Passaram-se 69 anos do maior ato terrorista da história que foi o lançamento de duas bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Não eram armas contra exércitos, mas armas de destruição em massa, de civis, mulheres, crianças, animais, vegetação, de tudo o que vive. O copiloto Robert Lewis vendo a devastação, assustado exclamou: ”Meu Deus, o que fizemos”? O impacto foi tão demolidor que o imperador Hiroíto logo se rendeu também por este argumento: “para evitar a total extinção da civilização humana”(P. Johnson, Tempos modernos, 1990, 357). Ele captou sabiamente: a partir de agora não precisamos mais que Deus intervenha para pôr fim à nossa história. Nós nos demos os instrumentos que nos podem autodestruir. Como disse Sartre: “nós nos assenhoreamos de nossa própria morte”.
No final de sua vida, o grande historiador inglês Arnold J. Toynbee (1889-1975), depois de escrever muitos tomos sobre as grandes civilizações, deixou consignada esta opinião sombria em seu ensaio autobiográfico Experiências, de 1969: “Vivi para ver o fim da história humana tornar-se uma possibilidade intra-histórica capaz de ser traduzida em fato não por um ato de Deus mas do homem”.
O insuspeito Samuel P. Huntington, já falecido, antigo assessor do Pentágono e um analista perspicaz do processo de globalização, no término de seu O choque de civilizações diz: “A lei e a ordem são o primeiro pré-requisito da civilização; em grande parte no mundo elas parecem estar evaporando; numa base mundial, a civilização parece, em muitos aspectos, estar cedendo diante da barbárie, gerando a imagem de um fenômeno sem precedentes, uma Idade das Trevas mundial, que se abate sobre a Humanidade”. E para terminar o cenário valem as palavras do famoso historiador Eric Hobsbawm que fecha seu livro Era dos extremos (1995) com esta grave advertência: “O futuro não pode ser a continuação do passado… nosso mundo corre risco de explosão e implosão… Tem que mudar… e a alternativa para uma mudança da sociedade é a escuridão”. Não é isso que estamos vendo?
Portanto, os cenários não são nada róseos. Mas quem pensa nestas ameaças que pesam sobre nosso destino? Os chefes de Estado se transformaram antes em gestores da macroeconomia do que governantes de seus povos. E os “capos” das grandes corporações transnacionais só pensam em lucrar e lucrar indefinidamente às expensas da demolição das fundações materiais da vida e da superexploração de povos inteiros como a Grécia, Portugal, Espanha e Itália.
O fato é que depois da invenção perversa das armas nucleares, a produção da máquina de morte se sofisticou ainda mais com outras armas: químicas, biológicas, bacteriológicas, eletrônicas, nanotecnológicas, que podem destruir toda a humanidade e a biosfera visível por 25 formas diferentes. A razão alcançou seu mais alto grau de irracionalidade e de loucura. Vivemos tempos que brincam com o suicídio coletivo.
Geralmente esta é a lógica dos bruxos da ciência: se podemos, quem nos impedirá de realizar o que podemos? Depois da violência da economia, como está ocorrendo com uma fúria inaudita em vários países do mundo, particularmente na Europa, vem, via de regra, a violência das armas.
Em muitas partes do mundo há conflitos que se acirram cada vez mais. Há os que aventam a possibilidade da utilização de armas nucleares táticas, pequenas que não matam muita gente, mas tornam a região por 15 a 20 anos inabitável por causa da radioatividade e com a erosão genética de muitos seres vivos, como ocorreu em Chernobyl na Ucrânia e está ocorrendo em Fukushima no Japão.
Vale a pena ler o livro do ex-assessor de François Mitterand, Jacques Attali, Uma breve história do futuro (2008). Descreve três ondas do futuro: o hiperimpério (os EUA em decadência); o hiperconflito (balcanização do mundo com guerras regionais cada vez mais letais). A violência cresce a ponto de degenerar numa guerra de destruição em massa generalizada. Então, imagina Attali, a humanidade se dará conta de que pode realmente se autodestruir. Finalmente se torna socialista, não por ideologia mas por necessidade: só temos esta Terra e devemos repartir seus recursos escassos senão morreremos. Surge a onda da hiperdemocracia planetária.
Attali termina o livro se perguntando: e o Brasil nisso tudo? Ele mesmo responde: “Se há um país que se assemelha ao que poderia tornar-se o mundo, no bem e no mal, esse país é o Brasil. Nele encontramos todas as dimensões do hiperimpério, tudo o que prepara o hiperconflito e tudo o que anuncia a hiperdemocracia”. Cabe a nós refletir seriamente sobre que futuro estamos preparando, miniatura do futuro bom ou da desgraça sobre toda a vida na Terra?
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