Luiz Aparecido *
O Comitê do Premio Nobel decidiu este ano, intempestivamente, conceder o Prêmio Nobel da Paz ao presidente norte-americano Barack Obama. Será merecido?
A mídia americana e mundial, controlada pelos mesmos homens e corporações que dominam o mundo, celebram alegremente o prêmio. Mas não acredito que o presidente americano, o primeiro negro a chegar ao governo (não ao poder), seja merecedor dessa honraria.
Ele até agora mantém, com vagas promessas de acabar, a agressão americana no Iraque, no Afeganistão, interferindo em assuntos internos de vários países do mundo, ameaçando nações soberanas, como Coréia do Norte e Irã, e por aí vai. Os suspeitos de terrorismo (sem culpa formada ou julgamento justo) contra alvos americanos, continuam detidos e sendo torturados na base usurpada de Guantánamo, em Cuba. O bloqueio econômico e humanitário que sufoca o povo cubano continua e a belicosidade americana permanece inalterada, apesar dos vários discursos de Barack Obama de que um dia mudará tudo isso.
Mas até agora nada mudou na beligerante política externa norte-americana e não creio que mudará tão cedo, se mudar!
A eleição de Barack Obama, enfrentando o status quo mantido pelas corporações que representam o poder do imperialismo norte-americano, foi um feito extraordinário. Afinal, há poucas décadas os negros, em certos estados do Sul, sofriam as mais bárbaras perseguições e segregações, sequer podiam andar na mesma calçada que os brancos ou frequentar os mesmos ambientes e escolas. Portanto, eleger um negro presidente da República é um feito que mostra a sociedade americana e o cidadão médio daquela potência mudando suas concepções de mundo.
Mas não podemos esquecer que se mantém inalterado o tripé do poder americano, baseado nas corporações do setor industrial/militar, no sistema financeiro hegemonista e no poder das indústrias de comunicação, entretenimento e mídia. A crise econômica gerada nos Estados Unidos e difundida por todo mundo capitalista não foi combatida a partir de sua germinação. Pelo contrário, para manter o poderio das corporações, Barak Obama usou o potencial do Estado americano para socorrer os setores mais atingidos pela crise, que foram os creditícios/financeiros e as indústrias automobilística e bélica.
E a crise por lá continua, seus efeitos mais graves apenas foram empurrados para debaixo do tapete. E quem mandava nos setores- chave do poderio americano continua mandando, ou seja: o Pentágono, Wall Street e a CIA.
Sem falar do golpe recente em Honduras, em que o presidente eleito e legitimamente no poder foi deposto numa ação militar típica daquelas articuladas pela CIA e seus amigos internos, isto é, a classe dominante hondurenha e seus sócios americanos.
Então, onde estão as mudanças prometidas por Barack Obama e seu espírito e ações pela paz mundial?
Ora, ele continua inclusive sustentando política, financeira e militarmente Israel, que mantém sua agressão contra o povo e a nação palestina, fustigando os países árabes independentes.
Se realmente Barack Obama decidir cumprir parte de suas promessas de campanha e terminar com as agressões americanas em vários países do mundo, implementar sua reforma do sistema de saúde, que beneficiaria o povo pobre dos Estados Unidos (é isso mesmo, há milhões de pobres naquele país e miséria terceiro-mundista em vários locais), democratizar a mídia e o capital e acabar com o poder soberano do setor industrial/bélico, pode mesmo é acabar com um tiro na cabeça.
Que é como os americanos realmente no poder costumam resolver suas diferenças políticas.
* Luiz Aparecido é jornalista.