Alexandre Prates*
Uma plateia de mais de 600 pessoas me esperava para uma palestra em uma universidade no sul do País. Centenas de alunos ansiosos pelo tema: tendências comportamentais do profissional do futuro.
Apesar de ver aqueles jovens curiosos em descobrir os caminhos para construir uma carreira brilhante, percebi logo nos primeiros minutos de apresentação que, se algo não acontecesse para dinamizar a palestra e torná-la mais descontraída e interativa, certamente o auditório aos poucos se esvaziaria.
Seria isso a tão criticada “pressa” dessa nova geração? Seria um senso crítico apurado? Seria descompromisso com as suas carreiras? Independentemente do motivo, fica uma preocupação: exigir uma palestra instigante é válido, mas isso não pode ser fator determinante para o aproveitamento daquilo que é o mais importante nessa história: o conteúdo!
E por que isso me preocupa? Por um motivo muito simples: esse fato explicita algumas características bem presentes nessa geração, que frequentemente valido em minhas atuações no mundo corporativo e que estão ocasionando sérios conflitos na relação profissional-empresa, que denominei como “Os três ‘Is’ da nova geração”.
Vamos a eles:
É importante enfatizar que não estou rotulando, apenas externando a angústia de muitos líderes que se veem perdidos diante da inconstância de muitos jovens talentos.
Impaciência
“Ou me satisfaz imediatamente ou não quero!” Essa é a sensação transmitida por muitos jovens dessa geração. “Ou a palestra é instigante ou prefiro ir embora.” Se o conteúdo irá contribuir para o meu futuro, não importa. Esse comportamento é naturalmente transferido para o mundo corporativo. “Ou a empresa me oferece oportunidade de crescimento muito rapidamente ou estou fora, procuro outra.” Esse pensamento de curto prazo pode prejudicar e muito a carreira dos jovens profissionais. Neste caso, é preciso distinguir muito bem pressa e ambição. Ter ambição é saudável, mas a pressa para conquistar aquilo que se deseja, sem pensar nas consequências a longo prazo, é perigoso.
Dica para os jovens: muitas vezes uma empresa pode não lhe oferecer naquele momento a oportunidade de subir de cargo ou um aumento de salário, mas antes de pedir demissão, reflita: “O que estou aprendendo nesta empresa? Quais são as oportunidades que ela me oferece para o futuro?”. Lembre-se, é preciso construir uma história para conquistar uma carreira brilhante, e você não conseguirá isso de uma hora para outra, muito menos pulando de galho em galho. Mas também não confunda paciência com letargia. Se você realmente merece uma oportunidade e a empresa não tem condições de lhe oferecer isso, certamente você deverá buscar o seu lugar ao sol.
Dica para as empresas: deixe claras as oportunidades profissionais que a sua empresa oferece e apresente os caminhos para chegar lá: o desenvolvimento pessoal e profissional necessário, a formação requisitada, as atitudes e resultados valorizados pela empresa. E seja muito transparente. Muitas vezes a sua empresa não oferece grandes chances de crescimento na hierarquia, mas pode proporcionar ao profissional uma grande bagagem de experiência. O que falta, na maioria das organizações, é uma comunicação transparente e em muitos casos, simplesmente comunicação.
Inconsistência
Este, infelizmente, é outro comportamento presente em muitos jovens dessa geração. Apesar da enxurrada de informações a que somos submetidos diariamente, a incapacidade crítica de alguns jovens é assustadora. As redes sociais, que podem ser uma rica fonte de informação e troca de visões sobre diversos temas, têm sido, a meu ver, pouco explorada. Basta analisarmos quem são as pessoas mais seguidas no Twitter. Basta perguntar a um jovem quais veículos de comunicação ele acessa com frequência. E não precisa ir muito longe para identificar esse comportamento: ao final de uma palestra, por melhor que ela seja, abra para perguntas e calcule o percentual das pessoas que se manifestam. Não chegaremos a 5%! Talvez este seja o comportamento mais preocupante dessa nova geração, pois a cada dia os atos de julgar, criticar, inovar e decidir estão nas mãos de poucas pessoas. E quando ouço um empresário dizer que o que mais lhe preocupa para o futuro da sua empresa é a falta de profissionais qualificados, constato que a maior desqualificação de todas é incapacidade crítica, a visão curta.
