Marcelo Caixeta * |
Arrependi-me de ter votado em Lula. Aliás, hoje isso não é novidade. Mas não é por causa do mensalão. Vou explicar por quê. Os governos da elite de Fernando Henrique demonstraram que a pobreza estava ficando cada vez mais para trás. Quando só a elite manda, ela se locupleta, não está nem aí para a ralé. Pensei: "Com Lula, pelo menos no primeiro governo, haverá abertura para o povão". Em vez do povão, Lula e Dirceu instalaram um governo de burocratas, sindicalistas e funcionários públicos auto-centrados, auto-interessados, auto-beneficiados. E o que é pior, sem a eficiência técnica das elites (quem é inteligente, trabalhador, eficiente, vira elite; daí a elite ser eficiente, mas perversa). Em vez de instalar o povo, instalou-se uma "camada média de burocratas", que nem é povo, nem é elite; e o que é pior, é uma camada que tem raiva da elite e quer distância do povo, pois, afinal, essa camada também quer virar elite (na União Soviética acabou virando uma elite burocrática, chamada "nomenklatura"). Até o momento, os burocratas de Lula não fizeram muito estrago porque, com suas reuniões e decisões colegiadas intermináveis, ainda não estão incomodando a sociedade, não estão mandando pra valer, não estão colocando em prática os projetos contra os empresários, profissionais liberais, livre iniciativa, capital. Já no segundo mandato, quando não estiverem mais tímidos, quando suas reuniões tiverem decidido algo, então eles vão colocar as "manguinhas de fora" e aí virá o estrago. Em pouco tempo estaremos todos plantando cana em fazendas coletivas, como em Cuba. Ou, então, estará um ortopedista ganhando 50 dólares por mês como em Havana. Alguém pode contestar uma lógica mais cristalina do que essa? Essas "falhas" de percurso aconteceram por causa de uma série de falhas estruturais do PT: 1 – Abominação do princípio de liderança: Lula e o PT acham que reuniões de consenso decidem tudo, quando toda moderna administração sabe que não é possível passar sem uma liderança competente em qualquer lugar; 2 – Lula e o PT são contra as elites, qualquer elite (mesmo as bem-intencionadas): isso acontece porque muitos vieram de porões de fábricas ou eram mandados por chefes prepotentes, na iniciativa privada ou no serviço público. Daí terem uma vontade de vingança muito grande e, ao mesmo tempo, um desejo de ascensão (para poder mandar também e vingar o que passaram), e 3 – A confiança absoluta em governos e em estados (estatismo): em vez de confiar na iniciativa privada-comunitária, ou seja, na iniciativa do empresário ou do povo, o PT confia (ou quer fazer de conta que confia, só para ter o poder), como os comunistas, em um poder estatal central forte. Com isso, mata-se a iniciativa privada, mata-se a sociedade, favorecendo só a camarilha burocrática que se assenhorou do Estado. Mais uma vez, há algo mais claro do que isso, meu Deus do céu? * Psiquiatra, é coordenador do Centro de Documentação/ Investigações Teóricas do Depto. de Psicologia Médica (HPM), da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde também exerce funções clínicas, ambulatoriais e hospitalares. É pós-graduado pela Universidade de Paris XI. Os textos para esta seção devem ser enviados, com no máximo 4.000 caracteres e a identificação do autor (profissão e formação acadêmica), para congressoemfoco@congressoemfoco.com.br |