Se você foi no primeiro dia útil do ano, terça-feira, almoçar no Feitiço Mineiro, um tradicional restaurante de Brasília, encontrou somente o barzinho do restaurante aberto. A patuléia não podia entrar no restaurante propriamente dito, que estava fechado à disposição do PT. Lá, o deputado Ricardo Berzoini comemorava sua volta à presidência nacional do PT. A re-posse de Berzoini representa a retomada do poder no partido pelo núcleo duro paulista de José Dirceu e Marta Suplicy.
Gosto dos dois, mas é uma turma que tem um estilo próprio. Por exemplo: o de fechar restaurante. Cubro política há anos e não morro de amores pela direita, mas nunca vi o PFL fechar um restaurante. Nos eventos do partido, os jornalistas podiam disfarçar-se de clientes da casa, sentar numa mesa, almoçar e tentar ouvir as conversas da mesa principal. Quem sabe, puxar um papo com uma fonte. Coisas simples assim, que são fundamentais no exercício da democracia. Mas o núcleo duro paulista não entende disso. Aliás, não vai aí nenhum preconceito, é o mal dos paulistas na política. O tucano José Serra – de quem gosto pessoalmente – também curte um apartheid contra jornalistas.
Mas, voltando ao PT de São Paulo: o núcleo paulista retomou o controle do partido e se unificou. A candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), a presidente da Câmara, contra a reeleição de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) é uma conseqüência desse acerto no PT paulista. Aldo é o candidato da coligação: saiu das hostes do PCdoB, do PSB, de uma parcela do PMDB, do PP, etc.
O PT de Dirceu e Marta sentiu que, se os coligados se unem, eles tomarão cada vez mais espaço no governo. Espaço que caberia ao PT. Daí decidiu lançar Chinaglia, tentar avançar sobre o PMDB e rachar os partidos aliados. É essa a briga que está ocorrendo agora na Câmara.
Por trás dela tem outra briga: a da reforma no PT. Lula quer mudar o partido. Tentou fazê-lo colocando Tarso Genro como presidente interino durante a crise do mensalão. Tarso falou em refundação, punições ao PT do Marcos Valério e logo foi defenestrado do comando do partido pelos aliados de José Dirceu. Depois veio a história dos aloprados. Lula recomendou a saída de Ricardo Berzoini do comando do partido. Esperava-se que ele passasse o bastão definitivamente a outro petista qualquer. Mas Dirceu, Marta, o vice-presidente do PT, Jilmar Tato, enfim, o núcleo duro paulista, resolveu reempossar Berzoini.
Trata-se de uma demonstração de força. O núcleo paulista está informando a Lula quem de fato manda no partido. Uma demonstração fundamental num momento em que se disputa espaço na reforma ministerial. Se o PT entra fraco, perde ministérios, cargos, espaços para os aliados PMDB, PSB, PCdoB, etc. Se entra forte, preserva espaços. Marta, por exemplo, quer o Ministério das Cidades.
Os paulistas também querem a pasta da Educação e, quem sabe, a presidência da Caixa Econômica Federal, etc, etecetera.
É essa guerra que está fazendo o presidente Lula adiar a reforma ministerial. De certa forma chegou a hora de Lula decidir se ele é paulista – o PT paulista! – ou se ele é mais amplo.