João Steiner
Na década de 1930, os estudantes que se graduavam na Universidade de Stanford, na Califórnia, precisavam deixar a região de São Francisco para encontrar trabalho. Um professor da universidade, também pró-reitor, o engenheiro Frederik Terman, concebeu um programa para resolver o problema. Encorajou os cientistas e engenheiros recém-formados a montarem seus próprios negócios, em uma área próxima à universidade, e buscou capitalistas interessados em investir em empresas novas e de produtos promissores.
Em 1939, dois ex-alunos de Terman instalaram o primeiro negócio na área. Os sobrenomes deles: Hewlett e Packard. A HP foi a primeira empresa fundada no que viria a se tornar, nos anos 1950, o Parque Industrial de Stanford – ou, como é conhecido atualmente, o Vale do Silício. Por iniciativa de Terman, só puderam se instalar ali empresas de alta tecnologia. Nasceram lá, ainda estão lá ou se mudaram de lá milhares de empresas, como Intel, AMD, Agilent, Adobe, Apple, Google, Xerox…
O Vale do Silício é um parque tecnológico. Talvez o mais famoso entre as centenas ou milhares hoje em funcionamento, e muito bem-sucedido em seu objetivo principal: gerar empregos e riqueza por meio da aplicação de conhecimento a produtos e serviços com valor tecnológico agregado.
Desde a época de sua implantação, parques tecnológicos se espalharam pelo mundo – na mesma velocidade com que o conhecimento se tornou, mais e mais, a matéria-prima da competitividade. A importância crescente da inovação baseada em conhecimento para a sobrevivência das empresas levou muitos países a se organizarem para instalar seus "Vales do Silício".
A realidade mostrou o acerto dessa política. Hoje, os Estados Unidos têm 81 parques. A China, 64. Países menores não ficaram atrás: Israel tem 27; a Finlândia, 23; a Espanha, 25. Esses países investem grandes somas de recursos nos seus programas de parques e mostraram que o retorno é altamente compensador.
Um exemplo: o parque de Sophia Antipolis, na França, em 30 anos, reuniu 1.300 empresas, em que trabalham 26 mil pessoas. Vistos de perto, cada um desses parques tem contornos e organização muito diferentes uns dos outros. O que têm em comum é serem, como o Vale do Silício, um ponto de encontro entre empresas interessadas em inovar para crescer e profissionais bem formados, capazes de descobrir como fazê-lo.
São Paulo tem as empresas, as mais dinâmicas do país e as que mais investem em inovação. Tem também os cientistas e engenheiros, pois o estado de São Paulo, governo após governo, ano após ano, desde o final do século XIX, vem investindo em institutos de pesquisa, depois em universidades, e no financiamento das atividades de seus pesquisadores.
Existe aqui uma capacidade de gerar conhecimento nada desprezível. Cerca de 1% de todas as descobertas e trabalhos científicos produzidos no mundo tem endereço paulista. O estado está, portanto, maduro para também estabelecer sua plataforma de parques tecnológicos. Por que não alavancar, aqui, nossos Vales do Silício?
O governo tomou a iniciativa: em fevereiro deste ano, criou o Sistema Paulista de Parques Tecnológicos – uma rede articulada de pontos de encontro empresa-pesquisador, espalhada por seu território. Trata-se de uma iniciativa de Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, implantada através de um projeto da Fundação de Amparo à Pesquisa, a Fapesp.
Parques tecnológicos são um instrumento moderno e eficiente para apoiar e fomentar a inovação. É sabido que um obstáculo para o desenvolvimento brasileiro é a distância ainda a separar as empresas do conhecimento dos pesquisadores. Parques tecnológicos são lugares para aproximá-los.
Com eles, mais benefícios serão devolvidos a São Paulo e ao Brasil a partir do investimento público já feito, pois, com mais intensidade, o conhecimento poderá ser apropriado pelas empresas e aplicados a seus produtos para gerar emprego, renda, impostos.
As cidades escolhidas para abrigar os cinco primeiros parques do estado – Campinas, São Carlos, São José dos Campos, São Paulo e Ribeirão Preto – já são pólos de geração de conhecimento e de produção industrial. Em cada uma das cinco cidades, há equipes trabalhando para dar a forma mais adequada a seus parques. De forma articulada, prefeituras, estado, universidades e empresários se organizam para instalá-los, levando em conta as particularidades, potencialidades e necessidades de cada região.
A decisão do governo vai alavancar e multiplicar essa vocação já parcialmente realizada – e, como já mencionado, maximizar o retorno do investimento dos contribuintes. Nas universidades paulistas, o Estado investe 10% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) arrecadado. Na Fapesp, o investimento é da ordem de R$ 1,5 milhão por dia.
É estratégico, para o Estado, criar as condições para que a sociedade extraia sempre mais desse esforço. Como também é estratégico e de maturação longa todo o investimento na atividade de ciência, tecnologia e inovação. A implantação de parques tecnológicos não é diferente. Por essa razão, mais do que um projeto de governo, ele deve ser visto como um projeto de Estado. Para que ele se materialize de forma eficaz, muito trabalho e recursos são necessários; mas, acima de tudo, determinação e persistência.
Para o século XXI, nenhum futuro é mais desejável do que a integração plena à economia do conhecimento. Os parques tecnológicos do estado de São Paulo são o passo a ser dado, aqui e agora, para construir esse futuro.
* João Steiner, astrofísico, é diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP e coordenador do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos.