Levantamento da ONG Transparência Brasil afirma que o custo anual de cada senador é de R$ 33,4 milhões. A ONG chegou a esse valor através de um simples cálculo, dividindo o valor anual do orçamento do Senado Federal (R$ 2,7bi) pelo número de senadores (81). A notícia, assim posta, caracteriza manipulação grosseira com objetivo de causar impacto na sociedade. É um velho instrumento de distorção que produz desinformação à população e repúdio à classe política. Tenho o orgulho de afirmar que em mais de 40 anos como comunicadora multimídia, nunca precisei lançar mão desses instrumentos para criticar desmandos nos legislativos.
Minhas informações sempre chegaram ao leitor, ouvinte ou telespectador, de forma responsável, sem sensacionalismo. Durante a minha carreira, tive a preocupação de levar aos meios de comunicação informações capazes de subsidiar a reflexão do interlocutor, sem nunca induzir a formação de uma opinião pré-concebida. É isso que pretendo continuar fazendo.
A afirmação da Transparência Brasil não leva em conta que boa parte da estrutura de funcionamento do Senado independe do ordenamento dos senadores. Existem estruturas que são próprias do legislativo, que precisam funcionar para o bom atendimento dos cidadãos e para o pleno funcionamento das instituições democráticas. O cálculo feito pela ONG e a notícia produzida inclui o funcionamento da TV Senado, da Rádio Senado, do site, da Secretaria Geral da Mesa, do Interlegis, da gráfica, da limpeza, e de dezenas de outras estruturas. Quanto custaria um ministro do STF se a Transparência Brasil aplicasse o mesmo critério que usou para avaliar o custo de um senador, ou seja, dividir por 11 o orçamento total da Suprema Corte. E quanto custaria a Presidenta da República se fizesse o mesmo exercício matemático?
No Senado Federal, cada senador é responsável pelo funcionamento do seu gabinete, e tem a obrigação republicana de zelar pelos princípios que norteiam a administração pública: lisura, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Este é o meu primeiro mandato, e fiz questão de estruturar o gabinete parlamentar sob a égide desses princípios. Em meus gabinetes, em Brasília e Porto Alegre, trabalham 21 servidores. Todos cumprem rigorosa rotina de trabalho com metas e avaliação de desempenho. Toda a equipe é orientada a economizar material de expediente, e o uso de passagens, combustível e ressarcimento de alimentação é restrito à atividade parlamentar. Estão dispensados do ponto eletrônico apenas o motorista, o assessor especial e o chefe de gabinete.
Nas últimas semanas circularam notícias sobre a troca dos veículos funcionais e a compra de Iphones para uso pelos senadores. Também críticas ao salário dos parlamentares. O salário de um senador é menor do que o salário do chefe de gabinete, concursado do Senado.
No exercício do mandato, optei por dispensar o auxílio moradia, pois já tenho residência própria em Brasília. Também não utilizarei o Iphone, entregue ao assessor especial, uso um blackberry e pago o serviço. Mesmo assim, não deixo de me sentir incomodada com notícias que denigrem o trabalho parlamentar. Deveriam, sim, cobrar ética e responsabilidade dos senadores e deputados, e não se preocupar com a marca do telefone que é utilizado. O exercício da atividade parlamentar exige contato permanente com as bases, e para isso o telefone é fundamental. A troca dos veículos funcionais é necessária, sim, pois a frota é antiga (oito anos) e necessita de constantes reparos. A manutenção de carros antigos é onerosa.
Procuro ser uma senadora atuante. Participo de seis comissões permanentes, uma comissão temporária (Reforma Política), diversas subcomissões e frentes parlamentares. Como muitas reuniões acontecem concomitantemente, preciso correr de uma para outra, pois não tenho o dom da onipresença. Trabalho, em média, doze horas por dia dentro do Congresso, e quando chego a minha casa ainda preciso me preparar para o dia seguinte. Nos finais de semana, visito as bases, pois é necessário conhecer os problemas do estado que represento, assim como é necessário ouvir as pessoas, suas sugestões, e buscar alternativas.
No setor privado, certamente teria uma remuneração maior. Teria todos os finais de semana para visitar minha família, descansar, ler e ir ao cinema. Mas um político não é movido por suas aspirações pessoais, e sim, pelas aspirações coletivas. Um bom político não usa seu tempo buscando soluções para seus problemas pessoais, mas soluções para problemas sociais e econômicos. Um bom político não exerce a atividade por profissão, mas sim, por estar vocacionado à representação e aos compromissos assumidos com os eleitores.
A mídia deve refletir sobre seus valores para que o Brasil tenha à frente da política suas melhores mentes. A conquista da democracia já foi cara demais para os brasileiros, e o Congresso Nacional é a instituição que garante a sua manutenção.