Daniella Borges 

Conhecido pela inabilidade com as palavras, Severino Cavalcanti (PP-PE) protagonizou pelo menos três embates verbais com lideranças partidárias. Um mês após se eleger com o apoio do PSDB, partiu para o confronto com o líder do partido. Nas últimas semanas de seu breve reinado, discutiu publicamente com o presidente do PPS e a principal liderança do PV. 

Severino Cavalcanti x Fernando Gabeira

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) não gostou de sentir cheiro de pizza ao ler entrevista de Severino Cavalcanti ao jornal Folha de S. Paulo, em que o então presidente da Câmara defendia penas brandas para os deputados envolvidos no escândalo do mensalão.

No mesmo dia da publicação da matéria, Gabeira tomou da palavra com a mesma disposição que demonstrava em seus tempos de guerrilheiro para registrar seu protesto: “Sr. presidente, peço a palavra para uma reclamação. V. Excelência finge que não está ouvindo, mas já pedi a palavra há algum tempo. Desejo fazer uma reclamação contra a presidência da Casa.”

“Vossa Excelência deve ter falado muito baixo ou muito fino. Por isso não o ouvi. Tem Vossa Excelência a palavra”, devolveu Severino.

O que se viu, em seguida, foi o início da derrocada do auto-denominado “rei do baixo-clero”, que cairia dias depois vítima do próprio mensalinho.

“Muito obrigado. Vossa Excelência tem de prestar mais atenção. Sr. presidente, V. Excelência concedeu à Folha de S. Paulo entrevista incompatível com o cargo de presidente da Câmara dos Deputados. V. Excelência se comporta de maneira indigna no cargo de presidente da Câmara dos Deputados. Afirmo que Vossa Excelência está em contradição com o Brasil. A sua presença na presidência da Câmara é um desastre para a imagem do Brasil! Ou Vossa Excelência fica calado, ou vamos iniciar movimento para derrubá-lo!”

Severino não se calou: “Deputado, recolha-se à sua insignificância e não faça insinuações que só cabem a V. Excelência Eu não as aceito!”.

Severino Cavalcanti x Roberto Freire

No dia seguinte à discussão entre Gabeira e Severino, foi a vez de Roberto Freire (PE), presidente do PPS, protagonizar um bate-boca com o então presidente da Câmara: “Este Severino é um irresponsável, isso toda a sociedade brasileira conhece. O que ele está tentando fazer é obstruir as investigações, não querer as punições. É um despreparado para o cargo. O Fernando Gabeira, se foi um pouco duro, ele foi um bom representante de qual é o pensamento do Congresso Nacional. Este presidente que nós temos é um desastre. O PPS alertou que era uma irresponsabilidade ter entregado a presidência a quem não tinha nenhum preparo, disse o presidente do PPS.”

“Ele (Roberto Freire) primeiro tem que se defender da acusação do dinheiro que recebeu o seu partido, porque o PPS vai ser denunciado na comissão também, porque recebeu dinheiro para apoiar a candidatura do presidente Lula. Ele tem tido uma posição muito boa para denunciar, mas quando foi para pegar o dinheiro, ele pegou com a maior facilidade”, retrucou Severino.

Severino Cavalcanti x Alberto Goldman

Eleito em fevereiro com o apoio dos tucanos, Severino não precisou mais de um mês para bater boca com o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). Irritado com a demora de Severino em examinar o pedido de abertura de processo contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por crime de responsabilidade, Goldman disse que a protelação do progressista “estava cheirando a barganha”.  

Na presidência da sessão, Severino contra-atacou: “Ele (Goldman) deveria ver o seu passado". "Foram critérios duvidosos na privatização da Via Dutra. Procure respeitar quem merece respeito", completou o então presidente da Casa.

Aos gritos, Goldman exigiu e negou ter ofendido Severino. "Vossa Excelência devia tomar mais cuidado antes de fazer uma afirmação dessas", disse. "Vossa Excelência não respeita a dignidade dos deputados. Nunca fui processado na minha vida. Nunca fui sequer citado em um processo", protestou o tucano.