Quem ainda tinha dúvidas pode começar a se acostumar. O presidente Lula optou definitivamente por liderar um governo baseado em uma coalizão de centro-direita. A exoneração de Carlos Lessa do BNDES foi só mais um passo para isso. Antes dela, já haviam vários sinais nesse sentido.
A política econômica cautelosa é só o terreno onde estão sendo plantadas as raízes desse novo PT. Só não viu quem não quis. Alguns sinais dessa disposição presidencial:
– A opção de Lula pelo comandante do Exército na briga com o ministro da Defesa, José Viegas, por causa dos documentos da ditadura.
– A torcida silenciosa pela reeleição de Bush nos Estados Unidos.
– A reforma da Previdência.
– A MP do Banco Central, destinada única e exclusivamente a proteger Henrique Meirelles de processos e investigações incômodas para o condutor da política monetária.
– A aproximação com o PL, PMDB, PTB e PP.
– O aumento da meta de superávit primário para pagar dívidas.
– O aumento dos juros, que beneficiam sobretudo o sistema financeiro.
– A defenestração de Carlos Lessa, o único nacionalista à moda antiga da equipe econômica.
– A opção pelo capital privado nas obras de infra-estrutura, abdicando do papel do Estado como indutor do crescimento.
– O silêncio em relação às reformas trabalhista e sindical.
Essa opção de Lula terá reflexos imediatos e a longo prazo no PT e no governo. No governo, já há sinalizações de que o PMDB terá uma maior participação no poder. Será formado um “governo de coalizão”, como bem disse o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), cotado para assumir um ministério da área social.
No PT, essa opção será dolorosa. O PMDB quer fazer alianças com o PT nas eleições estaduais de 2006 e exige indicar a cabeça das chapas em seis estados, como informa Sônia Mossri (leia mais).
Dentro do partido de Lula, aumenta o desconforto provocado pelas opções presidenciais, cada vez mais explícitas e cada vez mais direcionadas ao centro. Os petistas temem que o partido chegue em 2006 sem uma cara e propostas definidas. Afinal, como usar novamente o slogan das mudanças? Como se apresentar ao eleitor como o partido capaz de reduzir as desigualdades sociais?
Essas e outras perguntas estão na cabeça de petistas que comandam o partido no país todo e que atribuem a esta postura as derrotas sofridas em Porto Alegre e São Paulo nas eleições municipais. Eles vêem a marca PT se desvalorizar perante o eleitor e ficar cada vez mais parecida com a do PSDB. Com a diferença de que é muito mais fácil estar na oposição, o que favorece os tucanos para a próxima campanha eleitoral.