Lúcio Lambranho e Eduardo Militão
Mais da metade dos 20 prefeitos que concorrem este ano à reeleição arrecadou mais do que seus adversários, de acordo com a primeira prestação de contas divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Treze deles conseguiram mais receita por meio de doações de pessoas físicas e de empresas do que os concorrentes, segundo os dados registrados até a última sexta-feira (15).
Na contabilidade geral, a campanha de quem busca a reeleição começa bem mais tranqüila em relação à de quem tenta chegar ao comando de uma das capitais dos 26 estados brasileiros. Em média, os 20 prefeitos candidatos arrecadaram R$ 355,9 mil e os outros 142 concorrentes, R$ 81,3 mil.
Ou seja, os prefeitos arrecadaram quatro vezes mais do que seus adversários diretos. No saldo, a diferença entre as receitas e despesas declaradas até aqui pelos atuais prefeitos é de R$ 130 mil contra míseros R$ 444 dos demais postulantes.
Somente os 20 prefeitos candidatos arrecadaram juntos R$ 7,1 milhões contra R$ 11,5 milhões dos outros 142 candidatos em disputa nas capitais. A diferença entre receita e despesa também favorece os candidatos que tentam a reeleição. Os prefeitos têm uma sobra de caixa de R$ 2,6 milhões e os seus adversários têm só R$ 63 mil para gastar.
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No total, todos os 162 candidatos a prefeito nas capitais arrecadaram R$ 18.670.538,14. Como já gastaram R$ 15.987.943,82, conforme declaração feita à Justiça eleitoral, têm, portanto, um saldo positivo de R$ 2.682.594,32.
RECEITAS E DESPESAS DAS CAMPANHAS
MÉDIA DE ARRECADAÇÃO
Saiba quanto cada candidato declarou
ter arrecadado e gastado até agora
A menos de dois meses das eleições, 37 candidatos a prefeito de capital, cerca de 23% do total, informaram à Justiça eleitoral que não arrecadaram nem um real por enquanto.
Outros 39 candidatos, 24%, declararam não ter nenhum gasto na campanha até agora. E metade dos 162 candidatos ainda tem sobra de caixa, enquanto outros 62 gastaram tudo que já arrecadaram – têm saldo zero. Outros 19 (12%) estão com as contas negativas, ou seja, já gastaram mais do que arrecadaram.
Campanhas mais caras
Entre os 13 candidatos à reeleição com mais dinheiro arrecadado, oito deles encabeçam as pesquisas eleitorais divulgadas até agora, como já mostrou outro levantamento do site. São eles: os prefeitos Cícero Almeida (PP), de Maceió, João Coser (PT), de Vitória, Iris Rezende (PMDB), de Goiânia, Nelson Trad Filho (PMDB), de Campo Grande, Ricardo Coutinho (PSB), de João Pessoa, Silvio Mendes (PSDB), de Teresina, Beto Richa (PSDB), de Curitiba, Edvaldo Nogueira (PCdoB), de Aracaju.
Além disso, outros dois candidatos à reeleição estão em segundo lugar no volume de recursos. O atual prefeito de Manaus, Serafim Corrêa (PSB), está em segundo na arrecadação entre os seus cinco adversários. Mas Serafim declarou já ter gasto exatamente o que arrecadou, R$ 282.900,00. Ou seja, não há sobras no seu caixa de campanha. Ele só ficou atrás de Omar Aziz (PMN), com R$ 850.000,00 de arrecadação e um total de R$ 778.953,34 em gastos.
Em Palmas, o atual prefeito, Raul Filho (PT), tem situação idêntica ao colega de Manaus. Ele está em segundo, com R$ 122.143,00, mas gastou exatamente o que arrecadou e também precisa de mais doações para continuar a campanha. Em primeiro lugar na capital do Tocantins, em termos de arrecadação, está o candidato do PV, Marcello Lelis, que também está com o caixa zerado, por já ter gasto R$ 166.514,25.
