Cristia Corrêa de Lima*
O educador pernambucano Paulo Freire ensinava que a liberdade é uma conquista e não uma doação. Cabe ao povo nas urnas decidir pela vida fácil subserviente e paternalista ou pela árdua, trabalhosa e eterna conquista da liberdade.
A sensação pré-eleitoral é a de se encontrar em uma zona de baixo meretrício onde o principal agenciador proxeneta é o governo, na tentativa, a qualquer custo, de se manter no poder. Até o senador Eduardo Suplicy está a venda.
Enquanto isso, o cidadão produtivo chega à metade do ano entregando aos cofres públicos todo o seu trabalho em tributos, em taxas e em contribuições, sem retorno em serviços públicos satisfatórios. As áreas de saúde e de segurança estão entre os serviços mais demandados pela população, as quais exigem mais do orçamento e impactam negativamente a imagem dos atuais gestores, futuros candidatos.
O noticiário diário jorra sangue e denuncia os crimes mais bárbaros. Notícias já sem expressão são veiculadas de forma banal: cidadãos que passam dias inteiros em frente aos hospitais, erros médicos, falta de leitos e corrupção em todos os níveis da estrutura burocrática.
Apesar disso, e do preço do tomate, do feijão e das tarifas públicas, a mensagem do governo é de que “está tudo sob controle”. O aumento da meta de inflação é um detalhe que o cidadão não deixa despercebido e começa a assustar. O reflexo é percebido na redução do consumo de bens duráveis e na restrição ao crédito.
O esforço dos mandões da vez é imenso, para driblar a insatisfação das diversas categorias de trabalhadores que indicam greves para evitar a perda de direitos trabalhistas, adquiridos ao longo da história. Situação que incomoda as bases em véspera de eleições e força a troca de favores entre o governo e os sindicatos pelegos, nos moldes do velho e conhecido clientelismo.
Agenciar os interesseiros da coalizão e dos sindicatos que se sentem à margem do poder é malabarismo interessante de se assistir no circo de horrores que se tornou a política brasileira.
O cidadão começa a ser aliciado pelas primorosas e elaboradas peças publicitárias apresentadas pelos partidos em seus programas partidários obrigatórios, exibidos pela televisão.
Sem sentir, o eleitor acaba por vender seu corpo e sua alma para aquelas promessas que, de tão benfeitas e cheias de astros da TV, assemelham- se a uma novela. Não é sem motivo que cada segundo no horário eleitoral na televisão, vale qualquer esforço. A missão atual é tentar evitar dividi-lo com mais algum partido que se atreva a entrar na disputa. A ponto de esquecer que estamos em um Estado “democrático” pluripartidarista.
Após as deslumbrantes eleições e os monumentais, bilionários e comoventes eventos esportivos, é que o cidadão se dá conta da ilusão das promessas e de que a dívida está impagável. Isso é semelhante a uma mulher que encantada pelos belos vestidos e bijuterias acaba por se ver presa aos desmandos e aos interesses de seu cafetão sem recursos para pagar-lhe a dívida e se sujeita a toda e qualquer situação.
A população parece não se dar conta de que aos poucos vem perdendo sua liberdade. Os grandes prédios públicos em Brasília estão cercados. Ao chegar perto do Palácio do Planalto, passando pelo Congresso Nacional, “A Casa do Povo”, e pelo Supremo Tribunal Federal, é possível sentir a força do poder com a imponência de suas cercas, fossos e aparatos bem pagos, com seguranças que impedem os cidadãos de se aproximarem.
Segundo o governo, exigências contratuais com a FIFA obrigam a instalação de cercas que tomam, aos poucos, de forma sutil, o espaço dos visitantes. Até o momento, estão cercados o Mané Garrincha “Estádio Nacional”, o Centro de Convenções e a construção adjacente. As cercas descaracterizam o urbanismo de Brasília, impedem a visão do horizonte, marca internacionalmente conhecida da paisagem brasiliense, e retiram a liberdade de ir e vir.
Resta a escolha ao povo: contentar-se em ser súdito, ao receber migalhas que aparentam ser “concedidas” pelo poder, mas pagas com seus suados impostos, ou se impor definitivamente nas urnas como soberano nos caminhos do país e exigir respeito ao contribuinte e a coisa pública.
* Cristia Corrêa de Lima é servidora pública no GDF, contabilista e estudante de Gestão de Políticas Públicas na UnB