Filipim*
Com a volta de tantas bandas morridas e enterradas – The Police, Led Zeppelin, Genesis, The Jesus & Mary Chain, Smashing Pumpkins e até Spice Girls, só pra citar algumas –, eu poderia dizer que 2007 foi um ano de nostalgia no mercado fonográfico. Mas não vou dizer, porque isso é uma tremenda cascata.
Com a indústria da música transportada na velocidade da luz dos cabos de fibra óptica da internet, mesmo os consumidores mais famintos tiveram dificuldade pra acompanhar os lançamentos deste ano. Além dos velhos medalhões, como Paul McCartney, Bruce Springsteen e Robert Plant, e dos novos medalhões, como Foo Fighters, White Stripes e Radiohead, a cada minuto um novo disco fundamental de uma nova promessa pipocava na rede.
Ainda assim, um álbum póstumo do compositor norte-americano Elliott Smith (1969-2003) se destacou no meio de todas essas novidades. Smith ficou conhecido em 97, quando uma de suas canções (Miss Misery) foi incluída na trilha sonora do filme Gênio indomável e concorreu ao Oscar de melhor canção original.
New Moon é um CD duplo, que reúne versões alternativas de músicas já lançadas nos discos oficiais do cantor, e músicas que foram descartadas depois de gravadas. A qualidade do som nem sempre é das melhores, ao longo dos 74 minutos da compilação, mas é compensada por momentos de Elliott Smith despido de qualquer produção. A inédita High times é certamente uma das melhores músicas da carreira do compositor. Ouça aqui.
O meu favorito deste ano veio também dos Estados Unidos. A banda Animal Collective, que é um dos maiores expoentes da vanguarda norte-americana, soube dosar folk, pós-punk e esquisitice no seu oitavo disco, Strawberry Jam.
Com esse álbum, a banda consegue se destacar dentre as centenas de artistas norte-americanos que embarcaram nessa onda de modernizar o folk. Músicas como Peacebone e Fireworks fazem o disco saltar da mediocridade para a genialidade. Veja ainda no Youtube.
Além de Strawberry Jam, Panda Bear, um dos fundadores do grupo, lançou este ano o elogiadíssimo Person Pitch, que o Guardian classificou como “Beach Boys transmitindo do fundo do mar”. Ouça o Strawberry Jam.
A banda mais comentada de 2007 foi a canadense Arcade Fire. O primeiro disco do grupo, Funeral, de 2004, foi unanimidade entre os críticos, e a expectativa para o lançamento do novo CD era enorme.
A chegada de Neon Bible às lojas foi precedida por ações de marketing, no mínimo, estranhas. Aparições de integrantes do grupo na platéia de um game show, um número de telefone em que se ouvia uma das músicas e, claro, as canções escapando uma a uma na rede.
Mas Neon Bible fez jus às expectativas e aparece em todas as listas de melhores de 2007 da imprensa estrangeira. A aprovação do disco não se restringiu só à crítica. Além de artistas como Bruce Springsteen, David Bowie e Dave Grohl (Foo Fighters), que se declararam fãs dos canadenses, o Arcade Fire conseguiu alcançar um público bem maior com seu segundo disco.
A atmosfera dark, mas ao mesmo tempo melodiosa e delicada, de Intervention, Neon Bible, Black wave/bad vibrations, Keep the car running e The well and the lighthouse vão fazer a banda ser lembrada nas próximas décadas. Conheça o Arcade Fire aqui.
No Brasil, o lançamento do ano ficou por conta dos alagoanos e caricocas do Fino Coletivo. A banda é formada por velhos conhecidos da cena independente brasileira, que se juntaram num churrasco e acabaram gravando um CD.
Mesclando samba e música eletrônica de um jeito inteligente e que foge do comum, o disco de estréia do grupo é delicioso. A vocação natural para o pop de Dragão, ou Hortelã, deixam a sonoridade requintada e acessível.
O ponto alto está no samba de partido alto Boa Hora, onde guitarra e programações suaves só fazem a localização temporal do som. Ouça aqui
Houve também o lançamento dos mato-grossenses do Vanguart, que, definitivamente, não decepcionou. A explosão da cantora Céu no exterior mostrou que nós não temos só CSS e Bonde do Rolê.
Ainda deu pra ter um gostinho do grupo carioca Do Amor, que lançou um EP de cinco músicas e promete grandes coisas pra 2008. Ah, sim: para quem não sabe, EP é um mini-disco, com menos de meia hora de duração e mais ou menos seis músicas.
* O músico e compositor Filipim, 23 anos, é criador da banda Onze, cujo trabalho também pode ser conhecido no blog http://www.onze.blogger.com.br/.
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