Reginaldo Gonçalves *
O início de 2016 já apresenta desafios que deveremos administrar tanto no cenário nacional quanto no internacional. Os problemas nas Bolsas de Valores do mundo mostram os efeitos das questões conjunturais, como a queda de quase 7% registrada na Bolsa da China. Isso demonstra que um dos países mais populosos do mundo deve ter uma redução em seu crescimento. E não podemos esquecer que, ao sinal de uma pequena gripe, o mundo acaba contraindo uma pneumonia.
A dependência das commodities importadas pela China já vem sendo reduzida. Foram dez meses consecutivos em que vimos a indústria encolhendo. Com isso, o preço das commodities sofre uma retração, já que o mercado chinês é um dos maiores consumidores de petróleo e ferro do mundo. As Bolsas no mundo caíram em virtude desse cenário difícil provocado pela Bolsa Chinesa.
Outra situação que deverá provocar certamente problemas para economia mundial é o problema enfrentado pelo Irã e pela Arábia Saudita. Desde 1979 são registradas divergências. Como estão em jogo regiões produtoras de petróleo, isso certamente envolverá outros países, poderá refletir na Eurozona e gerar alguns outros impactos negativos, principalmente em países que não estão conseguindo se recuperar da crise globalizada, como Grécia, Portugal, Itália e Espanha.
Na economia brasileira os problemas internacionais acabam sendo potencializados, por conta do quadro político ainda à deriva, com discussões sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff e as pedaladas fiscais. Os valores foram pagos aos bancos públicos na calada da noite, o que acabou prejudicando ainda mais a economia, em virtude do aumento do endividamento público – que atingiu R$ 3,84 trilhões até novembro do ano passado.
O balanço mostrará que esse total deverá aumentar ainda mais por causa da situação das empresas, que enfrentam um quadro difícil de faturamento, aumentando a incidência de desemprego.
O aumento dos juros no mercado interno acabou acontecendo em virtude do risco de calote que os bancos podem começar a ter, já que a economia apresenta pontos de saturação.
A falta de credibilidade brasileira dificulta a captação de potenciais investidores nos mercados interno e externo, tanto para empréstimos quanto para participações em negócios por meio de compras e fusões de empresas.
O aumento do salário mínimo para R$ 880 já demonstra que o déficit da Previdência Social será maior ainda. O governo terá problemas com baixa arrecadação também para cumprir compromissos ainda este ano. E a pressão dos congressistas deve provocar a manutenção dos investimentos sociais no Bolsa Família e no projeto Minha Casa, Minha Vida.
A corrupção, demonstrada em 2015 com os desvios de recursos nas mais diversas áreas, está desiludindo os empresários, que não conseguem fazer investimentos. O aumento dos custos da produção é uma vergonha, já que os preços administrados vêm sendo reajustados sistematicamente – principalmente petróleo e energia elétrica, mesmo com o preço do barril no mercado internacional caindo significativamente. A queda não está sendo repassada aos consumidores com a justificativa de reposicionar o caixa da Petrobrás.
Todos os fatores de desconfiança no quadro político atrelados a uma economia fragilizada por custos cada vez mais altos desestimulam os investimentos, já que o próprio governo deixou de investir na parte logística, o que poderia auxiliar na redução dos preços dos produtos.
No Brasil a bolsa de valores despenca e o dólar dispara. A desvalorização da moeda pode estimular as exportações de produtos, tornando-os mais competitivos. Mas quem tem dívidas em moeda norte-americana poderá amargar mais prejuízos. Isso dificulta o cenário para as empresas dependentes de empréstimo do exterior a desestimula a continuidade dos seus negócios.
Se o cenário continuar da forma que vem sendo conduzido, com investimentos efetuados em áreas não prioritárias, com gastos acima da receita orçada e realizada, certamente o desemprego será maior, a situação de endividamento aumentará e teremos em 2016 ambiente ainda pior do que o de 2015. Se não houver um reequilíbrio e respeito entre os poderes, a exclusão das pessoas envolvidas com problemas de desvios de finalidade e um investimento nas empresas de modo geral, certamente o cenário não se reverterá.
O uso das pedaladas e da contabilidade criativa foram o estopim para comprovar que algo estava muito errado na condução dos negócios. Hoje a simples troca de presidente não resolve o problema. Se o brasileiro não se informar e se envolver mais nas questões que envolvem a sua qualidade de vida, de nada vai adiantar a luta de pequenos grupos. A informação é a chave do sucesso e somente com ela podemos ter sustentação na busca de uma condição melhor para todos.
* Reginaldo Gonçalves é coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina (FASM). Graduado em Ciências Contábeis pelas Faculdades Metropolitanas Unidas e mestre pela PUC-SP. Especialista pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
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