Uma grande inovação irá ocorrer nos próximos anos com a instalação de redes inteligentes de energia elétrica. Ela permitirá a qualquer indivíduo ou entidade controlar seu consumo de energia, e, ao mesmo tempo, gerar eletricidade por meio de painéis fotovoltaicos ou micro-geradores eólicos, vendendo-a para a empresa de distribuição.
Uma pessoa pode planejar transformar o telhado de sua casa em fonte de geração de eletricidade. Municípios podem ajudar os cidadãos no processo de adaptação ao consumo planejado, e também podem desenvolver uma estratégia de produção e venda de eletricidade, como fonte de receita para os cofres públicos. Frutos econômicos, e políticos, serão colhidos por quem planejar antecipadamente.
O sistema será viabilizado por duas inovações: medidores de eletricidade inteligentes e painéis fotovoltaicos de geração elétrica. Junto com isso vem uma nova estrutura tarifária.
O primeiro passo será a instalação de novos medidores de eletricidade, para residências, estabelecimentos comerciais e industriais atendidos em rede de baixa tensão. Os tradicionais medidores de luz darão lugar a esses medidores inteligentes, equipados com chip eletrônico, e conectados à Internet. Este sistema é chamado de smart grid, ou rede elétrica inteligente.
Em cada medidor será possível ver o total consumido por uma unidade consumidora (uma casa, um edifício etc.) em qualquer momento do dia, chegando-se a ponto de ser possível identificar o quanto cada aparelho dentro daquela unidade consumiu. Por exemplo, será possível saber o quanto cada chuveiro da casa consumiu, e o valor exato acrescido na conta porque se deixou o aparelho de ar condicionado em uma temperatura mais baixa, ou o aquecedor mais quentinho.
No Brasil, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) está em fase final de definição dos critérios de funcionamento para esse tipo de medidor. A partir desse momento, a indústria poderá dar início à fabricação dos medidores que atendam às especificações estabelecidas pela Agência.
O segundo ponto vem com uma nova forma de cobrança da conta de luz para consumidores conectados em baixa tensão. A Aneel aprovou, em novembro passado, uma nova estrutura tarifária de distribuição de energia. Assim como ocorre com o custo da telefonia, será facultado ao consumidor de energia em baixa tensão optar por uma tarifa diferenciada em que haverá um horário de pico, mais caro, e outros dois períodos do dia com tarifação diferenciada, mais barata.
Em uma conversa recente, André Pepitone, diretor da Aneel, disse-me que esse sistema levará os consumidores a um uso mais eficiente de eletricidade, podendo ter redução real da fatura de energia ao final do mês, e que o sistema elétrico pode reduzir cerca de 5% do total da energia consumida no país no horário de maior demanda, que é conhecido pelos especialistas do setor como horário de ponta. Segundo André Pepitone, a implantação das redes inteligentes é inevitável, dado os benefícios que elas podem trazer para todas as partes. A questão é encontrar as melhores práticas.
Nos EUA, a cidade de Boulder (estado do Colorado), é a primeira cidade smart grid do mundo. Em cinco anos, as reclamações dos moradores sobre problemas com energia (que já deviam ser poucas) foram reduzidas em 90%, segundo a prefeitura local.
Por aqui, alguns municípios já planejam a instalação desse sistema: Búzios (RJ), Parintins (AM), Aparecida do Norte (SP) e Sete Lagoas (MG) estão desenvolvendo projetos pilotos desses sistemas.
As prefeituras devem se preparar para orientar os cidadãos na instalação dos medidores inteligentes, facilitando a economia de energia nos lares, que pode diminuir o valor da conta de luz de maneira expressiva. Estima-se que possa ocorrer uma redução de cerca de 30%.
O sistema inclui baterias que podem guardar energia, para consumo posterior, ou para abastecer um carro elétrico, por exemplo. Medida sustentável que, aliada ao etanol, reforça a característica renovável da matriz energética brasileira. Com a implementação dos smart grid, qualquer edificação – casas, fábricas, edifícios públicos – pode abrigar painéis fotovoltaicos, produzir energia elétrica e injetá-la na rede das distribuidoras onde estão conectadas.
Ou seja, além da redução de consumo propiciada pela mudança de hábitos induzida pelo medidor inteligente, será possível gerar energia localmente, uma verdadeira revolução para os consumidores de energia elétrica residenciais.
Em um telhado, em qualquer área livre, será possível instalar painéis fotovoltaicos, que captam energia solar, e gerar eletricidade em quantidades substanciais. Essa tecnologia está acoplada ao smart grid. Em um futuro não muito distante, os carros elétricos devem se tornar uma opção comercial, especialmente para quem pode abastecê-los na sua própria casa!
Além da geração elétrica individual, os municípios poderão ter suas próprias usinas, ou construí-las, por meio de parcerias público-privadas. Uma usina fotovoltaica particular já está em operação no município cearense de Tauá, e outra, também particular, está em fase de projeto em Coremas, município da Paraíba.
Neste momento, a energia fotovoltaica ainda possui custo elevado, mas assim como ocorreu com a energia eólica, nos próximos anos os valores da energia fotovoltaica também tendem a baixar, e devem entrar no orçamento dos brasileiros.
O Fórum Econômico Mundial fez uma boa explicação sobre o funcionamento do smart grid, que está disponível, em Inglês, no endereço http://www.youtube.com/watch?v=N8jqbKd8hVg.
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