José Annes Marinho*
Recentemente, tenho observado vários artigos relacionados ao tema agrotóxicos e muitos deles deveriam informar a sociedade, mas infelizmente, cada vez mais, colocam as pessoas em pânico. Por que será? Levar informações incorretas as pessoas é gratificante? Ou essas pessoas não têm informações suficientes para se posicionar sobre o assunto? Eu, particularmente, gostaria que o tema fosse tratado de forma agradável, que pudesse ser entendido e baseado em ciência que ajudasse o produtor rural a colocar alimentos de qualidade em nossas mesas.
Há muitos fatos que levam pessoas que não conhecem cientificamente o tema a discorrerem e buscarem explicações, quase sempre infundadas sobre essa tecnologia. Os agrotóxicos, defensivos agrícolas, pesticidas, todas essas definições são sinônimas. Portanto, se você for questionado a respeito desses nomes, saiba que está falando do mesmo tema, apenas com designação diferente. No Brasil, de acordo com a Lei 7.802, o termo aprovado foi “Agrotóxico”. Mas, em algumas discussões calorosas, em geral usamos a ideologia e esquecemos a ciência. No resto do mundo, o termo agrotóxico é chamado de pesticida ou “pesticide”. Neste contexto, observamos alguns artigos, em especial, um da “Revista Veja – A verdade sobre os agrotóxicos” . Baseado em ciência, consultando grandes cientistas que respondem às principais dúvidas sobre o assunto para que as senhoras – donas do lar –, os senhores – empresários, estudantes -, que estão longe dos campos, possam entender sobre essa tecnologia que, felizmente, revolucionou a agricultura brasileira. É fundamental que vocês saibam que esses produtos são responsáveis por nossa alimentação.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que, se não existisse essa tecnologia, cerca de 40% do que é produzido de alimentos seria perdido. Porém, temos de respeitar as opiniões contrárias. Mas, senhoras do lar: não comemos “agrotóxicos” todos os dias, fiquem tranquilas. Recentemente, li uma publicação que recomenda comer somente produtos orgânicos, referindo-se a uma lista divulgada pela Anvisa. Mas será que isso resolve ou também nos põe em risco? Exemplos mostrados pelos meios de comunicação a respeito da contaminação de brotos de feijão na Alemanha com a bactéria E. coli mostraram que o fato de o produto ser orgânico não nos livra de termos cuidado. A contaminação causou a morte de pelo menos 30 pessoas.
Há estudos científicos que comprovam que orgânico é melhor que convencional? Pesquisando, encontramos um estudo conduzido pela Agência de Alimentos do Governo da Inglaterra e um trabalho publicado no American Journal of Clinical Nutrition. De acordo com os pesquisadores, os alimentos chamados orgânicos – aqueles que utilizam fertilizantes e defensivos agrícolas e não-derivados de ingredientes químicos – não têm benefícios nutricionais superiores aos dos alimentos cultivados com adubos e defensivos sintéticos. Será que os alimentos produzidos na Inglaterra e nos Estados Unidos são diferentes dos produzidos no Brasil?
Talvez, em paladar, alguns, mas em componentes nutricionais é muito difícil. Outro dado interessante é que toxicologistas do mundo inteiro nunca comprovaram casos ou problemas de câncer relacionados aos defensivos em seres humanos, o que há são hipóteses, mas nunca relacionados à alimentação e sim a exposição dos aplicadores.
Pois bem, esclarecer é fundamental. Acredito que hoje vocês imaginam que não sejam utilizados produtos químicos na agricultura orgânica, estou certo? Que exista controle do que é utilizado na produção orgânica pelas autoridades? Vocês já ouviram falar em calda bordalesa e óleo de nin, ambos usados na agricultura orgânica? Eis a resposta: são produtos químicos, mas não sintetizados, que também têm suas restrições de uso como os defensivos. Portanto, é sempre importante que busquemos as respostas na ciência e não na ideologia.
Diante dessas premissas, existem questões que devemos refletir. Por exemplo: se não houvesse mais agrotóxicos no mundo, será que o custo dos alimentos seria o mesmo? Será que 37% dos empregos gerados no Brasil existiriam? Vamos mais longe: será que manteríamos a balança comercial do Brasil no verde? Pois é, antes de criticarmos algo, precisamos refletir sobre as implicações que tais decisões possam afetar em nossas vidas.
