Marcelo S. Tognozzi*
O PT anunciou no fim de fevereiro, oito meses antes da eleição, que mobilizará 500 mil militantes para a campanha digital de Dilma. Eles terão a missão de distribuir na rede material favorável à candidata e ao mesmo tempo falar mal dos adversários. Da maneira como o projeto está sendo formatado, pode ter problemas para decolar. Os principais motivos: começou atrasado demais, carece de orçamento específico, não indica que terá unidade de linguagem nem rotina, batendo de frente com o projeto Dilma Paz & Amor elaborado pelo competente João Santana, o Patinhas, marqueteiro oficial da campanha.
Dilma não tem presença pessoal nas redes sociais, ao contrário de Marina Silva e José Serra, que começaram a trabalhar ainda no primeiro semestre do ano passado. Serra, por exemplo, chegou aos 165 mil seguidores no Twitter, com os quais interage todos os dias. Dilma não tuita. Marina Silva está no ar desde abril de 2009 e apenas o Movimento Marina Silva Presidente, montado na plataforma ning, conta com 13.500 apoiadores e 300 grupos de discussão.
O PT imagina que a campanha digital será uma guerra de informação e contrainformação, como admite o secretário nacional da legenda André Vargas. Campanha digital não é uma guerra. Ao contrário, é a busca de um diálogo permanente com o eleitor, a interatividade e a troca de informações. WEB 2.0. Do jeito que está sendo concebida, a campanha de Dilma corre o risco de virar spam. Aliás, até agora as iniciativas digitais dos companheiros se mostraram desastrosas, como o Blog Dilma Presidente que andou batendo duro na “mídia golpista” e em jornalistas considerados anti-petistas. Por tudo isso, o PT pode acabar pregando para convertidos ao invés de conquistar apoios e votos para Dilma.
Estas ações de mobilização não necessitam de exércitos para dar certo. Precisam, sim, de um grupo de inteligência, capaz de produzir conteúdo de qualidade com alto grau viral e que será postado por uma equipe treinada, capaz de interagir e dar respostas eficientes aos questionamentos de eleitores e até de adversários. Isso não é um trabalho para poucos meses. É uma jornada longa, como aparentemente entenderam José Serra e Marina Silva. De uma maneira geral, é espantoso que as campanhas dos presidenciáveis não tenham previsto (pelo menos não divulgaram nada ainda) ações voltadas para celular (mobile marketing). Temos 170 milhões de linhas em funcionamento, das quais cerca de 85% são de pré-pagos.
A sociedade costuma estar muito à frente dos políticos. Ela muda muito antes. O eleitor das classes C, D e E entre 18 e 35 anos, por exemplo, não fala no seu pré-pago. Ele escreve. Até hoje, os políticos não entenderam direito como funciona essa comunicação. Muitos, talvez a grande maioria, nem abre seus e-mails. Manda a secretária imprimi-los. Nesta eleição, o papel da internet e das novas mídias ainda não será decisivo, devido à nossa baixa inserção digital. Mas em 2012 será muito diferente, e em 2014 mais ainda, porque as ferramentas digitais para a campanha desta próxima corrida presidencial ainda nem foram inventadas.
Os 500 mil militantes do PT não podem transformar Dilma num avatar, como no Second Life, e sair por aí falando por ela. Antes deles, a própria Dilma tem de se engajar na campanha digital como fez Obama nos EUA e Fernando Gabeira no Brasil. E deve ter a consciência de que internet é para sempre; não acaba dia 3 de outubro.
* Marcelo S. Tognozzi é jornalista, diretor da A+B Comunicação