Tempos atrás, li um pensamento de um autor desconhecido, que dizia: “Pequenas portas muitas vezes levam a grandes quartos”, e foi pensando nisso é que comecei a analisar o que vem ocorrendo em minha vida.
No final do ano de 2007, fiz, juntamente com minha esposa, uma viagem incrível de motocicleta, quando, em 27 dias, cruzamos o norte do Paraguai, o norte da Argentina, o deserto do Atacama, no Chile, até atingir o Pacífico, em Antofagasta. Margeando-o, descemos até Santiago, de onde iniciamos a viagem de volta, agora pelo centro do Chile, centro da Argentina, até a tríplice fronteira, em Foz do Iguaçu, de onde retornamos a Campo Grande, MS, nosso local de partida.
Nunca imaginei que pudesse, em uma única viagem, fazer tantas descobertas, dos países por onde passamos, sua história, sua gente, paisagens e sobre mim mesmo, minhas curiosidades, angústias e desejos.
Num percurso total de 9.680 quilômetros, a variedade de tipos humanos, animais e vegetais, de culturas e educações, de paisagens e climas, fertilidade ou aridez do solo, sobra ou falta de água, planícies, cordilheiras e salares é tão grande que seria impossível, para mim, lembrar de todas as diferenças que pude observar.
Até o modo de reverenciar uma pessoa falecida é diferente, pois em uma cultura nota-se simplesmente uma cruz de madeira no local onde ela faleceu e, em outra, construções de cercas, bandeiras e faixas vermelhas adornam o local, sendo que, no deserto, garrafas de água estão ali deixadas, como que para saciar a sede dos que por lá passam.
Curiosa também é a dificuldade de nosso corpo em enfrentar a variação abrupta de altitudes com a consequente rarefação do oxigênio e as curiosas saídas encontradas pelos habitantes locais, como o hábito de mascar folhas de coca, que também podem causar uma grande indisposição estomacal para os não acostumados e inclusive levá-los a passar a noite em um hospital, como ocorreu com minha esposa, além da angústia de estar em solo diferente do que nasceu, sem conhecer ninguém ou sequer falar corretamente o idioma local, e passar por esse imprevisto.
A curiosidade dos jovens nas viagens é bastante diferente da dos que têm mais idade, que, como eu, estava muito mais interessado em saber sobre a história, o número de habitantes, a altitude, a principal atividade econômica, a industrialização ou produção agrícola local, a alimentação, a música e outras coisas sobre hábitos locais, do que buscar por shoppings, compras ou algo assim.
Essa diferença de interesses entre viagens ao exterior realizadas quando se está próximo dos vinte ou após os cinquenta anos é enorme, como também a percepção clara de que viagens, sejam dentro ou fora do país, são imprescindíveis para o crescimento humano.
Nas viagens, podemos claramente observar o que sabemos e o quanto ainda temos de aprender, seja sobre qual for o tema, descobrimos novas saídas e opções encontradas pelas pessoas para a sua realidade cultural, econômica e do melhor meio de sobrevivência no ambiente onde se vive, seja frio ou quente, alto ou baixo, pântano ou deserto, sempre podemos aprender algo, simples ou bastante complexo, que provavelmente poderemos utilizar em nossas vidas, ou transmitir essa experiência a quem dela possa necessitar.
Pequeno demais é o mundo em que vivemos, mas ilimitado se simplesmente abrirmos a pequena porta que nos separa do mundo de aprendizagem que está ao lado.
* Produtor rural, articulista e palestrante sobre assuntos ligados ao agronegócio e conflitos agrários