Há importantes informações que precisam ser prestadas sobre as pesquisas, que duram anos, feitas para que um defensivo esteja apto a ser comercializado. Os fatores de segurança utilizados para esses produtos são na ordem de 100 quanto ao risco de exposição (aplicador), pois consideramos que o homem é 100 vezes mais sensível que um camundongo. Para comparar, na construção civil, o fator usado fica em torno de quatro. No quesito segurança alimentar, estamos preocupados com a seguinte a pergunta: “Comer alimentos onde se usa agrotóxicos é seguro?”. Respondo a vocês com todas as letras “SIM”, é seguro.
Para que vocês entendam este processo e seus conceitos, é preciso esclarecer algumas métricas. No Brasil, a própria Anvisa – que divulga dados do monitoramento de agrotóxicos nos alimentos, utiliza esses conceitos: Limite Máximo de Resíduos – LMR – é a quantidade máxima de resíduos permitida, para um determinado produto, em uma determinada cultura. É um valor para o mercado, mas dentro da faixa de segurança toxicológica. Um valor acima do LMR significa que o produto é impróprio para o mercado, mas isso não quer dizer que seja um problema toxicológico (muito pelo contrário, os valores de segurança determinados pelo governo apresentam altos fatores de segurança, iguais ao que se praticam no mundo todo).
O outro fator é a Ingestão Diária Aceitável ( IDA), valor determinado pela Anvisa no Brasil, que significa a quantidade máxima de uma determinada substância que pode ser ingerida, por toda a vida sem riscos à saúde humana, à luz dos conhecimentos atuais. É um parâmetro global, definido pela Organização Mundial de Saúde (Organização Mundial da Saúde) e aplica-se a toda substância química que possa ser ingerida, não se restringindo aos defensivos agrícolas. Após esclarecer estes conceitos, chegamos ao ponto de partida: os resultados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (Para) são importantes. Porém, sua amostragem é insatisfatória, pois analisou e divulgou dados de alimentos consumidos no ano anterior e, infelizmente, de forma direcionada e ideológica, colocando receio nas pessoas que vivem nas cidades.
Vejam, quando se fala que 91,8% das amostras de pimentão, 63,4% das de morango, 57,4% das de pepino, como exemplo, estão contaminadas ou reprovadas, não significa que você estará intoxicado ou haverá algum dano à sua saúde caso utilize este alimento. No caso do pimentão, é mais emblemático ainda: das 91,8% das amostras analisadas, nenhuma amostra apresentou LMR acima do permitido. O que ocorreu foi o uso não autorizado desse defensivo para produzir este alimento. E agora, devemos proibir a produção de pimentão, sendo que o próprio governo não autoriza produtos para a cultura? E o produtor está errado em produzir e usar esses produtos?
Atualmente no Brasil, produtores de tomate têm como segunda receita a produção de pimentão, que utiliza praticamente os mesmos defensivos utilizados no tomate, pois as pragas são as mesmas. Além disso, hoje não há no mercado produtos autorizados pelos órgãos responsáveis (Mapa, Anvisa e Ibama). De quem é a culpa? São questões difíceis de serem respondidas, pois estamos falando de pessoas que vivem dessa atividade.
Por fim, acredito que devemos pautar estes assuntos com muita serenidade e com dados científicos. Já revisões, opiniões sem conhecimento e dados, levam as pessoas que não conhecem a discriminar ambas as atividades, tanto a agricultura orgânica como a convencional. Agricultura orgânica é importante? Claro, o problema é que o Brasil está muito aquém de ter as condições para uma agricultura orgânica exemplar. Somos um país tropical, onde as pragas destroem as culturas, caso não sejam protegidas, e a função principal do defensivo é proteger as plantas, nada mais. E agricultura convencional é importante? Importantíssima, não vivemos sem alimentos e, de preferência, baratos, por isso rastreabilidade e segurança alimentar são bem-vindas ao nosso dia-a-dia. O que precisamos é fundamentar e esclarecer as pessoas que estão nas cidades de forma cientifica. Como dizia um grande professor e médico da Unicamp, Sr. Zeferino Vaz (in memorian): “Quando a ideologia entra para porta da frente da universidade, a ciência sai pela porta dos fundos”. Que levemos isso para nossas vidas.
*Engenheiro agrônomo, gerente de educação da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef-Edu)