Mais uma vez, vamos pagar a conta dessa mamata anual chamada convocação extraordinária do Congresso Nacional. São mais de R$ 100 milhões do meu, do seu, do nosso suado dinheirinho para encher os bolsos de parlamentares gazeteiros, que nem se preocupam em justificar ausência. Eles fazem de conta que trabalham e o eleitor, sem memória, acabará reelegendo boa parte dessa turma em outubro de 2006.
O que mais irrita é saber que as reuniões das comissões parlamentares de inquérito dos Correios e dos Bingos e do Conselho de Ética da Câmara respaldam essa convocação ordinária (ops…). Ordinária porque servirá para dar continuidade às pizzas anunciadas, que começaram a ser servidas com a absolvição do boa praça deputado mineiro Romeu Queiroz (PTB).
Parece que o que está em jogo, no Conselho de Ética e no plenário da Câmara, não é a ética, o mensalão, o “dinheiro não contabilizado” – na linguagem delubiana – ou a corrupção desenfreada em estatais, autarquias, ministérios, bancos e fundos de pensão, mas sim a cordialidade do parlamentar que vai a julgamento. É um critério para lá de estapafúrdio.
Julgamento em plenário, de parlamentar acusado de receber dinheiro do valerioduto virou, por incrível que pareça, concurso de Miss Simpatia. O professor Luizinho e o deputado João Paulo são simpáticos. Logo, serão inocentados. José Dirceu, que não fez saques nas contas de Marcos Valério, é arrogante: cassação nele! Roberto Brant (PFL-MG) é gente boa, dá tapinha nas costas de todo mundo e, por isso, deve ser absolvido. Roberto Jefferson não provou a existência do mensalão, mas jogou lama no PT, no PL e no PP, por isso mereceu ser cassado. E por aí vai…
Agora, o Conselho de Ética analisa os casos de Pedro Corrêa, o presidente do PP que recebeu uma baba do valerioduto, e de Roberto Brant (PFL-MG), que confessou ter recebido R$ 102 mil da Usiminas por intermédio de Marcos Valério, em 2004, e não declarou o dinheiro à Justiça Eleitoral. Usou caixa dois, portanto. Mas isso não importa para os ilustres deputados julgadores. O que vale é saber se Brant é boa praça ou arrogante. O mesmo vale para Corrêa, que já apareceu envolvido em outros casos escabrosos. O julgamento, ou concurso, lembrem-se, é de Miss Simpatia.
E toda essa encenação para que os relatórios dos envolvidos com a grana da dupla Valério-Delúbio sejam apresentados sabe quando? Dia 16 de janeiro, só no ano que vem, quando efetivamente o Congresso Nacional volta a funcionar. O Conselho de Ética deve pedir a cassação de Corrêa e Brant, mas isso pouco importa. O que estará em julgamento não é a corrupção, o caixa 2, a ética na política e nem o decoro parlamentar.
O que importa é a simpatia e o acordão de bastidores firmado pelos líderes dos principais partidos envolvidos com o mensalão para garantir a impunidade de uma corja que, com certeza, integra aquela turma dos 300 picaretas citada pelo então deputado federal Luiz Inácio Lula da Silva em tempos de Assembléia Nacional Constituinte.
Essa, infelizmente, é a realidade.
Feliz Natal e um próspero Ano Novo para todos, apesar deles…