João Vieira *
O capítulo estratégico, por excelência da Sociologia é, inegavelmente, o símbolo. E quando alguém se transcende ou transmuda em símbolo, faz a festa do sociólogo, porque garante a exigência de seus serviços ou a atualidade da profissão. De sua vez o sociólogo político tem sua realização com uma boa quantidade de símbolos fortes na vida pública como, por exemplo, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e, aqui entre nós, agora o próprio Lula, que preenche os espaços de seu tempo e se projeta para a história.
Você, leitor, já viu logo aonde pretendo chegar sobre a responsabilidade de Lula (o nosso presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva), enquanto símbolo e por haver se constituído numa real categoria simbólica.
Os símbolos de que falamos obviamente assim o são e têm importância excepcional como tal, porque se fizeram entidades do bem; e como símbolos se tornaram uma referência positiva na ordem geral das coisas. Ao contrário, se fossem do mal à semelhança de um Hitler, Idi Amin Dada ou Bush, ou então um Fernandinho Beira-Mar, não interessaria tanto, nem à Sociologia e nem à sociedade. Daí que…
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Lula começou a interessar desde quando se insinuou para a representatividade política majoritária, dada a sua biografia de retirante pobre (paupérrimo) e que não obstante furara a arco de pua, na habilidade ou na sorte, sua passagem para a notoriedade e o sucesso na área política.
E o desejo do sociólogo e da sociedade, obviamente, é que estejamos nos referindo à política com “P” maiúsculo e não à politiquinha medíocre dos limitados e mal intencionados, ou mesmo à anti-política. Nisso, aliás, o fulcro, a chave ou o cerne dessa nossa reflexão, minha e do leitor, porque o perigo ronda o Lula – símbolo dia e noite –; perigo sim, de botar por água abaixo a sua condição de símbolo obtida até aqui no grito, na raça, na sorte ou, se quiser, a duras penas…
As ameaças
São muitas e estão à vista – como se nota: todos os “aloprados”, os Delúbios, Silvinhos (para perplexidade e vergonha dos sociólogos militantes, crédulos em razão de sua habilitação em Sociologia), assim como os insólitos mensaleiros.
Os “generais” errados ou duvidosos, no mínimo equivocados, como os Dirceus, Gushikens entre outros; os “compadres” e/ou amigos tortos e aliados que não recomendam, ou sujam e comprometem, como um Renan Calheiros, Jader Barbalho e equivalentes ou assemelhados. E também, e principalmente, os maus ou duvidosos conselheiros…
E o símbolo então é posto a perder ou quase.
De há muito queria comentar a assessoria geral do ministro Thomaz Bastos. Em que pese sua pretensa correção e dignidade, austeridade e mesmo a inconteste capacidade. Representou e talvez represente, em verdade, uma temeridade, simplesmente porque causídico criminalista pleno e absoluto.
Criminalista vocacionado, porque tendente sempre a conseguir a “lei-a-favor”, assim: você me paga e eu arranjo para você o benefício da impunidade. E com mais o agravante de ser o referido causídico um exemplar profissional do “direito de Estado”, que se sabe em si, muito – muito mesmo – limitado para a tremenda complexidade do mundo humano-social de hoje.
Com isto quero falar da disciplina (nobre) do Direito sem que se leve em conta variáveis tais como a sociológica e a psicológica, (e derivações) que conferem peso e valoração para questões como a evidência – por oposição ao fato frio e redutor da crença somente mediante prova material. Unicamente prova, visível, palpável… Quantificável! Afinal, quando um causídico esposa essa “ideologia” em seu perfil profissiográfico, se torna um perigo a qualquer “símbolo” que dele se valha como conselheiro.
E o Lula vai navegando, então, enquanto símbolo forte – quer queira, quer não – que é, no fio da navalha ou em tensão como na passagem de uma pinguela estreita, da qual pode despencar a qualquer momento. Daí essa nossa angústia, porque nada mais horripilante ou triste que a tragédia (sociológica) de um símbolo esvaziado, desfeito! Nisso, enfim, o grande compromisso, qual seja, o de não se permitir esvaziar – como que numa fraude social, frustrando esperanças.
P.S. – Sempre que vejo, por exemplo, uma mãe com um filho infante ou mesmo ainda na barriga – não importa se rica ou pobre – eu costumo perguntar: vai ser presidente da República? E digo isso por causa do emblemático exemplo da dona Lindu, paupérrima mãe do Lula, que não viveu para ver, mas lograra ter um filho seu feito presidente e como tal um “símbolo”, e que símbolo! E quase da mesma forma o também simbólico, já mitológico, Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira – JK
* João Vieira, sociólogo e professor universitário, foi diretor do Museu Rondon, da Universidade Federal do Mato Grosso.
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