Ronaldo Brasiliense*
O físico Albert Einstein, um dos gênios da história da humanidade, teria dito, certa vez, ao ser indagado sobre como seria a terceira guerra mundial: "A terceira, eu não sei. A quarta será com paus e pedras".
O candidato tucano Geraldo Alckmin enveredou pelo mesmo caminho de Einstein ao condenar a emenda da reeleição em debate promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Para Alckmin, a cada vez mais provável reeleição do presidente Lula irá antecipar a campanha eleitoral de 2010. "Se o Lula for reeleito, acaba antes de começar. Já começa no dia seguinte a discutir 2010. Para que perder tempo?", questionou o ex-governador paulista. "A nossa proposta é de mudança. Já fui reeleito, e a reeleição é um pouquinho mais do mesmo", emendou.
O dia seguinte à reeleição de Lula terá vários complicadores para a governabilidade. O PFL, maltratado nas urnas nas disputas para os governos estaduais – perdeu na Bahia e corre o risco de apanhar em Pernambuco e no Maranhão – fez boa base no Senado e, de lá, deve comandar uma oposição implacável, parecida com aquela que o PT fazia no segundo governo Fernando Henrique. "Fora FHC!" Lembram-se?
O PSDB, com Geraldo Alckmin definitivamente entronizado como estrela de primeira grandeza no partido dos tucanos, vai se tornar uma espécie de fiel da balança na escolha do candidato que disputará as eleições presidenciais em 2010, quando, já se sabe antecipadamente, os governadores Aécio Neves, de Minas Gerais, e José Serra, de São Paulo, se digladiarão na arena tucana para ver quem assume a missão de levar o PSDB novamente ao Palácio do Planalto.
O PMDB continuará como sempre esteve desde o final da ditadura militar: dividido em alas de governistas e antigovernistas, mantendo suas bases municipais e estaduais intocadas, mas sem cacife para pleitear vôos maiores em 2010. Sem nomes para disputara a Presidência da República, acabará embarcando na canoa furada de um desses Ciros Gomes da vida, já que o PT pós-Lula estará órfão de nomes competitivos.
Lula, reeleito, será um presidente fraco, obrigado a resgatar para seu governo os derrotados do PT e do PMDB nas campanhas estaduais, a exemplo do que já fez em 2002, retalhando a Esplanada dos Ministérios entre políticos massacrados nas urnas. Na época, teve de criar 34 ministérios, um recorde na história republicana.
PublicidadeÉ triste até imaginar que figurinhas carimbadas como Newton Cardoso, Orestes Quércia, Ney Suassuna e Delfim Netto estarão de volta ao poder central. Quem sabe no comando de ministérios caso Lula seja reeleito.
Entre os petistas não reeleitos, Lula certamente levará para o seu entorno nomes honrados como os de Nilmário Miranda, Paulo Delgado, Sigmaringa Seixas e Luiz Eduardo Greenhalgh, turma de um PT ético rechaçada pelo voto soberano do eleitor brasileiro nas eleições deste outubro.
Qualquer que seja o resultado eleitoral, o Brasil sairá das urnas dividido. O PSDB comandará estados fortes como São Paulo, Minas Gerais e, provavelmente, Rio Grande do Sul e Pará. E desses estados montará suas bases para o ataque ao Planalto. Reeleito – mas ainda muito abatido pelos sucessivos escândalos de seu governo -, o presidente Lula terá mais que nunca de explorar o mito de ser o novo "pai dos pobres".
Que não seja mais uma vez tentado – e isso eu pago para ver – a cooptar, como nas operações comandadas pelo seu ex-gerente José Dirceu [o "chefe da quadrilha" do mensalão, como denunciou o procurador geral da República Antonio Fernando de Souza], deputados e senadores eleitos pela oposição para ingressarem em partidos da base aliada, no tristemente famoso "espetáculo da infidelidade partidária" que se repete a cada quatro anos.
Este, infelizmente, é o cenário da quarta guerra a que se referia Einstein.