Laís Garcia |
Procurados pelo Congresso em Foco, apenas cinco dos dez deputados mais faltosos responderam aos contatos feitos pela reportagem para explicar o porquê do alto índice de ausência em plenário. A dificuldade em conciliar a agenda de Brasília com os interesses da base eleitoral foi o principal motivo alegado para justificar as faltas. Com o amparo de resoluções internas, não encontram dificuldade para evitar o desconto nos salários. O cabeça da lista, o deputado João Hermann Neto (PDT-SP), esteve presente em apenas 35,3% das 375 sessões deliberativas realizadas pela Câmara entre 18 de fevereiro de 2003 e 9 de junho de 2005. Só não justificou seis das 210 faltas que acumulou no período. O menos assíduo dos deputados atribui as ausências às viagens que tem feito ao exterior para representar o Brasil em fóruns internacionais. “Faço viagens ao Japão, a Cuba, a países árabes. Estive no Haiti três vezes nos últimos três meses”, conta. Na avaliação de Herrmann, o elevado número de faltas em plenário não prejudica o seu desempenho como parlamentar. “A melhor avaliação do meu mandato não é a minha presença em plenário, mas sim o aval do meu eleitorado. Além do mais, eu não viajo para Paris, mas para lugares onde é preciso trabalhar pela democracia”, garante. “Viajo com recursos de ONGs (organizações não-governamentais) e outras instituições interessadas no meu trabalho”, complementa. De fato, não há registro de custeio de viagens para o parlamentar na página da Câmara na internet. Em oitavo lugar na lista dos faltosos, o deputado João Lyra (PTB-AL) tem média de 52,6% de presença em plenário neste mandato. Ele compareceu a 39 das 80 sessões deliberativas realizadas na Câmara no ano passado e apresentou justificativa para todas as 41 faltas acumuladas. Em 22 delas, declarou estar em “missão oficial autorizada”. Procurada pelo Congresso em Foco numa quinta-feira à tarde, a assessoria de imprensa do deputado informou que ele já estaria no município de União dos Palmares, em Alagoas, cuidando de “seus negócios”. A explicação não deixa de ser curiosa: de acordo com a assessoria do deputado, Lyra “não é um político profissional”, mas “um empresário com muitos afazeres”. Por isso, explicou, não poderia se dedicar tanto ao mandato em Brasília. No ano passado, ele teria passado boa parte do ano reestruturando o PTB alagoano. Pai de Tereza Collor, o ex-senador é dono do Grupo João Lyra, um dos maiores produtores de açúcar e álcool do Nordeste. Até o último dia 9, Lyra havia proferido apenas quatro discursos desde o início da atual legislatura. Nesse período, relatou cinco matérias e foi autor de 34 proposições. Com 51,9% de presença em dois anos e meio de mandato, o deputado Miguel Arraes (PSB-PE) está em sexto lugar entre os mais faltosos. Quase todas as ausências foram justificadas, segundo sua assessoria, por causa dos inúmeros compromissos do ex-governador pernambucano no estado. O deputado está internado em estado grave há uma semana em Recife com complicações decorrentes de uma dengue. Em terceiro lugar na lista dos mais faltosos, com 49,4% de ausências, Ney Lopes (PFL-RN) é outro que atribui o elevado número de faltas à necessidade de representar o Brasil no exterior. O deputado é presidente do Parlamento Latino Americano (Parlatino), e, por isso, viaja várias vezes no ano continente afora. Já os compromissos que o fizeram ficar ausente de Brasília por dois meses em 2004 foram outros. “Fui candidato a prefeito de Natal e, por isso, tive que me ausentar”, justifica. Presente em apenas 52,5% das sessões deliberativas, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) associa a média de presença em plenário aos compromissos que tinha como primeiro-secretário da Câmara, cargo que ocupou em 2003 e 2004. De acordo com sua assessoria, o deputado retomou a normalidade dos trabalhos desde que deixou a mesa-diretora, em fevereiro. De lá pra cá, ele participou de 70% das sessões deliberativas. Figurando na 18ª posição entre os mais faltosos, com 61,57% de presença nas sessões deliberativas, o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) é pragmático ao explicar por que permanece no interior do estado mesmo quando deveria estar em Brasília. “Se não fizer isso, não consigo me reeleger”, diz, ao se referir à necessidade de estreitar os laços com o seu eleitorado. Entre os dez mais faltosos, não responderam aos contatos da reportagem os deputados Osvaldo Coelho (PFL-PE), Neiva Moreira (PDT-MA), Almeida de Jesus (PL-CE), Remi Trinta (PL-MA) e Jader Barbalho (PMDB-PA). |