Expedito Filho, de Nova York |
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O álcool não é um bom conselheiro, mas os assesores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva podem ainda ser piores. Algumas vezes, o governo elege inimigos inexistentes e trava com eles uma guerra quixotesca. O episódio envolvendo o repórter Larry Rohter, do New York Times, foi uma dessas batalhas com um inimigo inexistente e revela o grau de inexperiência do primeiro time do Planalto. Por aqui, em Nova York, a matéria teve uma repercussão pífia, embora no Brasil a discussão tenha tido o calor de uma final de copa do mundo. Em determinado momento, tornou-se mais importante a defesa da imagem do presidente, esquecendo-se que foi a luta pela livre informação que levou Lula a transformar-se, em termos globais, em um dos mais importantes políticos de sua geração. Se ele bebe – e tem gente do próprio governo achando que o presidente aqui e ali comete uns excessos –, era hora do primeiro time ter uma conversa franca e leal para mostrar a Lula o quanto é importante tê-lo sóbrio nesses próximos três anos de governo. Uma dose de racionalidade é preciso porque o governo Lula tem pela frente um cenário absolutamente contrário. Pode-se dizer que, neste ano, o Brasil vive seu melhor momento do ponto de vista das condições externas. E olha que a coisa já está degringolando .Como se sabe, os juros americanos devem subir de 1% para 3,5%, em um processo que começa esse ano e vai até o final do ano que vem. O provável é que a mexida na taxa de juros aqui, nos EUA, só ocorra depois da eleição americana, em novembro, embora o mercado já esteja antecipando a medida e apostando em uma mudança já em julho deste ano, o que eu acho dificil. O certo é que a alteração das taxas de juros americanas terá um forte impacto na economia brasileira. A nossa taxa de juros é composta, a grosso modo, pela soma da taxa de juros americano, o chamado risco Brasil e mais a inflação. Com a elevação dos juros americanos, a nossa taxa de juros terá que subir ainda mais, inviabilizando o crescimento da economia. Esse é o real problema político. O dinheiro barato para investimento, que viaja o mundo em busca de taxas de juros anabolizadas, deverá ficar nos Estados Unidos. Para o Brasil deverá sobrar apenas o dinheiro de alta rotatividade, gerando instabilidade política e econômica. Persistindo esse cenario, a situação política se complica. Lula não se reelege sequer para presidente do sindicato de metalúrgicos de São Bernardo, quanto mais para presidente da República. Sua reeleição fica comprometida e o projeto de poder do PT fica do tamanho do atual mandato. Governar é definir rumos e conhecer detalhadamente as condições da rota. O poder não gosta de amadores e é cruel com a inexperiência e o deslumbramento. Até aqui, o governo Lula tem desconhecido as mais elementares lições brasilienses. Como resultado, prefere o desgaste de decisões emocionais que retiram força e musculatura política necessárias para o enfrentamento das crises que se aproximam. Foi assim ao não afastar o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, no caso Waldomiro Diniz e agora no episódio do New York Times. Se não mudar o padrão, dando ao seu governo a racionalidade necessária para enfrentar os momentos de crise, o governo Lula pode viver a ressaca da não reeleição. |