É impressionante como tudo parece dar errado numa campanha quando seu candidato começa a perder terreno para o adversário. É como se algum fenômeno começasse a embotar a inteligência das pessoas fazendo com que os estrategistas cometam erros inacreditáveis. Nas eleições passadas, houve a armadilha do PT em cima de Geraldo Alckmin sobre a privatização das estatais. Alckmin engoliu a isca e reagiu vestindo aquele inesquecível macacão amarelo cheio de adesivos de Petrobras, Banco do Brasil, etc. Parecia o Rubinho Pé de Chinelo do Casseta & Planeta. O eleitor não perdoou: Alckmin cometeu a façanha de ter menos votos no segundo turno do que tivera no primeiro.
A novela do PSDB sobre o vice de Serra é uma dessas histórias inacreditáveis que não se consegue entender como avança, nem como cada desdobramento parece ser pior que o momento anterior. Os eleitores de Dilma Rousseff não param de dar risada.
Para os aliados de Aécio Neves no PSDB, é uma estratégia errada desde o início. Se a cúpula do PSDB tivesse permitido a disputa interna que Aécio pregava poderia ter dado uma outra dinâmica à hoje capenga campanha de Serra. Se no final do ano passado, ou no início deste ano, tivesse acontecido a prévia que Aécio propôs, o PSDB teria conseguido com ela criar um fato para neutralizar o amplo espaço favorável a Dilma que ela obteve nesse período. Quando o presidente Lula pôs Dilma debaixo do braço e correu com sua candidata pelo Brasil inaugurando obras, o PSDB ficou parado, vendo o governo criar fatos que a imprensa – por mais boa vontade que tenha por Serra – não podia ignorar. A prévia geraria um fato paralelo, que concorreria com as inaugurações-comícios de Lula e de Dilma. Primeiro erro.
Se a disputa interna no PSDB acontecesse de forma civilizada e democrática, talvez ela acabasse por gerar o ambiente para se criar a tal chapa dos sonhos. Ao final de uma disputa democrática à qual perdesse, Aécio poderia, então ceder, e tornar-se o vice de Serra. A cúpula tucana não permitiu a disputa e impôs Serra. Aécio foi derrotado em seus pontos de vista, atropelado. Não houve a verificação da sua tese de que nas bases teria mais votos que Serra. Como a cúpula tucana foi imaginar que num processo assim, de imposição, Aécio simplesmente abaixaria a cabeça e aceitaria calado a ordem seguinte, de se tornar vice de Serra? Segundo erro.
Depois que anunciou que estava fora da disputa interna, Aécio não deu qualquer sinal de que poderia vir a aceitar ser o vice de Serra. Pelo contrário, todas as vezes em que foi abordado sobre isso, ele deixou claro que seria candidato a senador. Mas a cúpula do PSDB ficou se comportando como se não ouvisse esses avisos. Adiou ao máximo a escolha. Foi para a convenção sem definir o vice. Quando, afinal, admitiu que a chapa dos seus sonhos não aconteceria, passou uma impressão de derrota. O que, na verdade, era uma alternativa que nunca se verificou de fato virou uma opção frustrada. Esperando por um Aécio que qualquer brasileiro medianamente informado sabia que não viria, o PSDB perdeu tempo na construção de uma alternativa. Terceiro erro.
Durante oito anos, PSDB e DEM formaram a dupla de ataque da oposição brasileira. Foram os únicos partidos de expressão no país que não entraram para o governo Lula. A união desses dois partidos na disputa pela sucessão de Lula é uma coisa natural na cabeça de qualquer eleitor que se opõe ao governo. É uma aliança que não causa estranheza nenhuma. Mas o PSDB resolveu ter vergonha dela. Principalmente depois da torrente de bolsas e meias do mensalão comandado em Brasília pelo ex-governador José Roberto Arruda. O PSDB poderia ter reforçado o discurso adotado pelo DEM, de que tomou providências rápidas, expulsou Arruda, condenou os envolvidos. Em vez disso, começou a ter vergonha do DEM, embora aceitasse de bom grado os mais de dois minutos de acréscimo no tempo de TV que o parceiro lhe dava. Primeiro, tentou atrair como vice o senador Francisco Dornelles, do PP. Para, então, escolher Alvaro Dias sem consultar o DEM (ou deixando para consultar o DEM por último sem controlar o vazamento da escolha, feito primeiro por Roberto Jefferson, do PTB, e depois por Roberto Freire, do PPS).
Em respeito aos leitores, não reproduzirei aqui os palavrões que ouvi pelo telefone ontem (28) pela manhã, numa conversa com um dos principais integrantes da cúpula do DEM. Àquela altura, ele me dizia que não haveria hipótese de o DEM recuar e aceitar Alvaro Dias como o vice de Serra. Menos que a escolha do nome, que a turma do Democratas também considera errada, o problema maior foi o método. “Eles acham que nós vamos aceitar quietos entrar na campanha pela porta dos fundos? Eles que vão…”, dizia o democrata por telefone.
O DEM sempre deixou claro que aceitaria uma chapa pura tucana se ela fosse Serra e Aécio, ou vice-versa. Aliás, a primeira pessoa a falar nessa hipótese foi o ex-presidente do partido Jorge Bornhausen. “Agora, organizar uma chapa para disputar uma eleição presidencial com o propósito de resolver uma questão eleitoral no Paraná, é o fim da picada”, reclama o dirigente do DEM. “É o oposto do que vem fazendo o PT. Para garantir a aliança com o PMDB, eles enquadraram diretórios como o do Maranhão. Escolher o Alvaro Dias para resolver a campanha do Paraná parece coisa de quem já acha que perdeu a eleição presidencial”, ataca.
E, aí, se é para entrar numa campanha derrotada por baixo, o DEM já considera de fato a hipótese de ficar de fora, sem se comprometer com uma campanha em que é posto cada vez mais no papel de coadjuvante. “É claro que essa alternativa é ruim para nós. Mas é péssima para eles”, avalia o dirigente do DEM. Pelos cálculos da Justiça eleitoral, o DEM tem praticamente o mesmo tempo de TV que o PSDB. Sem o DEM, Dilma, com as alianças que fez, ficará com nada menos que 68% do tempo total da propaganda eleitoral. “Chegar a uma situação dessas revela espírito autoritário, falta de inteligência e incompetência total”, conclui o dirigente do DEM. Nem nos seus melhores sonhos Dilma poderia imaginar tanta lambança.