Quem nunca pensou, por um instante que seja, em viajar no tempo? É claro que sempre haverá quem diga eu não, afinal toda regra tem sua exceção, mas se eu tivesse um milhão de dólares apostaria que a maioria esmagadora das pessoas já pensou em como seria interessante ver os dinossauros, acompanhar seu momento ou personagem histórico preferido, rever pessoas queridas que já se foram, reverter atitudes de que se arrepende, enriquecer com informações privilegiadas ou descobrir o que os próximos anos reservam a nossos descendentes. Eu, pessoalmente, já me imaginei várias vezes no passado e no futuro. E sempre que posso (ou que encontro), assisto filmes e leio livros sobre o assunto.
Uma das primeira obras literárias (e certamente a mais famosa) a propor o conceito de viagem no tempo é A Máquina do Tempo, escrita em 1895 pelo escritor britânico H. G. Wells. O livro, que teve sucesso instantâneo na Inglaterra e ajudou a consolidar a ficção científica como estilo literário, conta a história de um homem (conhecido apenas como O Viajante do Tempo) que cria uma máquina capaz de viajar pela quarta dimensão e acaba indo parar no ano 802.701. Lá, ele encontra a sociedade dividida em duas raças, uma pacífica e dócil (os Elois, descendentes da burguesia), outra violenta e beligerante (os Morlocks, descendentes do proletariado). Ao mostrar a difícil convivência entre ambas, o livro agrega a fantasia a uma crítica às enormes desigualdades sociais da época (e que, infelizmente, não mudaram muito de lá para cá).
A Mulher do Viajante no Tempo, da norte-americana Audrey Niffenegger, é outro livro que conquistou uma legião de leitores por todo o mundo. Os romances de amor estão longe de ser meu estilo literário preferido, mas considero o livro uma verdadeira obra de arte, com uma história original, criativa, muito bem desenvolvida e de uma sensibilidade que poucas vezes tive oportunidade de ver. Já recomendei a obra a várias pessoas, a dei de presente a tantas outras e sempre escutei as críticas mais favoráveis. O livro mostra a relação entre um casal (Henry e Claire) que, além de todas as dificuldades inerentes aos relacionamentos, precisa lidar com o fato de Henry ter uma doença genética que o faz deslocar-se no tempo, de forma imprevisível, sem que ele tenha controle do destino (normalmente momentos importantes de sua vida e do casal no passado ou no futuro). Devido às viagens, o casal vive as situações mais inusitadas (por exemplo: a primeira vez que Claire vê Henry, ela é uma criança e ele, um cinquentão. Já a primeira vez que Henry vê Claire, ele tem 20 anos e ela, 18) e mostra que o amor pode vencer qualquer barreira (neste caso, inclusive o tempo).
Há pouco mais de um mês, li O Mapa do Tempo, do espanhol Felix J. Palma. Engoli o livro, cheguei inclusive a sacrificar horas de sono de tão agoniado para chegar logo ao final. O romance é passado em 1896, um ano após o lançamento de A Máquina do Tempo, e reúne personagens fictícios e figuras históricas, como Jack, o Estripador, Júlio Verne, Bram Stoker, Henry James e o Homem Elefante. As viagens no tempo tornaram-se realidade e sonho de consumo de grande parte da conservadora sociedade vitoriana. O livro tem como base três histórias que se entrelaçam: Andrew Harrington quer voltar no tempo e impedir a morte da amada. Claire Haggerty quer buscar nova vida no ano 2000. E H. G. Wells quer evitar que um homem lhe roube a autoria de um romance. Fiquei hipnotizado pelo livro e sou mais um fã declarado da história, que já foi traduzida para mais de 25 países e venceu prêmios importantes, como o Ateneo de Sevilla, na categoria melhor romance.
Epílogo
A Máquina do Tempo ganhou duas versões hollywoodianas, uma em 1978 e outra em 2002. O segundo filme foi dirigido pelo bisneto de H. G. Wells, Simon Wells, que tem no currículo diversos filmes de animação, como O Príncipe do Egito, Um Conto Americano 2 Fievel vai para o Oeste e Os Dinossauros voltaram. O livro de Audrey Niffenegger também virou filme em 2009 e foi lançado no Brasil com o nome Te Amarei para Sempre.
Audrey Niffenegger tem presença confirmada na 15a Bienal do Livro do Rio de Janeiro, que será realizada de 1o a 11 de setembro, no Riocentro. A escritora vem lançar no Brasil seu segundo livro, Uma Estranha Simetria, que não é sobre viagem no tempo, mas também tem seu lado sobrenatural.
Vários outros livros que abordam viagens no tempo viraram bestsellers, entre eles a coleção Outlander, de Diana Gabaldon, O Restaurante no Fim do Universo, de Douglas Adams, os infanto-juvenis Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban, de J. K. Rowling, e Viajar no Tempo, de Angie Sage, e os diversos Operação Cavalo de Tróia, de J. J. Benitez.
LIVROS CITADOS
A Máquina do Tempo, de H. G. Wells (1895)- Editora Alfaguara
A Mulher do Viajante do Tempo, de Audrey Niffenegger (2003)
Editora Suma de Letras
O Mapa do Tempo, de Félix J. Palma (2008)
Editora Intrínseca