E em Natal (RN), a candidata e deputada federal Fátima Bezerra (PT), apoiada pelo atual prefeito, Carlos Eduardo Alves (PSB), também está em segundo lugar em arrecadação. Ela declarou ao TSE uma arrecadação de R$ 74 mil contra despesas de R$ 71.651,50. Na sua frente, está Micarla de Souza (PV), com R$ 210.015,00, mas que gastou menos, R$ 68.315,73.
“Diabo novo, não”
“Eu acho isso natural. Quem é fornecedor quer continuar fornecendo. A possibilidade de mais quatro anos de governo, com obras públicas e licitações em andamento, faz muita gente apoiar os candidatos à reeleição”, avalia David Fleischer, professor da pós-graduação em Ciência Polícia da Universidade de Brasília (UnB). Segundo o cientista político, em 2006, o mesmo fenômeno de arrecadação maior foi registrado com os governadores candidatos à reeleição.
O professor da UnB diz que é preciso haver maior fiscalização sobre as doações e a prestação de contas dos candidatos, já que é muito difícil chegar a um consenso na discussão sobre o financiamento público de campanha, principalmente com relação ao valor a ser dividido entre os candidatos.
A estimativa de distribuir R$ 1 bilhão, conforme se cogita, não seria suficiente para bancar as campanhas dos candidatos. Fleischer também lembra que o Fundo Partidário destinado ao caixa dos partidos e à campanha eleitoral gratuita no rádio e na TV já é bancado pelos cofres públicos. “Por isso, é preciso ampliar a fiscalização das contas e do caixa dois, pois a reeleição também é importante. Sem isso, o eleitor não tem como avaliar o desempenho dos prefeitos”, diz.
O cientista político e dono da consultoria Early Warning, Alexandre Barros, também acredita que naturalmente os prefeitos na poder atraem mais doações de campanha do que seus adversários até mesmo pelo que ele chama de inércia ou resistência dos empresários e dos doadores em mudanças. “As pessoas querem ficar com o diabo que conhecem e não com um diabo novo. As coisas precisam ficar muito ruins numa administração ou a promessa dos outros candidatos têm que ser muito maiores para que isso se altere”, avalia Barros.
No caso da disputa em São Paulo, o cientista político faz uma ressalva, considerando que o atual prefeito Gilberto Kassab (DEM) tem a maior arrecadação, R$ 2,6 milhões, mas está a 15 pontos da ex-prefeita Marta Suplicy (PT), como indica a última pesquisa do Ibope. “Neste caso, vamos saber somente no dia da votação se vale mais o dinheiro para fazer campanha ou vários pontos na frente na pesquisa eleitoral”, diz.
A candidata do PT na capital paulista fica bem atrás de Kassab nesse quesito, com R$ 780.778,08 de receita declarada na primeira parcial divulgada pelo TSE. Ela tem gastos de R$ 413.396,79, o que lhe dá uma receita em caixa de R$ 367.381,29. Já o atual prefeito, que declarou gastos de R$ 1.665.481,43, acumula uma sobra de R$ 984.418,57.
Histórico de reeleições
Os dados acima mostram que as chances daqueles que estão no cargo são maiores, caso seja levado em conta o volume de recursos para gastos com as campanhas. Talvez por isso que, de acordo com levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), 76,9% dos administradores municipais tentarão um novo mandato nestas eleições.
Pelo estudo, apenas 8,2% dos prefeitos que se candidataram à reeleição em 2000 e 2004 foram vitoriosos nas urnas. Mas nas principais cidades dos estados, como nas capitais cujos dados o Congresso em Foco levantou, o desempenho foi melhor.
Em 2004, oito dos 11 prefeitos de capitais que tentaram a reeleição conseguiram renovar o mandato por mais quatro anos. Em 2000, quando os prefeitos tiveram a primeira oportunidade de serem reconduzidos ao cargo, 16 dos 23 candidatos à reeleição obtiveram êxito nessas cidades.
Os dados usados pelo site fazem parte da parcial de gastos que todos os candidatos precisam declarar sob pena de não conseguir a diplomação mesmo em caso de vitória nas urnas.
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