Fabio Arruda Mortara*
Entre janeiro de 2007 e novembro de 2013, a indústria gráfica brasileira investiu US$ 10,45 bilhões em máquinas, equipamentos e processos, equiparando-se em qualidade e padrão tecnológico às melhores do mundo. Reflexo desse avanço observou-se no Concurso Latino-americano de Produtos Gráficos Theobaldo De Nigris 2013, no qual os impressos de nosso país ganharam de goleada, e também em certames como o promovido pela Printing Industries Of America (PIA), considerado o mais importante no plano internacional. Neste, também temos ganhado vários prêmios de excelência.
No entanto, a balança comercial do setor, que também deveria ser premiada por esse salto tecnológico e de qualidade, que em qualquer nação iria converter-se em imenso ganho competitivo, sofreu uma dramática virada. Paradoxal e ironicamente, no mesmo período em que fez o expressivo investimento, a indústria gráfica viu seu desempenho no comércio exterior cair de um superávit de US$ 64,46 milhões, ao cabo do ano de 2006, para um déficit de US$ 253,11 milhões, no acumulado de janeiro a novembro de 2013. Em 2012, o saldo negativo havia sido de US$ 229,01 milhões.
Os números evidenciam uma desconfortável realidade: livros brasileiros, embalagens de nossos alimentos e outros produtos gráficos estão sendo impressos no exterior, sacrificando empregos que poderiam ser gerados aqui, reduzindo a arrecadação de impostos e mitigando os investimentos. Os reflexos são terríveis para os resultados totais do setor: no terceiro trimestre de 2013, a sua produção encolheu 5,4% em relação ao trimestre anterior. Na comparação com o terceiro trimestre de 2012, a queda acumulada é de 9,3%. Com base nessas estatísticas, a projeção para 2013 é de um recuo de 5,6%, em comparação com 2012.
Ante a crescente perda de competitividade, a indústria gráfica brasileira entende serem razoáveis algumas medidas que tem pleiteado, como a isenção de PIS/Cofins para a impressão de livros, prioridade para obras rodadas em gráficas brasileiras no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), margem de preferência para impressos nacionais nas compras do governo e desoneração do IPI e PIS/Cofins dos materiais escolares. Não se trata de protecionismo ou qualquer privilégio, mas sim de diminuir um pouco a desvantagem competitiva em relação a outros países, que vão tomando conta de nosso mercado.
A perda paulatina da capacidade de competir, que não atinge apenas a indústria gráfica, mas numerosos setores da manufatura, agrava-se ante alguns problemas mais recentes: o péssimo resultado da balança comercial em 2013; o fator agregado a este do saldo bastante negativo das transações em contas correntes nas operações do Brasil com o exterior; e as manobras contábeis nos ajustes fiscais do governo federal. Tudo isso, somado à infinita postergação das reformas tributária, previdenciária e trabalhista, conspira contra a retomada dos investimentos e a favor do aprofundamento das desconfianças.
O Brasil ainda desfruta de alguns indicadores positivos, remanescentes de alguns bons momentos de sua economia nos últimos anos: taxa de desemprego dentre as menores do mundo; reservas cambiais em torno de US$ 400 bilhões; saúde do sistema financeiro; e mercado consumidor ampliado pelo bem-sucedido processo de inclusão e ascensão socioeconômica. Entretanto, estamos colocando tudo isso em risco. Não há ânimo empreendedor que se mantenha inabalável ante a transformação de investimentos de US$ 10 bilhões em déficit comercial setorial de US$ 229 milhões, como ocorreu com as gráficas. É um irônico paradoxo!
*É presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (ABIGRAF Nacional) e do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (SINDIGRAF) e coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e Embalagem (Copagrem) da Fiesp.