serra afirmou que Dilma é a favor do aborto. “Ela é a favor de matar as criancinhas”, disse ao vendedor ambulante Edgar da Silva, de 73 anos.“
UOL Notícias de 15-09
“Documentos revelam falhas em ‘maternidade de referência’ em SP. Documentos internos assinados por médicos e gestores do Hospital [estadual] Maternidade Leonor Mendes de Barros, na zona leste de São Paulo, mostram que, apesar dos prêmios de gestão e do rótulo de unidade referência (???), sofrem com a falta de infraestrutura, superlotação e são obrigados a improvisar procedimentos para evitar a morte de pacientes – nem sempre com sucesso. A seguir, alguns exemplos de apelos – inúteis – feitos pelos médicos ao governo estadual de José Serra, relatados à reportagem da UOL:
(1) “Saliento a necessidade urgente de uma unidade de terapia intensiva nesta instituição para que os profissionais possam trabalhar com mais segurança…” ;
(2) “Na entrada do plantão, não havia sequer macas para retirar pacientes da sala de obstetrícia”;
(3)“É desumana a situação em que a direção do hospital nos deixa diariamente nesta maternidade dita de ‘alto risco’. Não vou repetir o que dizem e escrevem neste livro nos últimos 19 anos que convivo e trabalho neste C.O. (Centro Obstétrico) sem UTI, escreveu um médico no domingo, 30/08/agosto de 2009, referindo-se a uma paciente cujo atendimento foi prejudicado pela falta de materiais como cateter central e lâmina de ventilação. Mesmo diagnosticada com choque hemorrágico, ela ficou aguardando durante cerca de seis horas por uma vaga em uma UTI, obtida somente em região distante. “A paciente foi transferida para o Hospital Cachoeirinha, e não sei se ela está viva”, complementa o médico, pedindo providências da direção.”
(4) “Em 20 de junho de 2009, situação semelhante é relatada: Histerectomia total puerperal de paciente por choque hemorrágico + atonia uterina + coagulopatia. Paciente transferida para a UTI do Hospital Geral de Sapopemba, evoluindo para óbito na chegada do mesmo”, diz o registro médico, assinado por um profissional do hospital.”
Mas nada como um salutar feed back a fim de melhor caracterizar este Serra tão cinicamente insalubre.
Recuerdos pedagógicos
Carta Maior de 21/04/2010
“O pré-candidato tucano à presidência da República, José Serra (PSDB) saiu do armário esta semana em Minas Gerais e, durante encontro com empresários prometeu, entre outros pontos:
1) desmontar o legado de Lula;
2) acabar com o PAC, uma vez que não passa de “um monte de obras”;
3) paralisar o país para “rever” todos os contratos federais assinados durante o governo Lula;
4) abolir o Mercosul e mudar totalmente a política externa para uma orientação no estilo subordinado de FHC;
5) mudar a atual Fundação Nacional de Saúde – Funasa – , muito criticada por ele, para repetir o que fez quando ministro da Saúde de FHC, entre 1998 a 2002.
E o que ele fez condensa, em pequena dimensão, o que promete agora repetir, em escala ampliada, se for eleito.”
Modestamente, eis o que ele fez:
“I) Serra assumiu o ministério em 31 de março de 1998, em meio a uma epidemia de dengue e prometeu uma guerra das forças da saúde contra a doença;
II) iniciou então o desmonte que ameaça agora repetir;
III) primeiro, ignorou as linhas de ação e planos iniciados por seu antecessor, o médico Adib Jatene;
IV) em nome de uma descentralização atabalhoada, transferiu responsabilidades da Funasa, Fundação Nacional de Saúde, o órgão executivo do ministério, para prefeituras despreparadas e sem sincronia na ação;
V) Em junho de 1999, Serra demitiu 5.792 agentes sanitários contratados pela Funasa em regime temporário, acelerando o desmonte do órgão, em sintonia com a agenda do Estado mínimo;
VI) um mês depois, em 1º de julho de 1999, o procurador da República, Rogério Nascimento, pediu à Justiça o adiamento da dispensa dos 5.792 mata-mosquitos até que as prefeituras pudessem treinar pessoal; pedido ignorado por Serra.
VII) Em 5 de agosto de 1999, num despacho do processo dos mata-mosquitos, a juíza federal Lana Maria Fontes Regueira escreveu: “Estamos diante de uma situação de consequências catastróficas, haja vista a iminente ocorrência de dengue hemorrágica”.
VIII) O epidemiologista Roberto Medronho, diretor do Núcleo de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, completaria: ‘”A descentralização da saúde não foi feita de forma bem planejada. O afastamento dos mata-mosquitos no Rio foi uma atitude irresponsável”
IX) em abril de 2001, a Coordenação de Dengue do município do Rio previu uma epidemia no verão de 2002 com grande incidência de febre hemorrágica. A sugestão, contratar 1.500 agentes e comprar mais equipamentos de emergência, foi ignorada por Serra.
X) O ano de 2001 foi o primeiro em que os mata-mosquitos da Funasa, dispensados por Serra, não atuaram . A dengue, então, voltou de forma fulminante no Rio: 68.438 pessoas infectadas, mais que o dobro das 32.382 de 1998, quando Serra assumiu o ministério.
XI) Em 2002, já candidato contra Lula, Serra era ovacionado em vários pontos do país aos gritos de ‘Presidengue!’. Justa homenagem à sua devastadora atuação na saúde pública.”
A propósito, voltando a Mônica Serra: li não sei onde que quando ela esteve em campanha pelo marido em Curitiba, alguém a ouviu comentar junto à comitiva tucana: ”Bolsa-Família? Somos totalmente contra esse assistencialismo. No começo, o Serra vai deixar, depois será abolida pouco a pouco…”.
Pois é, minha cara, escrúpulo é para pobre, e bonzinho morre na praia, não é mesmo?
É isso aí: perdido por perdido, truco!