Dica para os jovens: amplie o seu networking de informação, converse com pessoas diferentes, acesse novas fontes de informação e, principalmente, permita-se questionar e analise mais profundamente as situações. Não seja refém da informação rápida, que se consegue no Google. Vá além! E na primeira oportunidade que tiver de conhecer alguém mais experiente, extraia o que puder de informação. Valorize o conhecimento, a experiência, a cultura.
Dica para as empresas: crie um ambiente de aprendizado constante, que permita às pessoas pensarem “fora da caixa”. Não discuta apenas os processos, ajude os profissionais a evoluírem e pensarem em mercado, clientes, estratégias, enfim, é preciso provocá-los para que ampliem a sua visão e enxerguem o mercado, tornando-os assim mais estratégicos e visionários.
Iniciativa
Nem todo comportamento da nova geração de profissionais é negativo, pelo contrário. Eu ouço constantemente elogios e vejo comportamentos dignos de reconhecimento. Infelizmente, a iniciativa está presente na minoria, mas quando este comportamento se apresenta, é bonito de ver. Chega a emocionar ver os jovens organizando grandes eventos nos centros acadêmicos, enquanto outros não se dão nem ao trabalho de assistir às palestras. É incrível vê-los ficando após a palestra para conversar com o palestrante, pedir dicas, tirar dúvidas, solicitar contato para conversar posteriormente, enfim, pensando no futuro. E certamente esse comportamento será revertido para as suas carreiras: se empenharão, aprenderão e, como consequência, crescerão pessoal e profissionalmente. E o que mais me admira neste comportamento é a capacidade de fazer uma simples pergunta: “por quê?”. Uma pergunta simples, mas que abre inúmeras oportunidades para a evolução profissional.
Dica para os jovens: coloque esse comportamento para fora sempre que possível. Quando a oportunidade de ir além, de entregar mais, de contribuir melhor se apresentar, agarre, não deixe passar. Agora, seja inteligente para compreender que menos é mais. Nem sempre você precisará falar. Muitas vezes ouvir e deixar que a ideia de outras pessoas prevaleça e valorizá-las é um grande ato de sabedoria. E mais uma coisa: muitas vezes as suas ideias não serão aceitas, mas não se frustre com isso, faz parte da vida de qualquer profissional. É nessa hora que a pressa não ajuda em nada, pois maturidade se adquire com o tempo. E novamente: quanto mais você investir na sua capacidade crítica, mais será ouvido e levado a sério!
Dica para as empresas: valorize a iniciativa, permita e reconheça a participação e, mais do que isso, permita o erro. Um ambiente de forte repreensão nunca deixará florescer a inovação e a atitude de ir além. Se que ter iniciativa sem erros, basta investir na formação das pessoas. Não tem segredo!
Amigos, eu não sei qual é o “I” que você pratica e também não faço ideia de como a sua empresa lida com os jovens talentos, mas garanto que só existe uma forma de prosperar diante deste conflito: assumir a responsabilidade.
Você, jovem, entenda que construirá uma carreira brilhante aquele que tiver a capacidade da iniciativa, do desejo interno de realmente prosperar nos negócios e na vida. O propósito da universidade é proporcionar conhecimento, mas transformar esse conhecimento em inteligência é uma decisão sua. As organizações oferecem as oportunidades, mas entregar os resultados e ser valorizado por isso também é uma decisão sua. Decida ter sucesso!
Você, empresário, invista na formação de uma liderança capaz de impulsionar os jovens talentos. Julgar os comportamentos e se lamentar não vão ajudar em nada. Vou lhe dar a mesma dica que dei para os jovens: tome a iniciativa e construa um ambiente saudável, que inspire, motive e, principalmente, permita uma evolução constante.
* Alexandre Prates é especialista em liderança, desenvolvimento humano e performance organizacional