Ouve-se por parte de alguns que seria “muito importante um segundo turno” nas eleições para prefeito do Rio. Me faz pensar naquele dito, penso inglês: “Cuidado com o que você deseja, pode ser atendido…” Me recordo da campanha de 2006. Fizemos uma força enorme para levar Denise Frossard para o segundo turno. Acabou acontecendo. No segundo turno, com tempo de TV igual e debates no mano-a-mano, revelou-se toda sua fragilidade. Para ela, não foi bom aquele segundo turno.
Embora possua algumas semelhanças eleitorais e midiáticas com Frossard – e um bom número de diferenças importantes também –, Marcelo Freixo não parece capaz de chegar lá. Menos pela sua performance como candidato – até agora bastante boa – mas pela configuração mais geral desse primeiro turno, que de certa forma acaba fazendo a vez do segundo: um favorito muito na frente, um segundo na casa dos 20%, e os outros lá atrás. Freixo, como já escrevi aqui, tem um terreno muito favorável se formos comparar com 2008. Não existe Crivela. Não tem candidatos à esquerda do porte de Jandira Feghali e tem o apoio de Chico Alencar. Tem um campo aberto para abocanhar o eleitorado “crítico” de classe média. Calculo que pode chegar a 25% a partir de onde teria mais dificuldade em crescer.
O número de indecisos é marcadamente pequeno, menos de 10%. Concentra-se nas áreas mais pobres e, com a grande vantagem que possui Eduardo Paes, tende a migrar para ele pelo menos na mesma proporção dos que já decidiram, senão maior. Outro dado: a rejeição de Paes é pequena para um prefeito no cargo, e está caindo. Ele é a segunda opção de um contingente maior de eleitores do Freixo do que vice versa. Finalmente, o dado mais decisivo para esse provável segundo turno, já no primeiro, é a anemia dos outros candidatos. Para que haja segundo turno, a soma de votos de todos os outros teria que ser maior do que a de Paes. E isso não parece nada fácil.
Francamente estou surpreso com a performance fraca de Rodrigo e Otávio, por razões diferentes. Otávio, por erros de estratégia e por uma circunstância fatal. A circunstância é aquela que já comentei aqui: seu arquétipo político é similar ao de Paes, e esse tende a fagocitar totalmente esse voto. O erro estratégico foi o de se colocar como porta estandarte dos tucanos. No Rio, há pouca simpatia por eles e nos seus spots – falei disso com ele lá na Câmara— ele bota o Aécio e outros luminares tucanos em primeiro plano. Ele, candidato a prefeito, em segundo. Erro fatal. Nesse tipo de comunicação o padrinho nunca deve ocupar o primeiro plano, mesmo sendo o Lula! Tem que aparecer endossando não estrelar o comercial.
Rodrigo… bem, sou suspeito para opinar porque, digamos, não possuo grande estima pelo rapaz. O fato é que sua rejeição, já elevada, explodiu com uma exposição maior, ao iniciar-se o programa de TV. Vi um comercial dele que achei terrivelmente equivocado, não entendo como o César deixou passar. Por outro lado, é mais uma demonstração de que em política nem sempre 2 + 2 são 4. Uma aliança tão contra-natural – do ponto de vista do eleitorado, não dos chefes – é muito perigosa, pelo menos no Rio.
E Aspásia? Vem subindo um pouquinho e minha hipótese otimista é que vai acabar chegando em terceiro. Já tem 3% dos votos femininos, e esse não se limita à classe média. Ela precisa se valorizar como a única mulher que, além disso, tem uma biografia consistente. A discussão sobre a Cedae é boa no espaço da imprensa escrita. No reduzido espaço de TV, ela tem que focar nos dois pontos fulcrais: mulher e biografia. Não tem espaço para questões “temáticas”, pois seu tempo é muito limitado. Sendo ela essencialmente “temática”, isso lhe traz uma dificuldade. Seu grande handicap é um partido destroçado. Nas pesquisas que tenho visto, o PV não elege vereador embora eu pense que vai acabar elegendo um. A direção nacional é responsável por ter nos transformado num campo de ruínas. Vinte milhões de votos e 26 anos de uma bela história jogados num lixão a céu aberto com chorume pra todo lado. Nessas circunstâncias, a ação de Aspásia é quase heroica.
Podemos ter alguma surpresa até o dia 7? Em tese sim, em política, tudo pode acontecer. Mas de todas as eleições recentes ganhas no primeiro turno essa é a mais desequilibrada, basicamente por anemia dos outros candidatos que não Marcelo Freixo. César, quando ganhou no primeiro turno de 2004, enfrentou Crivela, Jandira, Bittar e Conde. As lideranças mais fortes da eleição de 2008, Gabeira, Crivela, Jandira, não se animaram e, até agora, só o Freixo conseguiu despontar nesse vácuo com a dinâmica de uma candidatura que vai ocupar um espaço importante mas que não é realmente competitivo em termos de disputar o cargo de prefeito. O que mais se aproxima de sua performance – ele ainda terá que avançar um pouco mais— é o Chico Alencar, então no PT, na eleição de 1996, que ficou por volta dos 20%. Aquela eleição foi para o segundo turno porque havia um outro candidato forte, acima de 20%, que era o Sérgio Cabral,e que enfrentou Luís Paulo Conde, o “poste” de César Maia, então consagrado por ter feito um bom primeiro governo.
PublicidadeA única hipótese de segundo turno seria o surgimento de um segundo candidato capaz de se aproximar de um patamar entre 15% e 20% e do Freixo continuar subindo para além do patamar do voto do “cavaleiro andante”. A única que poderia teoricamente fazer isso, vista a débacle de Otávio e Rodrigo, é Aspásia, mas com um partido em frangalhos, pouco tempo, escasso recursos e um perfil light, vai ser uma pedreira.