Os bons resultados obtidos pelo Brasil na área social e na balança comercial, nos últimos anos, esconderam agudo risco de desindustrialização, comprometendo o futuro da produção nacional. Nos últimos meses, a sequência de anúncios de indicadores positivos gerou, nos brasileiros, a eufórica sensação de que a economia está crescendo.
Nas últimas duas décadas o país reduziu o Índice de Gini – principal indicador de desigualdade de renda dos países. Também reduziu o número de famílias que estão abaixo da pobreza, que já foi superior a 40% da população, no início dos anos 80. Agora está abaixo dos 18%. A criação de empregos fez com que trinta e seis milhões de brasileiros ascendessem para a classe “C” de renda, e o acesso ao crédito foi ampliado.
Isso só foi possível graças à política de estabilização monetária e fiscal promovida nos anos 90, no governo de Itamar Franco, e até hoje mantida por seus sucessores.
Esses números, aliados ao extraordinário momento vivido pela economia mundial até meados de 2008, ao aumento da tecnologia e da produtividade e às importações facilitadas pelo câmbio, fizeram com que o brasileiro experimentasse um período de expansão de sua capacidade de consumo.
Embora as notícias tragam bons números para o desenvolvimento econômico e social, quando comparamos o Brasil com os demais países em desenvolvimento, percebemos que, na verdade, nosso país perdeu a oportunidade de crescer mais, e com sustentabilidade. Nos últimos oito anos, o Brasil ficou em último lugar em crescimento entre os BRIC’s. Enquanto a média do crescimento chinês, nesse período, foi de 10,95%, a da Índia 8,2%, e da Rússia 4,8%, nós crescemos, em média, somente 4%. Neste ano, o Brasil continua segurando a lanterna do crescimento entre os Brics, só que agora dividindo a posição com a Rússia.
O crescimento econômico poderia ter sido maior se o Brasil não estivesse passando por um grave processo de desindustrialização que, agora, ameaça a sustentabilidade dos nossos modestos índices de crescimento. A participação da indústria na composição do PIB caiu de 36% em 1984 para 15% em 2010. Este setor já foi responsável por 30% dos empregos (1985). Hoje, responde por apenas 17,4% dos postos de trabalho.
A indústria vem perdendo espaço na economia nacional. O resultado da balança comercial brasileira vem diminuindo desde 2007. Atualmente está faixa dos 20 bilhões de dólares. Esse resultado é garantido pela exportação de commodities, que já representam 71% de nossa pauta de exportações (incluindo produtos básicos e industrializados de pequeno valor agregado).
A balança comercial da indústria brasileira registrou um déficit, em 2010, de 37 bilhões de dólares. Nos últimos cinco anos, a participação dos produtos manufaturados tem diminuído, passando de 55% em 2005 para 39% em 2010. Já os produtos básicos cresceram sua participação na pauta de exportações brasileira de 26% para 45%.
Além disso, o Brasil tem permitido a entrada de produtos asiáticos sem maiores problemas no mercado brasileiro competindo com a indústria nacional em condições vantajosas. Entram no Brasil, legal ou ilegalmente, desde calçados até equipamentos de alta tecnologia destinados à produção. Muitas vezes, esses produtos são feitos com matéria prima, tecnologia e design brasileiros, mas foram produzidos no exterior.
Quando exportamos commodities ou bens de baixo valor agregado e importamos produtos industrializados, estamos exportando empregos que irão gerar renda e bem estar em outros países. O Brasil não pode deixar que sua indústria morra para se satisfazer como exportador de commodities. Um país que quer crescimento sustentável precisa ter sua indústria fortalecida.
É na indústria que os empregos são gerados e a tecnologia é desenvolvida. Quando aplicamos conhecimento, agregamos valor às matérias primas. Fortalecendo a indústria, o Brasil pode deixar a posição colonial de exportador de recursos naturais para se tornar um fornecedor de conhecimento e inteligência ao resto do mundo.
A indústria nacional enfrenta sérias dificuldades. Pesquisas do IBGE identificaram forte desaceleração na atividade industrial, com reflexos na produtividade e na geração de empregos. Há escassez de mão de obra qualificada, no mercado. Neste primeiro semestre, aumentou em quase 20% o número de registros de estrangeiros para trabalhar no Brasil.
As empresas perdem competitividade internacional por causa do câmbio, com o real valorizado (39% nos últimos oito anos) e têm dificuldades para promover a modernização dos processos. A tomada de crédito, para investimentos, é feita a juros altos, sem estímulos governamentais.
Gargalos logísticos, como a energia, encarecem os custos de produção. A predominância do modal rodoviário de transportes em estradas mal conservadas e o alto custo da energia elétrica brasileira oneram a produção e a distribuição da produção industrial.
O arcabouço tributário brasileiro é complexo e oneroso. O sistema tributário brasileiro taxa investimentos. O custo da contratação de mão de obra brasileira dobrou nos últimos cinco anos, consequência, entre outras, de uma legislação trabalhista formulada em 1946.
A reversão do processo de desindustrialização brasileiro é urgente. Se quisermos ser em um país competitivo, onde a geração de riquezas é promotora do desenvolvimento econômico sustentável, precisamos promover uma série de reformas que exigirá a participação ativa do Congresso Nacional.
Precisamos melhorar, rapidamente, a logística, votar a reforma tributária e revisar os instrumentos de controle do câmbio, que hoje supervaloriza o real. O Estado deve oferecer juros diferenciados para o investimento em tecnologia e inovação. Estímulos para o aumento da participação das micro e pequenas empresas na pauta de exportações de manufaturados.
É preciso, também, vencer o principal desafio para o desenvolvimento da indústria brasileira: EDUCAÇÃO, para que tenhamos mão de obra qualificada para suprir a demanda. É urgente e inadiável aumentar investimentos em educação básica, educação profissional tecnológica e desenvolvimento de ciência e tecnologia.
Caso contrário, estaremos fadados a ser o país de um futuro que nunca chega, que exporta seus recursos naturais sem agregar valor e que não oferece qualidade de vida aos seus cidadãos, por um único motivo: não gera riquezas. Gerar riquezas, no século 21, significa exportar conhecimento e tecnologia agregados aos manufaturados feitos em nosso país.