Marcos Magalhães |
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Um dia depois que a morte súbita no Rio de Janeiro parecia ressuscitar parte do antigo prestígio do ex-governador Leonel Brizola, submetido nos últimos anos a duas dolorosas derrotas eleitorais, uma pesquisa realizada pela Sensus, por encomenda da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), indicava queda de cinco pontos percentuais – de 34,6% para 29,4% – na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja rejeição, no caso de uma nova eleição, já estaria em 47,6%, segundo a mesma pesquisa. A aparente gangorra entre os maiores nomes da esquerda brasileira contemporânea indica a ocorrência de dois fenômenos paralelos. O primeiro deles é o ocaso das grandes lideranças carismáticas no país. O segundo, o crescente questionamento da política econômica, herdada por Lula e incorporada ao discurso do PT oficial, apesar de todas as críticas feitas anteriormente pelo partido às diretrizes impostas à economia pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e por seu ministro da Fazenda, Pedro Malan. Quase esquecido em seu apartamento de Copacabana nos últimos meses, Brizola irritou recentemente o PT por ter relatado ao correspondente do jornal The New York Times, Larry Rohter, que Lula tinha um consumo pouco moderado de bebidas destiladas nas viagens que os dois fizeram pelo país durante a campanha de 1998. A publicação da reportagem quase causou a expulsão do norte-americano. E líderes do PT insinuaram, em mais um momento de tensão entre os dois partidos, que a declaração havia sido motivada pela inveja que Brizola teria do sucesso de Lula. Recentemente, o líder do PDT vinha sendo cortejado por lideranças do PMDB fluminense para formar uma chapa alternativa à prefeitura do Rio de Janeiro. Mas a queda de sua própria popularidade tornava limitadas as chances de vitória de uma candidatura de seu partido. A morte de Brizola já levou muitos analistas a indicar até mesmo o provável fim do PDT. Ao mesmo tempo, porém, acabou ressaltando a importância do maior ativo do líder trabalhista: a coerência política, lembrada por antigos aliados e adversários. Coerência que começa a ser cobrada cada vez mais de Lula, eleito em uma grande onda de mudança que tomou conta do país em 2002 e deixou na poeira o então candidato Ciro Gomes, apoiado por Brizola. Ele assumiu o governo com enorme popularidade, que manteve praticamente intacta ao longo do primeiro ano de mandato. Indiscutivelmente o maior líder popular da história recente do país, o presidente também começa, no entanto, a sentir a dificuldade do teste das ruas, à medida que os resultados econômicos e sociais de seu governo – mantida a antiga política econômica – demoram a aparecer. Em seus pronunciamentos públicos, Lula tem pedido paciência. Lembra que só está no governo há um ano e meio e que, ainda assim, já estaria implantando uma mudança de rumo no país. A resposta popular, como indica a pesquisa CNT/Sensus, não é muito favorável ao presidente, cuja popularidade no início do mandato era quase o dobro da atual. Mas nem isto deve motivar muitas dores de cabeça no Palácio do Planalto. Se a liderança de Brizola se foi e a de Lula começa a se erodir, por outro lado nenhum outro grande nome desponta no cenário da política brasileira como detentor de um amplo prestígio pessoal. Ao contrário, mostra a mesma pesquisa, Lula ainda seria reeleito em um próximo pleito, mesmo contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O ocaso das grandes lideranças, apesar de tudo, ainda pode garantir a Lula um segundo mandato. Mas provavelmente sem a metade do glamour de 2002. |