(Antes de mais nada, um aviso: a partir desta semana, por questões logísticas, a coluna de meio ambiente do Congresso em Foco será veiculada toda terça-feira. O jornalista Rudolfo Lago, por sua vez, passa a brindar o leitor com suas colunas toda quinta-feira)
Se as disputas ambientais nos bastidores da política brasileira já estavam acirradas, agora devem esquentar. As repercussões do discurso de posse da presidente eleita Dilma Rousseff, no que tange à responsabilidade ambiental do Brasil, ultrapassaram o plano nacional e tudo indica que a pressão internacional sobre o país que detém maior parte da floresta mais cobiçada do mundo deve aumentar.
Depois de a ex-adversária de campanha e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva destacar o discurso de Dilma e dizer que, nas colocações da petista, “ecoou o sinal dado pela sociedade sobre a valorização do desenvolvimento sustentável”, foi a vez do editor do site britânico BusinessGreen, James Murray, destacar e enfatizar a visão verde da nova presidente brasileira.
No artigo “President Rousseff vows to step up Brazil’s green revolution” (Presidente Rousseff promete intensificar a revolução verde no Brasil – livre tradução), publicado na semana passada, James Murray, um dos principais comentaristas do Reino Unido sobre economia de baixo carbono, analisa que, pelo discurso da presidente eleita, pode-se dizer que o Brasil está mais próximo de alcançar o que ele chama de “revolução verde”.
Não fica claro no texto o que Murray quer dizer com a “revolução verde”: se seria uma retomada a um conceito do passado, que diz respeito à disseminação de novas práticas e tecnologias agrícolas – que permitem um vasto aumento da produção agrícola no país –, ou se ele se referia a uma revolução a partir de uma economia de baixo carbono (com prioridade para redução de emissão de gases poluentes). Pelo perfil do britânico, parece mais preciso apostar nesse último conceito.
O discurso de Dilma impactou o comentarista britânico, que não costuma muito destacar o Brasil em seus artigos. Ao colocar como “uma missão sagrada do Brasil a de mostrar ao mundo que é possível um país crescer aceleradamente, sem destruir o meio ambiente”, ou ainda, enfatizar que “defender o equilíbrio ambiental do planeta é um dos nossos compromissos nacionais mais universais”, a presidente eleita parece ter impressionado o articulista.
A impressão, no entanto, não parece ser apenas uma admiração, e sim, um alerta no sentido de que “estamos de olho em você, Brasil, e vamos estar vigilantes em relação a suas decisões políticas ambientais”. Murray deixa a entender no artigo que linha a linha do discurso da presidente brasileira foi analisada.
Murray encerra seu texto com uma frase confusa, mas que sinaliza no sentido de maior pressão internacional. O editor do BusinessGreen destaca que Dilma coloca como prioridade a “rápida expansão dos aeroportos” no Brasil, mas informa que “o Brasil vai precisar se esforçar para frear o crescimento rápido das emissões”, pois o aumento das emissões brasileiras de gases do efeito estufa na atmosfera está alimentando os receios globais.
Do ponto de vista ambiental, o discurso da nova presidente surpreendeu. Afinal, Dilma nunca foi uma fiel defensora das causas ecológicas, tendo sido protagonista, inclusive, de uma das maiores gafes ambientais, num dos mais importantes eventos mundiais da defesa verde.
Sem a popularidade de Lula e com o aumento das pressões internacionais, Dilma terá que ter mais do que belas palavras, pois não só de discurso vive o homem político. Ações e decisões de governo também terão que efetivamente levar em conta a economia de baixo carbono. Se ficar só no discurso, a revolução verde no Brasil não vai acompanhar o que o mundo espera dela e o país não será protagonista nos fóruns multilaterais, como prevê Dilma no discurso.
Veja aqui a íntegra do artigo de James Murray (em inglês)