Disse o inspirado poeta Cacaso que moda de viola não dá luz a cego. Mesmo assim, o bom companheiro Igor Fuser, doutor em Ciência Política pela USP, faz uma louvável tentativa de iluminar os caminhos da esquerda brasileira, no artigo “Quem derrubou Dilma?”.
Ele questiona “um ponto de vista que tem como centro o conceito de burguesia interna e a tese de que os governos Lula e Dilma seriam a expressão política de uma frente neodesenvolvimentista, liderada por essa suposta fração de classe em aliança com setores da classe trabalhadora”.
Para os fragorosamente derrotados em 2016, que fogem da imprescindível autocrítica como o diabo da cruz, “a derrubada do governo teria sido (…) produto de uma ofensiva política de uma fração burguesa oposta a essa, a burguesia associada, aproveitando-se de um contexto de crise da frente neodesenvolvimentista impulsionada, sobretudo, pelas dificuldades econômicas que se intensificaram a partir de 2012/2013”.
Fuser vai em direção contrária: “Quem deu o golpe de Estado em 2016 foi a burguesia, e não uma fração específica dessa classe social. Não foi simplesmente a burguesia associada (ao imperialismo) e sim a burguesia em bloco, como classe unida por interesses comuns que transcendem os interesses específicos de frações, grupos, setores, empresas e indivíduos”.
Que o Fuser tem carradas de razão, é o chamado óbvio ululante! Fiquei chocado, contudo, ao constatar que até hoje existe uma esquerda Carolina (o tempo passou na janela e só ela não viu…) acreditando numa balela oportunista de meados do século passado, que foi simplesmente pulverizada, em termos práticos, pelo golpe de 1964; e em termos teóricos, pela minha geração revolucionária (a de 1968).
Tal empulhação servia para esquerdistas obcecados pelo poder a qualquer preço (inclusive como sócios minoritários dos capitalistas) justificarem as alianças espúrias que mantinham com uma parcela dos inimigos de classe, cujos resultados foram os previsíveis: na hora H, a burguesia se colocou todinha contra eles. Mas, como a lição da História não foi bem assimilada por alguns lerdos de raciocínio, acabamos de assistir à aula de reposição…
Essa gente parece não ter lido sequer A revolução brasileira, de Caio Prado Jr., um livro de 1966 que já demonstrara irrefutavelmente inexistir qualquer segmento burguês com o qual revolucionários devessem aliar-se, daí a tarefa fundamental ser, então como agora, combatermos implacavelmente a burguesia, sempre priorizando o fim da exploração do homem pelo homem.
Publicidade
O tempo passou na janela e só o PT não viu…