Acho que não devíamos nos espantar com o caso Renan, afinal ele faz parte da mesma síndrome histórico-geográfica que, nos últimos anos, já nos brindou com duas hecatombes político-eleitorais: Fernando Collor e o próprio Renan himself.
Meio que na contracorrente daqueles que se indignam contra a atual conjuntura política em nosso país, particularmente meu colega de site, Claudinho Versiani (leia mais), é preciso atentar para a mídia conservadora e golpista. Que, mais do que um fato, tornou-se uma verdadeira hecatombe cotidiana (mais outra, não bastassem as já mencionadas), a respeito da qual aí vão algumas questões corajosamente apontadas por Paulo Henrique Amorim (1):
“Para que serve ser jornalista? Para servir ao público. Segundo Mino Carta, o jornalista deve buscar a verdade factual, a imparcialidade e exercer vigilância sobre o poder. Poder representado pelo Estado e por aqueles que estão fora do Estado, mas mandam – como, no Brasil, a mídia conservadora e golpista. É papel central numa democracia oferecer os fatos para que o cidadão possa escolher. Por isso, é preciso ficar claro o que é fato e o que é opinião. A mídia conservadora e golpista aposta no caos. Por quê? Wanderley Guilherme dos Santos, na revista Carta Capital, explica: o poder da mídia brasileira é o poder de provocar crises políticas. A mídia brasileira promove a crise para negociar sua sustentabilidade, porque está em crise econômica: faltam anúncios e leitores. É uma crise provavelmente terminal. A família Mesquita perdeu o controle do Estadão. O UOL é mais importante que a Folha. O jornal O Globo não ganha dinheiro, e a Rede Globo pela primeira vez enfrenta um concorrente que tem grana – a Record. A Veja está em crise – a Vejinha é mais importante que a Veja. Mas a Veja transcendeu a categoria de “conservadora”: a Veja é o órgão oficial do fascismo brasileiro.
O golpismo da imprensa escrita não é novo no Brasil: ela tentou derrubar ou derrubou Vargas, JK, Jango e Brizola, duas vezes no Rio: sempre contra governantes trabalhistas ou aliados a trabalhistas, como JK”.“A mídia conservadora (e golpista) conseguiu se multiplicar na WEB porque, como os portais têm uma produção própria de conteúdo muito reduzida, dependem das agências Estado, Folha e Globo. Porém, como a imprensa escrita é muito ruim, a internet brasileira, através de seus portais, criou um espaço jornalístico – e de opinião – que não tem paralelo no resto do mundo. O perigo é esse espaço ser, de novo, contaminado pela opinião, em prejuízo de fatos.
E se a ‘opinião’ predominar sobre os fatos, será sempre uma opinião conservadora, e, no caso brasileiro, golpista. O problema não é só da mídia e seus donos, mas dos jornalistas também. Está no conluio de faculdades – que ganham dinheiro – com jornalistas medíocres – que asseguram emprego – e os donos das empresas – que contratam uma mão-de-obra dócil, domesticada, abundante e barata.Como diz Mauro Santayanna, os jornalistas perderam a compaixão e querem ser amigos de banqueiros”.
“Tenho um mau presságio: a forma agressiva e despudorada com que a imprensa escrita trabalha para derrubar o presidente Lula pode levar a uma situação de violência – e de violência institucional. À medida em que se torna claro que o governo Lula pode ser um sucesso do ponto de vista econômico e social – e, portanto, pode fazer o sucessor, como dizem Maílson da Nóbrega e Mino Carta –, a mídia conservadora se desespera. E se torna mais golpista a cada dia. A democracia brasileira não tem instituições para absorver isso com normalidade. Nem o Estado brasileiro se preparou para conviver e enfrentar, se for preciso, uma mídia golpista que intervém no processo político e nas instituições. A mídia conservadora e golpista vai levar o Brasil a um impasse político. O Brasil pode se tornar uma Venezuela. Com a ajuda dos jornalistas.”
Apenas para encerrar, uma piadinha sobre como a Veja “aborda” a “ausência de racismo” no Brasil: não temos nada contra o negro, só não gostamos da cor, e gosto não se discute!
(1) Em palestra feita aos jornalistas do Último Segundo do iG, em 11 de junho de 2007.