Para quem acompanha o noticiário econômico nacional, é difícil não perceber um clima de ‘sinistrose’ que perpassa boa parte dos grandes meios de comunicação em relação à situação do país. É como se estivéssemos vivendo o pior dos mundos, com indicadores cada vez mais desanimadores, investidores arredios e agências de risco ameaçando abaixar a classificação do Brasil. Na contramão desse pessimismo, o Valor Econômico publicou na última sexta-feira uma reportagem sintomática, constatando que a economia do México, chamado de ‘queridinho dos mercados’, cresceu bem menos que a do Brasil em 2013: 1,2%, do PIB, contra os 2,3% esperados para o país, de acordo com as projeções do Banco Mundial e do FMI.
Dias antes, no mesmo jornal, o articulista Cristiano Romero elencava as medidas que o governo federal vem tomando para melhorar a gestão macroeconômica, que permitirá ao Brasil enfrentar a crise que atinge alguns países emergentes em razão do processo de normalização da política monetária americana. Ou seja: o governo tem adotado medidas consistentes para enfrentar eventuais turbulências dos mercados internacionais nos emergentes.
Reflexo disso é a invejável situação do nosso sistema financeiro, que vai muito bem, obrigado. Segundo dados divulgados recentemente pelo Banco Central, o total de crédito do sistema financeiro, computadas as operações com recursos livres e direcionados, atingiu R$ 2,7 trilhões em dezembro de 2013, com crescimento mensal de 2,4%, acumulando expansão de 14,6% em todo o ano, em comparação aos 16,4% registrados em 2012. De acordo com o BC, a relação crédito/PIB atingiu 56,5%, ante 55,5% em novembro e 53,9% no final de 2012. O crédito às empresas cresceu 3%, crescendo R$ 1,4 trilhão, comparativamente à expansão de 1,8% na carteira de pessoas físicas, que totalizou R$ 1,2 trilhão.
Houve, de fato, diminuição do ritmo de expansão do crédito em 2013, em razão da desaceleração nas operações com recursos livres, influenciada pela elevação da Selic, a taxa básica de juros e pelo menor dinamismo do consumo das famílias. Mas, de acordo com o documento do BC, as operações com recursos direcionados tiveram expansão nos principais segmentos; na comparação com a evolução de 2012, pode-se citar a aceleração do crédito rural e a manutenção do ritmo de crescimento dos financiamentos imobiliários e com recursos do BNDES. O documento revela que em 2013, o mercado de crédito teve um aumento das taxas de juros que foi acompanhado por uma redução dos spreads – diferença entre a taxa paga pelos bancos na captação do dinheiro e as que eles cobram pelos empréstimos –, elevação de prazos e forte diminuição da inadimplência, cujos índices alcançaram patamares mínimos da série histórica, que teve início em março de 2011.
O Banco Central assinala ainda que as operações com recursos livres tiveram uma participação de 55,5% no total de crédito do sistema financeiro, totalizando R$ 1,5 trilhão em dezembro, com expansões de 1,7% no mês e 7,8% durante todo o ano. Impulsionado pelas contratações de capital de giro, repasses externos e financiamento das exportações, houve expansão de 2,4% nas carteiras de pessoas jurídicas, com saldo de R$ 763 bilhões. E os créditos livres a pessoas físicas cresceram 1%, totalizando R$ 745 bilhões, com ênfase nas operações de cartões de crédito.
Também cresceu o saldo do crédito direcionado, que atingiu R$ 1,2 trilhão com crescimento de 3,3% em dezembro e 24,5% em 2013. O saldo de pessoas físicas expandiu 2,9% no mês e nada menos que 32,1% no ano, alcançando R$ 506 bilhões, com destaque para financiamentos imobiliários. As empresas tiveram créditos no valor de R$ 701 bilhões, depois de aumentos de 3,7% no mês e 19,6% em todo o ano. O BC assinala que as concessões do BNDES, excluídas as operações do BNDESPAR, atingiram R$ 169,7 bilhões no ano que passou, superando em 22,9% as concessões acumuladas em 2012. Entre elas, as principais foram desembolsos para a agropecuária, transportes terrestres e aéreos e infraestrutura urbana.
Em relação ao spread bancário das operações de crédito, cabe registrar que, consideradas as operações com recursos livres e direcionados, a taxa atingiu 1,1 ponto percentual, depois de cair 0,4 ponto percentual no mês na variação anual. Segundo o BC, os spreads foram de 6,9 ponto percentual para pessoas jurídicas e 16,4 ponto percentual para pessoas físicas. E a inadimplência do sistema financeiro, no que se refere a operações com atrasos superiores a 90 dias, recuou 0,1 ponto percentual em dezembro, ficando em 3%, o menor patamar da série histórica iniciada em março de 2011.
Se a economia estivesse tão ruim e sem rumo, os reflexos no sistema financeiro não poderiam se expressar em números tão robustos.
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