Recentemente, uma jornalista perguntou para uma senhora moradora de uma cidade satélite de Brasília em quem ela votará para presidente da República no próximo dia 3 de outubro. A senhora, muito humilde, respondeu, sem hesitar: “Vou votar na mulher do Lula, a Vilma”. A Vilma – que não é a mulher do Fred Flintstone, pai da Pedrita e do Bamm Bamm – se chama Dilma e é conhecida como “a mulher do cara”, sendo o cara, o presidente Lula, que foi chamado de “o cara” por Barack Obama, presidente dos Estados Unidos.
Dilma-Vilma lidera as pesquisas de intenção de voto com vantagens consideráveis em relação aos seus principais concorrentes. Ao que tudo indica, a mulher do cara deve vencer as eleições no primeiro turno, a não ser que haja alguma surpresa… Apesar do favoritismo, Vilma tem perdido nos últimos dias pontos para a mulher que não é do cara, mas que já participou do governo do cara: a ex-ministra do Meio Ambiente e candidata do PV, Marina Silva.
Pesquisa do Datafolha, divulgada nesta semana, mostra que Marina tem crescido nas pesquisas entre eleitores que têm maior escolaridade e renda. Dos eleitores com ensino superior entrevistados, enquanto Vilma perdeu cinco pontos percentuais, Marina Verde cresceu quatro. Houve crescimento da candidata do PV também entre os que têm maior renda familiar mensal. A petista do cara perdeu sete pontos percentuais e a candidata do PV ganhou seis.
O crescimento da candidata do PV nas intenções de voto já era esperado pelos envolvidos na campanha de Marina, segundo afirma o presidente regional do PV no Rio de Janeiro, Alfredo Sirkis. Entusiasmado com o crescimento da candidata verde também por estado, Sirkis assegura que o partido tem esperanças de Marina ir para o segundo turno. Segundo o Datafolha, a candidata do PV ultrapassou, no Distrito Federal, o principal adversário de Dilma – o candidato do PSDB, José Serra, o Zé, como ele prefere ser chamado – e cresceu entre eleitores do Rio de Janeiro e de São Paulo.
“A gente já vinha prevendo, há um certo tempo, esse crescimento. São eleitores de um PT light, que se identificam mais com a Marina do que com Dilma. Mas esse é um segmento que por si só não será suficiente para ultrapassar o Serra e forçar um segundo turno, porém ele serve de detonador, é uma espoleta”, disse Sirkis, adiantando que o partido vai reforçar a campanha entre “mulheres pobres e o povo cristão”.
Sirkis tem razão. Para abrir fogo contra o adversário, os votos da elite, por si só, não são suficientes para definir uma eleição presidencial. O que define é o voto dos mais de 100 milhões de brasileiros que sairam da pobreza, beneficiados com programas sociais implementado no governo do “cara”. Marina, então, para fazer a diferença e ir para um segundo turno, teria que crescer entre fiés seguidores do cara que estão instalados nas camadas mais baixas da população. E aí é que mora o desafio.
No último debate entre os presidenciáveis, realizado pela Rede TV e pela Folha de S. Paulo, a jornalista Patrícia Zorzan fez uma pergunta emblemática, que revela o tamanho do desafio do Partido Verde. A jornalista questionou se Marina achava viável dizer aos brasileiros da classe C – que hoje são mais 100 milhões de pessoas, a maioria delas saiu há pouco tempo da linha de pobreza e agora começa a consumir – que, em nome da sustentabilidade do planeta, eles não poderão comprar como sempre sonharam.
A resposta de Marina foi efusiva: “As pessoas não precisam deixar de viver bem para proteger o meio ambiente e os recursos naturais. Aliás, para se viver bem, e continuar tendo condições de consumir, é fundamental que se tenha biodiversidade, terra fértil, água potável, ar puro. Essa concepção equivocada de opor meio ambiente a desenvolvimento é que precisa ser banida da face da Terra. O problema é que uma boa parte dos políticos e dos partidos, o PT e o PSDB, têm uma visão equivocada do desenvolvimento”.
Consumo e preservação ambiental ainda são colocados pela maioria dos brasileiros em lados antagônicos da balança do desenvolvimento – ainda que de lado opostos estejam, na verdade, o consumismo e a preservação. Se eu tivesse que apostar nas razões para Marina ainda não ter decolado nestas eleições, diria que a falta de teto para a candidata verde alçar voos maiores é porque, primeiro, ela não é “a mulher do cara”. E, segundo, justamente pela falta de compreensão que a maior parte da população tem sobre o discurso da sustentabilidade, bandeira número um da campanha do PV.