Ricardo Borges Martins e Emygdio Carvalho Neto *
Independentemente de sua posição sobre as atuais manifestações, o coro está correto: os protestos que ocorrem em São Paulo não são unicamente por um aumento de R$ 0,20 na tarifa do transporte público. Entre todas as reivindicações, o que levaremos dessas manifestações é a absoluta falta de diálogo entre sociedade civil e Estado. A decadência declarada de nosso sistema de representação.
A onda de manifestações materializa os pensamentos do cientista político Carlos Melo: “…diz respeito a um mundo que se transformou tecnológica, econômica e socialmente de um modo vertiginoso, mas que não soube – ainda não soube – criar canais efetivos de discussão e representação política; de conciliação de interesses, de resolução do mal-estar; não soube compreender setores que não se sentem mais representados; ou pior: que são representados por ninguém”.
É bem verdade que existem outros motivos – talvez maiores – para ir às ruas protestar, como nos casos do mensalão, da PEC 37 – que ameaça tirar poderes de investigação dos Ministérios Públicos –, dos aumentos infinitos de salários de parlamentares, entre outras situações que possam nos indignar. Mas o que fica claro com a manifestação é um pulsante sentimento de revolta frente a algo não muito bem explicado; sentimento que esses últimos vinte centavos fizeram transbordar.
Com a repercussão cada vez maior dos protestos, novas agendas começam a lutar por espaço nas pautas da imprensa. Os vinte centavos passam a ser tratados como “a gota” e todos se apressam em mostrar quanta água há nesse bendito copo.
Fato é que o que era um protesto contra o aumento da passagem se transformou em uma soma heterogênea de manifestações – tão legítimas quanto diversas. Vemos ali manifestações partidárias, manifestações contra a violência da Polícia Militar, manifestações em favor da gratuidade do transporte público, e principalmente manifestações pelo próprio direito de manifestar, pelo direito de ser ouvido. Tudo isso despertando debates públicos fundamentais, que vão desde a qualidade do transporte público até a clássica discussão entre Mercado versus Estado, mas que acabam ofuscados pelos holofotes no caos ou pelo extremismo de opiniões.
Nossa reflexão, dentro do movimento Eu Voto Distrital (#EVD) é questionar: “de que forma o voto distrital poderia mudar este cenário? Será que se houvesse uma comunicação direta e permanente entre representantes e representados, teríamos o tal aumento? Será que haveria protestos como estes? Como seria a resposta do poder público”?
PublicidadeSeria impossível responder com precisão a essas perguntas, porém, vale observar o que ocorre em outros países, onde o sistema eleitoral é baseado no Voto Distrital – França, Estados Unidos, Inglaterra, etc. O fato de usarem o sistema majoritário para eleições legislativas não impede que haja protestos e manifestações, nem mesmo que medidas políticas impopulares sejam tomadas. No entanto, o que podemos dizer é que existe uma grande diferença entre os processos por lá e os que ocorrem aqui no que diz respeito à comunicação. O sistema eleitoral do voto distrital cria canais de comunicação entre os cidadãos e seus parlamentares.
O que isso significa? Com o voto distrital você teria uma ferramenta muito mais poderosa para cobrar o seu parlamentar (seja deputado ou vereador). Tomando os protestos como exemplo: se realmente não queremos um aumento na tarifa, independentemente das forças políticas, podemos sim cobrar de nossos vereadores uma solução diferente ou pelo menos uma explicação.
Por mais que os aumentos sejam decididos pelo poder Executivo, os nossos representantes têm um papel fundamental no processo de decisão: eles são porta-vozes dos interesses da população na esfera política. Você sabe o que pensa o vereador que você elegeu sobre esse tema? Como ele tem se posicionado, e o que tem feito a respeito das manifestações?
Por isso, se você deseja uma política mais representativa onde você, cidadão, consiga ser mais ouvido, apoie o voto distrital! Achamos digno ir às ruas e lutar por aquilo que a sociedade deseja – da mesma forma que repudiamos qualquer ato de violência. Esperamos que estes acontecimentos estimulem ainda mais as pessoas a refletirem e lutarem por pautas cada vez mais importantes à sociedade.
* Mobilizadores sociais do Movimento Eu Voto Distrital (#EVD). Acesse: www.euvotodistrital.org.br.