Fui deputado federal por 16 anos. Período suficiente para, além de conhecer os bastidores do Congresso, também conhecer, entre outras coisas, os falsos e os hipócritas.
Bom observar que, para conhecer os hipócritas, não precisa exercer mandato nenhum, basta estar atento à vida cotidiana e, muitas vezes, às posturas sociais de qualquer coletividade. No dia-a-dia, é possível conhecer muitas pessoas e muitos discursos hipócritas.
No caso, cito a vida parlamentar porque os discursos ali feitos são reverberados na sociedade com mais força e ênfase. E são reverberados porque há interesses de setores da sociedade e da imprensa privada (Veja, Época, Folha de S.Paulo, Estadão, Globo, etc.), também hipócrita, de reverberá-los.
Fiquemos em um só exemplo, o da Rede Globo. Esta empresa de comunicação pede insistentemente a investigação do ex-presidente Lula e cita como alvo a ser investigado um apartamento triplex, que poderia ser do Lula, no Guarujá, litoral paulista.
Enquanto pede investigação contra o Lula, esconde o triplex que, até provem o contrário, seus proprietários (os donos da Globo) construíram ilegalmente na Baía de Paraty, na costa do Rio de Janeiro. E mais, o imóvel está em nome de uma empresa, a Agropecuária Veine.
Não é a primeira vez que escrevo sobre hipocrisia e comportamentos hipócritas, e provavelmente não será a última. Escrevo novamente sobre hipocrisia porque os fatos divulgados na semana passada explicitam como o PSDB e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) têm se comportado de maneira hipócrita.
Tanto FHC como a maioria do PSDB têm feito incontáveis discursos contra a corrupção e, no entanto, muitos são suspeitos e estão sendo investigados, e outros já foram condenados.
Outro discurso hipócrita diz respeito à questão do aborto: de público, colocam-se contra o aborto e, no entanto, na família deles há mulheres, quando não a própria esposa, amante ou namorada, que fizeram aborto. Infelizmente, isto não é propriedade só do PSDB, mas de muitos parlamentares de outras siglas partidárias.
Na última semana, ficou bastante explícita a hipocrisia destes setores, não só pela entrevista da jornalista Mirian Dutra, mas também pela operação “Alba Branca”, que investiga a compra da merenda escolar feita pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).
A hipocrisia está no fato de que o governo de São Paulo é do PSDB e do PSB, com apoio, entre outros, de PPS, DEM e Solidariedade. Todos esses partidos fazem discurso contra a corrupção, no entanto, se calam quando ela aparece em seu quintal e a mídia, de maneira geral, cai em um silêncio profundo.
Mais hipócrita ainda é o deputado estadual Fernando Capez (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, que participava, usando uma camiseta preconceituosa, dos atos pró-impeachment de Dilma e contra a corrupção e, agora, é denunciado como um dos cabeças da corrupção no caso da merenda. Se os tucanos roubam (o pão das crianças) na compra da merenda, imagine do que não são capazes de fazer.
Por falar em Fernando, não há como esquecer do mais famoso deles, o Fernando Henrique Cardoso (FHC), o ‘imortal príncipe dos sociólogos’. Este imortal tem nos últimos tempos feito discursos contra o PT, o governo Dilma e o Lula. Sobre Lula, em 26 de outubro do ano passado, no programa ’Roda Viva’, no qual divulgava seu livro Diários da Presidência, FHC disse que Dilma, apesar de “politicamente” responsável pelo que ocorreu na Petrobras, é “pessoalmente honrada”. “Quanto ao Lula, eu tenho que esperar para ver. Tem que esperar porque tem saído muita coisa que tem que ser passada a limpo.”
FHC errou: Dilma é honrada e umas das responsabilidades políticas que ela tem sobre a Petrobras é justamente fazer, sob seu governo, a mais profunda investigação sobre corrupção na estatal. Coisa que FHC nunca fez: todas as denúncias de corrupção nos oito anos de governo dele, que não foram poucas, foram parar nos crematórios.
No momento, todo o Brasil espera que a Polícia Federal investigue as relações, no mínimo esdrúxulas, que FHC teve com a Rede Globo para manter a jornalista Mirian Dutra na Europa. A deixa para iniciar esta investigação está nas entrevistas que a própria jornalista tem concedido.
Nestas entrevistas ela faz várias declarações que fogem da vida privada e vão para a vida pública, tal como: “Me manter longe do Brasil era um grande negócio para a Globo”. Entre este grande negócio há um financiamento, que precisa ser investigado, do BNDES para a Rede Globo. Além disso, ela cita o favorecimento a um dos diretores da Globo, Alberico de Souza Cruz, que ganhou uma TV em Minas Gerais.
Também é preciso investigar como FHC repassou 100 mil dólares à Brasif, que usou uma offshore nas Ilhas Cayman para repassar o dinheiro para Mirian Dutra.
Caiu a máscara do “príncipe” FHC, um dos maiores hipócritas da vida pública contemporânea. Mesmo assim, membros de seu partido continuam repetindo seus discursos hipócritas.
Por fim, duas observações: a questão do aborto deve ser debatida com profundidade e sem o véu da hipocrisia na cara. E FHC esqueceu de colocar no seu Diários da Presidência os fatos relatados agora por Mirian Dutra.
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