Embolou de vez a eleição para prefeito de São Paulo. E, embolada a eleição de São Paulo, embola-se o nosso futuro político. Porque o jogo que se jogará em outubro na capital paulista vai muito além da definição de quem governará a maior cidade do país a partir do ano que vem. A partir do resultado ali, duas coisas poderão acontecer: ou o PSDB encontra fôlego para continuar como principal contraponto do PT no páreo nacional, ou pode acabar demolido de vez.
Se fosse uma mesa de pôquer, PT e PSDB estariam a essa altura ambos com uma sequência boa de cartas, mas nenhum dos dois teria nas mãos um royal straight flush. Ambos já teriam colocado na aposta uma quantidade riquíssima de fichas na mesa. E arriscavam-se no tudo ou nada agora sem poder recuar, mas também sem ter certeza se têm ou não uma cartada nas mãos melhor que a do adversário. Perde quem piscar primeiro.
Primeiro, a jogada petista. O PT poderia ter partido para a disputa com um nome de maior potencial eleitoral. A senadora Marta Suplicy (PT-SP) parece o nome mais óbvio. Pela vontade do ex-presidente Lula, preferiu como candidato o ex-ministro da Educação Fernando Haddad. Já escrevi aqui: Haddad, em São Paulo, é sua “Dilma de calças”. Se Haddad vencer as eleições, novamente será pelo fato de ser o nome indicado por Lula. A indicação de Lula – as pesquisas apontam para isso – é fator importantíssimo, com potencial de ser mesmo definidor, na eleição paulistana.
Mas Haddad não é exatamente Dilma. Tão desconhecido da maior parte do eleitorado quanto ela era no início da corrida presidencial, Haddad parece perder em alguns fatores. Primeiro, não é mulher, o que adicionou no caso de Dilma um importante ingrediente a seu favor naquela disputa. Em segundo lugar, não parte para a corrida eleitoral com a mesma imagem de administradora competente que Dilma forjou como ministra da Casa Civil de Lula. A imagem de Haddad está ligada ao polêmico Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), o vestibular nacional que deu problemas em todas as suas edições. Problemas que certamente serão explorados na campanha.
E, quando foi escolhido, a hipótese colocada não era de uma disputa contra José Serra. O tucano, é certo, tem alta taxa de rejeição. Mas é também quem aparece disparado como favorito nas pesquisas.
Se Haddad vencer as eleições, o PT conquistará o último grande feudo do PSDB. Matará os tucanos no que é a raiz de ambos os partidos. E se o adversário for Serra, a derrota vai ser ainda mais estrondosa. Serra será triturado, demolido. É difícil imaginá-lo com fôlego para alguma outra coisa depois disso. Se Gilberto Kassab estiver na chapa, como quer Lula, ficarão ainda destruídas as hipóteses futuras de aliança dos tucanos. Por outro lado, tal aliança envolve um preço de pragmatismo, de realpolitik, que nem todos os petistas parecem aceitar sem fortes engulhos.
É, assim, uma cartada das mais arriscadas por parte do PT. Porque Serra é o favorito nas eleições, de acordo com todas as pesquisas. E a coisa, a essa altura, virou uma questão de honra para os tucanos, que sabem o risco que correm no jogo que está sendo jogado. Passemos, então, à cartada do PSDB.
Serra queria ser carta fora do baralho nestas eleições municipais. Primeiro, por conta de todos os riscos que corre quanto ao seu futuro político no caso de uma derrota. Segundo, para se preservar como alternativa para a Presidência da República caso Aécio Neves – como ele aposta – não emplaque. Diante da magnitude do que significaria uma derrota para o PSDB nestas eleições paulistanas, está sendo pressionado a aceitar ser candidato. E está cedendo à pressão. Sua mão de cartas é melhor que a do PT? Nem ele mesmo sabe.
E sua entrada resolve todos os problemas? Tardia, por conta da sua própria hesitação, a entrada de Serra interromperá outras pretensões. Fará o PSDB desistir – ou tornar uma farsa – o processo de prévias que vendia como um avanço democrático. Reações a essa hipótese já pipocam forte no tucanato.
Serra, pelo que declara o próprio Kassab, neutralizaria, caso entrasse, a adesão do prefeito de São Paulo à candidatura petista. Mas a essa altura ainda seria possível a Kassab, diante do quanto já foi, recuar completamente e aderir de cabeça à campanha de Serra? Diante das conversas que já teve, inclusive com a presidenta Dilma Rousseff. Diante das alianças que o PSD já fechou com o PT em outras eleições municipais. Com que potencial eleitoral de fato na definição da disputa ele entraria na chapa de Serra?
Quem passa? Quem paga pra ver?