Henrique Mogadouro da Cunha*
Os assuntos relacionados ao meio ambiente nunca estiveram tão presentes nos debates eleitorais como ocorre em 2010. A candidatura do PV à Presidência não é o único motivo – além disso, nota-se uma tendência geral da opinião pública a abrir cada vez mais espaço para o tema, em grande parte por conta da repercussão crescente dos estudos que dão conta de mudanças climáticas antropogênicas. Uma edição especial da revista Caros Amigos sobre as eleições deste ano trouxe uma reportagem que discutia com admirável profundidade os compromissos e propostas de cada uma das principais candidaturas à Presidência para o meio ambiente – muito interessante. Entretanto, para além das candidaturas majoritárias e das grandes questões ambientais globais, quero fazer aqui um questionamento acerca dos compromissos objetivos que os partidos políticos assumem em relação ao meio ambiente no cotidiano de sua militância.
Não é apenas em período eleitoral que a panfletagem nas ruas se põe diante de nós como um fato do cotidiano. Durante todo o ano, panfletos são distribuídos pelas cidades para vender todo tipo de produto ou serviço, e muitas vezes o resultado é apenas o aumento na quantidade de lixo jogado nas ruas. É nos períodos eleitorais, porém, que esse tipo de abordagem atinge o ápice de seu caráter contraditório: panfletos políticos, muitas vezes alegando grande preocupação com as causas ambientais, são distribuídos da forma mais antidemocrática e anti-ecológica possível – colocados em pára-brisas de automóveis estacionados nas ruas ou pendurados em portões de casas. Não é raro ver, consequentemente, dezenas desses panfletos jogados pelo chão.
Como eleitor, fico com esta dúvida na cabeça: seria bastante complicado responsabilizar as pizzarias, supermercados, consultórios odontológicos e outros estabelecimentos comerciais e de serviços por poluir as ruas toda vez que seus panfletos fossem encontrados pelo chão. Nesse caso, a concorrência é tão acirrada e tão grande que o argumento “se eu não fizer, outro vai fazer” é praticamente imbatível. No caso dos panfletos políticos, porém, a coisa muda de figura: apesar da enorme quantidade de candidatos a cargos de representação proporcional (deputados federais e estaduais) que se apresentam nas eleições, todos eles têm um atributo comum: estão filiados a algum partido político.
O argumento de que “a concorrência fará aquilo que eu não fizer”, nesse caso, tem apelo bem menor. Já enviei um artigo para este Fórum anteriormente tratando especificamente das questões que, acredito eu, poderiam produzir consenso entre candidatos adversários. Num caso desses, em que o objetivo imediato da eleição de um punhado de deputados leva os comitês de campanha a um método tão – literalmente – sujo, será que os partidos também não poderiam “sentar para conversar” (quer isso signifique um Projeto de Lei no Congresso, quer apenas um acordo em favor de um interesse suprapartidário) e orientar seus militantes a práticas menos danosas ao meio ambiente? A resposta me parece ser: os partidos políticos não parecem estar preocupados com causas suprapartidárias. O que é realmente lamentável, afinal esse tipo assunto é de interesse de todos.
A conclusão a que posso chegar é: meio ambiente continua sendo um tema nada transversal, e não é levado a sério na política brasileira. Trata-se apenas de uma bandeira, que conquista pela emoção alguns setores preocupados com grandes questões climáticas globais, mas que não é aplicada pelos políticos nas atitudes simples do cotidiano, como é o caso dos panfletos jogados ao vento.
*Henrique Mogadouro da Cunha é estudante de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP)