Rafael Godoi |
Para o diretor-executivo da organização não-governamental Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, o elevado número de acusações contra parlamentares deve ser atribuído, em grande parte, aos próprios partidos políticos. Os dados levantados pelo Congresso em Foco reforçam, segundo Abramo, a urgência de avanços nas reformas institucionais e de se repensar a relação entre os poderes. A falta de critério e a facilidade com que as legendas partidárias acolhem candidatos com histórico de corrupção tornam o cenário pouco favorável para o eleitor na hora do voto, na avaliação dele. “Isso indica toda a fraqueza desse partido”, avalia. Apenas cinco dos 16 partidos com assento no Congresso não têm, entre seus representantes, congressistas investigados por algum delito. Procuradas pela reportagem, as lideranças das siglas com maior número de parlamentares sob investigação preferiram não se pronunciar. Uma das principais frentes de atuação da organização especializada no combate à corrupção é no cerco aos chamados crimes eleitorais. Pesquisa divulgada recentemente pela Transparência Brasil revela que 9% dos eleitores brasileiros receberam oferta de dinheiro ou bem material em troca de voto nas eleições municipais do ano passado. Entre as investigações abertas contra parlamentares no Supremo, 13% delas estão relacionadas a denúncias por comércio de votos. Abramo relaciona o alto nível de corrupção nas eleições ao elevado volume de ações que aguardam julgamento no STF contra parlamentares. “Esse nível elevado de corrupção compromete a legitimidade das eleições. Em alguns estados, a compra de voto se transformou numa indústria criminosa. O eleitor precisa se conscientizar que o candidato que compra voto é o mesmo que rouba os cofres públicos”, ressalta. “O número de ações e o teor das acusações são simplesmente absurdos e mostram que falta consciência à maioria do eleitorado, que desconhece o candidato em que vota”, analisa. O volume e a gravidade das denúncias também demonstram, segundo o diretor-executivo da Transparência Brasil, que boa parte dos envolvidos não age sozinha e representa interesses de grupos. “É preciso esclarecer a sociedade que esses não são casos isolados. Os casos de corrupção envolvem verdadeiras quadrilhas que tem como único interesse o desvio de recursos públicos. Uma prática lesiva para toda a sociedade”, analisa. Além de cobrar uma ação mais rápida da Justiça, Abramo diz que é preciso caminhar em outras direções. Em sua avaliação, a administração pública precisa ser modernizada, pois só com sistemas mais eficientes de controle será possível reduzir práticas de corrupção na esfera pública com o desvio de verbas e o pagamento de propinas. |
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