Fábio Góis
Imagine uma fina placa de metal de mais de 50 centímetros viajando a partir de cerca de cinco metros de altura até, digamos, a testa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Até agora, tal atentado político involuntário – que certamente machucaria muito o senador atingido – não aconteceu. Mas o risco existe. O teto do plenário projetado por Oscar Niemeyer tem várias placas de metal, que servem para refletir a luz, criando um bonito efeito visual. São cerca de 150 mil delas. E várias já se despregaram e caíram desde o início do ano. Embora até agora as placas não tenham atingido ninguém, a possibilidade é grande, numa sala que, em sessões mais concorridas, chega a reunir centenas de pessoas.
Esse e outros riscos detectados num espaço que já completou 50 anos levaram o Senado a resolver fazer uma reforma completa no plenário do Senado. A Secretaria de Engenharia do Senado (Seng) identificou todos os problemas e as necessidades de reforma. O problema será o custo da obra, que custará de cerca de R$ 5 milhões aos cofres públicos.
As providências da Secretaria-Geral vêm com meses de atraso: a precariedade das instalações do plenário já havia sido apontada por este site, em reportagem exclusiva publicada no dia 5 de julho. O próprio primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), subiu à tribuna do plenário para advertir sobre o risco de queda das placas, bem como da necessidade de substituição da rede elétrica.
Confira:
Plenário do Senado vira a sala dos perigos
“Já caíram várias placas”, informou à reportagem o diretor da Seng, Adriano Bezerra de Faria. “Estamos fazendo um trabalho com base nas orientações da Secretaria-Geral da Mesa”. Segundo o projeto da reforma, cada uma das placas de metal será removida e reinstalada.
Segundo o diretor, são três os principais problemas do plenário, além da ameaça de queda das placas. “O tratamento acústico do plenário é com revestimento de lã de vidro, e ele está soltando”, destacou, acrescentando que o material é “cancerígeno”. “Além disso, a iluminação não atende às novas tecnologias”, emendou Adriano, para quem a reforma atenderá à chamada “iluminação cênica”, que exige sistema “LED” de iluminação (Diodos Emissores de Luz, na sigla traduzida para o português).
O terceiro problema apontado pelo serviço de engenharia se refere à temperatura, por vezes elevada para os trabalhos legislativos. “Os equipamentos de ar-condicionado não têm peça de reposição. A vida útil deles já está ultrapassada há muito tempo”, concluiu Adriano, estimando a conclusão dos trabalhos de reparo para fevereiro de 2011, quando serão reabertas as atividades legislativas do Congresso.
Niemeyer
A reforma será integralmente acompanhada pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional (Iphan), devido ao fato de que o prédio do Congresso, na condição de patrimônio tombado, deve ter o projeto original resguardado. Segundo a Agência Senado, a Seng iniciou o estudo da reforma em agosto – mês seguinte à publicação da reportagem do Congresso em Foco.
A instalação das placas de metal extrapola o mero objetivo ornamental. Idealizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o equipamento promove efeito ótico no ambiente, reduzindo a luminosidade ao “quebrar” a luz emitida pelas lâmpadas espalhadas pelo plenário.
A equipe de manutenção do Senado aproveitará os dias de recesso eleitoral para adiantar os trabalhos. O plenário não é palco de votações desde a primeira semana de setembro, quando foi realizado o chamado “esforço concentrado”. De lá para cá, o recinto tem sido usado apenas para discursos.
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