Geraldo Serathiuk
Fui convidado para fazer uma palestra no Conselho Estadual dos Direitos do Idoso sobre o cenário econômico e o mundo do trabalho. Refleti como deveria introduzir o assunto, de modo a estabelecer uma relação entre as minhas palavras e a vida das pessoas ali presentes.
Quando iniciei a organização dos conteúdos, uma idéia me ocorreu: comecei a analisar os dados econômicos da época em que o público que assistiria a minha palestra havia nascido, por volta de 1940 e 1950 (eles hoje estão na casa dos 60 a 70 anos).
Vi que do período em que eles nasceram até meados dos anos 70 o Brasil havia crescido muito e nos anos seguintes entrou em recessão, obtendo baixo nível de crescimento até aproximadamente o início do século atual.
Com essas informações iniciei minha palestra dizendo a eles que até aproximadamente os seus 30 anos de idade o Brasil estava em crescimento e que depois haviam vivido em um país em recessão e com baixo nível de crescimento.
E que por esse motivo suas vidas e destino ficaram marcados.
Foi então que um dos presentes levantou-se e nos contou que nesse período muitos da geração dele, atingidos pela recessão e pelo desemprego, entraram em depressão ou se suicidaram.
Todos foram feridos em sua dignidade ao não conseguirem mais trabalho.
Naquele momento, relembrei de um livro que li ainda estudante e que falava de uma pesquisa de mobilidade social na França.
O livro dizia o quanto o destino pessoal está ligado ao destino da classe social onde nascemos, ressaltando as poucas possibilidades de mobilidade social naquele país.
O que é um fato!
Porém, com a retomada do crescimento econômico no Brasil, numa sociedade em construção, a situação pode mudar, proporcionando maior mobilidade social e a melhora da vida de milhões de pessoas.
Disse a eles que diante desse cenário deveríamos analisar a vida de todos os nossos amigos e familiares. Inúmeras vezes, de forma errônea, atribui-se a eles a responsabilidade pela falta de emprego. E aí são segregados, estigmatizados e jogados para caminhos difíceis, como os antes descritos.
Mostrei o quanto o mercado de trabalho no período da recessão descartou os mais velhos e o quanto a implantação do fator previdenciário, no período em que as ideias do Estado mínimo e do livre mercado imperaram, sacrificou e continua a sacrificar os aposentados. Ouvi deles o quanto sofrem, por ainda não terem uma rede de entidades públicas para acolhê-los na velhice. Vivem por esse motivo nas mãos de empresários privados que os exploram e de familiares que os maltratam, inclusive com violência, como nos mostram os dados das denúncias no Disque Idoso.
Ao relatarem que o poder público não tem uma política direcionada a eles, perguntei se imaginam qual o valor que durante as suas vidas os idosos colocaram e ainda colocam na economia de cada município, nos estados e no país com seu trabalho, aposentadorias e pensões?
Não sabiam!
Disse então que em 70% dos municípios o que os idosos colocam na economia era cinco vezes maior do que o repasse do Fundo de Participação dos Municípios, e a força econômica deles não é diferente em relação aos estados e ao país. Acrescentei que eles precisavam conhecer esses números para conversar com prefeitos, governadores e até com o presidente da República, para mostrar-lhes o quando os idosos contribuem para girar a economia e que eles merecem contar nos orçamentos públicos com a contrapartida de políticas públicas específicas.
Saí da palestra, como saio de tantas outras, lembrando o refrão de uma música: “O seu olhar melhora, melhora o meu”.
Aqueles idosos, que me cumprimentavam pelas análises e informações passadas sobre suas vidas, a economia e o trabalho, me ensinaram e me convenceram de que, apesar da evolução que tivemos com a conquista de uma legislação em defesa do idoso e de políticas públicas, ainda estamos muito, mas muito longe de dizer que temos uma política pública nacional voltada para eles. De forma corajosa, eles estão ali lutando por ela, para que uma geração futura de idosos seja beneficiada, pois a deles, da mesma forma que foi sacrificada no passado pela recessão e pelo fator previdenciário, continua sofrendo os efeitos daqueles tempos até os nossos dias.
* Advogado, especializado pelo Instituto Brasileiro de Estudos Empresariais, no Paraná (Ibej/PR), com MBA em Marketing pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
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