Decifrar o significado da linguagem das ruas – expresso nas atuais manifestações populares – a partir do ponto de vista duma esquerda progressista foi o objetivo proposto pelo artigo assinado por Vinicius Wu, na Carta Maior, com o qual sintonizamos, assinalando aqui alguns pontos de divergência ou concordância.
O autor enfatiza que a forma menos adequada de compreender um fenômeno social complexo é a simplificação, até porque não há uma única motivação para os recentes protestos que ocorreram nas principais cidades do país. O que se tem são questões universais ao lado de temas locais e/ou setoriais. De forma que existem aspectos que aproximam os manifestantes de São Paulo, Rio ou Porto Alegre, e outros que os distanciam. Aliás, diga-se de passagem, que o papel da internet e redes sociais é central e, em geral, políticos e formadores de opinião não o compreendem nem minimamente. Limitam-se a saber, vagamente, que este é extremamente eficiente e, por outro lado, absolutamente mentiroso e isto é tudo.
O fato é que estamos diante de uma expressão política do novo Brasil. A revolução democrática, chefiada pelos governos Lula, 1) redefiniu a estrutura de classes da sociedade brasileira; 2), incluiu milhões de consumidores; 3) e possibilitou a emergência de novas expressões culturais e políticas. Mas o processo de inclusão social e econômica ainda é imperfeito, mal acabado e contraditório.
Contudo, as conquistas sociais recentes caminharam ao lado da despolitização da política e da onda conservadora que envolve negativamente o Congresso Nacional e paralisa os partidos de esquerda, distanciando a juventude da política histórica.
Aqui, o autor lembra que, recentemente, ocorreram manifestações em todo o país contra a indicação de Marcos Feliciano à Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional. Não obstante, nenhum manifestante propôs o fechamento do Congresso ou a criminalização de políticos. E o que fez o Parlamento enquanto instituição? Nada. Esperou placidamente o movimento se dispersar. E o mesmo procedimento é adotado frente à onda conservadora que estimula a homofobia, o racismo e a violência sexista. Aliás, os ruralistas de sempre se organizam no Congresso Nacional para anular os direitos dos indígenas e o que dizem os parlamentares de plantão? Zero vezes zero.
O transporte nas grandes cidades é um novelão diário pra milhões de brasileiros.
Se relativamente temos emprego em diversas regiões, este caminha paralelo a um oceano de precariedade e informalidade. E quem ingressou legitimamente na sociedade de consumo quer mais: cultura, lazer, melhores serviços, educação de qualidade, saúde, segurança e transportes. São os efeitos colaterais (positivos, diga-se) da redução das desigualdades sociais e econômicas. Evidentemente há o afastamento e o desencanto com a política e os políticos.
A chamada “crise de representação” não é um conceito acadêmico abstrato.
Porque no centro da questão há o déficit de democracia e legitimidade das Instituições políticas que colocam em xeque a capacidade dos atuais representantes em absorver as novas dinâmicas sociais e políticas que se expressam nas ruas do país. Nossa jovem democracia corre o risco de caducar precocemente se não for reaproximada de setores sociais mais dinâmicos.
O Rio de Janeiro, por exemplo, se tornou uma das cidades mais caras do mundo. Há uma reorganização em grande escala do espaço urbano, porém existem setores sociais completamente alienados e marginalizados do processo de “modernização” da cidade. Em São Paulo existe ainda (e sempre) uma polícia orientada no uso indiscriminado da força e da violência. E este é comum e rotineiro, não se restringe apenas aos dias e locais de protesto.
Seria recomendável aos políticos progressistas afastarem o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Seria também prá lá de aconselhável não delegar às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que, se ela possui, é precisamente contra a população. E isto é histórico, elementar, meus queridos.
Refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das “elites” é o primeiro passo no sentido de não bloquear qualquer dialogo com os novos movimentos. Melhor usar este momento para renovar a agenda da esquerda brasileira e reforçar os laços com os governos progressistas na América Latina, quiçá no mundo inteiro – que o termo Occupy, no título da coluna, envolve e traduz.
É hora de ouvir a voz das ruas – a mesma que as elites globais eternamente tentam silenciar. Querem um maravilhoso exemplo disto? Quando esta semana, de Paris, Alckmin – o governador elitista opusdeiano e o maior construtor de presídios de toda a história paulista – se manifestou contra a ação de “baderneiros”, O QUE ELE DISSE JÁ SE EXPLICOU PELO LOCAL DE ONDE FALOU.
OU SEJA, PARIS.
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