Heitor Peixoto*
Antes de uma reforma política de fato, é preciso iniciar uma reforma dos políticos. E impressiona como mesmo na tentativa de se consertar finalmente a política nacional, os principais atores do processo (principais, porque não devem ser os únicos), de saída, já pensem em criar rotas de fuga, ou de escapadelas.
A janela que se pretende implantar para o troca-troca partidário sem consequências legais (leia-se perda de mandatos) por si só atenta contra a moralidade do todo. É uma reforma que já começaria viciada pela lógica dos espertalhões.
Paralelamente, a criação de um partido como mero trampolim para a já arquitetada fusão com outro (isenta de danos) é outro soco na boca do estômago da decência. Enfim, não dá para se ser meio ético ou meio justo.
E antes de uma reforma dos políticos, urge uma reforma do próprio povo. A política, e principalmente a escolha dos políticos, precisam deixar de ser um assunto alienígena ao grosso da população. Feito isso, poderíamos começar a acabar com algumas aberrações com as quais compactuamos com a nossa alienação.
Recorro brevemente à simplicidade complexa das palavras do filósofo Will Durant, citando Platão: Platão reclama que, enquanto em assuntos mais simples como a fabricação de sapatos achamos que só uma pessoa especialmente treinada atenderá à nossa finalidade, na política partimos do pressuposto de que todo aquele que sabe conseguir votos sabe administrar uma cidade ou Estado. Quando ficamos doentes, chamamos um médico formado, cujo diploma é uma garantia de preparação específica e competência técnica. Não mandamos chamar o médico mais bonito ou o mais eloquente; muito bem, quando todo o Estado está doente, não deveríamos procurar o serviço e a orientação do mais sábio e do melhor?.
Tomo a liberdade de responder: sim, e isso passa pela educação, mas uma educação humanista, que desencadeasse uma profunda transformação cultural; que extirpasse de cada um de nós, brasileiros, duas coisas: a máxima de se querer levar vantagem em QUALQUER situação, e o desgraçado entendimento de que isso é bom.
Quem nunca saboreou aquele gostinho de passar para a frente, por um preço razoável, algo que sabidamente valesse menos, como um carro já batido ou uma velha motocicleta bichada? Pode parecer um exemplo menor ou pouco expressivo. Mas a alta corrupção que se vê lá na ponta não é mais do que a evolução dessa velhacaria que começa em cada um de nós.
Por que será, caro leitor, que não há saques nas áreas japonesas devastadas por terremotos e tsunamis? Em vão que não é.
Tragicamente, relembro agora do velho e indefectível anedotário popular. Diz a lenda que, quando Deus criava o mundo, um pequeno querubim o observava. No momento em que o Todo-Poderoso desenhava a região correspondente ao Brasil, o pequenino o interrompeu: Mas Pai, um lugar tão rico, de natureza tão exuberante, de tão abundantes recursos naturais, praticamente isento de catástrofes naturais…. Deus então pôs no rosto um generoso sorriso com a curiosidade do pupilo, e, num suspiro, disse: Espera só para ver o povinho que eu vou por ali.
*É repórter da TV Assembleia MG. www.twitter.com/heitor_peixoto