Diariamente, recebo em minha caixa de e-mails e em minha fan page mensagens com relatos de alunos e ex-alunos sobre suas experiências bem-sucedidas como concurseiros. Muitas vezes, essas mensagens manifestam gratidão pela ajuda e incentivo que ofereço em artigos, palestras e programas de rádio, nos quais procuro demonstrar que depende apenas de cada um de nós transformar em realidade um sonho como a aprovação em concurso.
Em alguns casos, sou tocado pela mais profunda emoção, ao ler histórias de pessoas que se entregaram de corpo e alma à busca de seu lugar ao sol, que abdicaram de muita coisa importante – até mesmo do sagrado convívio familiar – para mergulhar nos estudos por meses a fio, e, no fim, colheram os louros da aprovação e saborearam o doce néctar da vitória com a conquista do cargo público.
Nos últimos dias, entre tantos casos que me chegaram, um em particular me tocou o fundo do coração. Vou reproduzi-lo aqui, sem citar nomes, por se tratar de correspondência particular, como forma de incentivo para milhares de candidatas que possam estar vivendo situação parecida com a da ex-aluna que me escreveu. Pessoas nessas circunstâncias precisam, mais do que ninguém, de uma injeção de ânimo para continuar a difícil jornada de superação e autoafirmação por trás da preparação para prestar concurso. Aí vai o relato, com as devidas adaptações, do que foi a bem-sucedida aventura de uma mulher guerreira no mundo dos concursos públicos.
“Boa tarde, Professor.
Quero hoje contar para o senhor um pouco da minha história. Posso até não chegar a conhecer o senhor pessoalmente, mas você faz parte da minha superação e principalmente da minha APROVAÇÃO.
Fui aprovada em oitavo lugar no concurso do Ministério da Cultura para o cargo de nível médio, mas até essa aprovação passei por momentos de tristeza, outros de confiança; muitas vezes chorei em cima dos livros e apostilas. E era nesses momentos de falta de confiança que eu lia seus artigos e me apegava às suas palavras de incentivo.
Decidi voltar a estudar depois de oito anos sem nem pegar em um livro, quando meu esposo foi demitido de um emprego em que ele já trabalhava havia onze anos.
Meu nome é M.G.S., 27 anos, mãe de duas meninas lindas, K., de 5 anos, e V., de 3 anos. Há exatamente um ano e oito meses comecei a estudar. No início, estudava só quatro horas por dia, mas vi que não era suficiente e então passei a estudar oito horas todos os dias. Sentia-me tão culpada porque eu só estudava e não cuidava da casa, não cuidava das minhas filhas direito e todas as minhas outras obrigações eu fazia pela metade, mas não abria mão de estudar as oito horas diárias.
Quando saiu o concurso do Ministério da Fazenda, uma amiga minha falou para mim que acreditava tanto na minha aprovação que ela pagou o cursinho para mim na Ceilândia. Mas infelizmente não fui aprovada.
Então, como não tinha dinheiro para fazer outro cursinho nem para comprar os livros que eu precisava, meu irmão começou a me ajudar. Ele me dava cem reais todo mês para custear meus estudos e em troca eu arrumava a casa e lavava a roupa dele.
E foi assim, nessa luta, que eu consegui essa primeira aprovação. Como eu estou feliz e me sentindo realizada! E, se Deus quiser, quando eu for nomeada e começar a trabalhar, vou ter dinheiro para fazer um outro cursinho e passar em outros concursos.
Muito obrigada, Professor.
Desculpe-me se tem erro de ortografia e outros mais. Ainda não aprendi a fazer redação. Sempre estudei em escola pública e no meu tempo os professores não ensinavam a fazer redação.”
Diante de relatos como o dessa jovem mãe concurseira, é difícil conter a emoção. São casos como esse que me fazem sentir plenamente realizado em minha missão de professor dedicado aos concursos públicos já por mais de duas décadas. Histórias assim revigoram minhas forças e meu interesse por ajudar as pessoas a alcançar o objetivo de se tornar servidor público e garantir uma vida melhor, mais digna e tranquila para toda a família.
Não há vitória sem sacrifício. Essa é uma constatação que se confirma a cada concurso, quando sai a lista dos aprovados. Como ocorrerá mais uma vez no concurso deste domingo, 24 de março, quando 87 mil candidatos disputarão as 1,8 mil vagas oferecidas pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, nosso popular TJDFT.
Quando soar a sirene que dará início à prova, lá estarão milhares de mulheres semelhantes à personagem do meu artigo desta semana. São jovens mães de família que se tornaram concurseiras por absoluta necessidade de sobrevivência ou porque veem no serviço público uma opção profissional que lhes proporcione qualidade de vida bem melhor do que a atual. Em comum, todas elas tiveram de deixar de lado durante algum tempo prioridades anteriores, para lutar de igual para igual com milhares de concorrentes e sair vitoriosas.
Tenho escrito muito sobre o fato de as mulheres já dominarem a área de concursos públicos, numa proporção de 60% contra 40% de homens. Por consequência, elas também ocupam cada vez mais cargos preenchidos por concurso público, que antes eram de predominância masculina nas mais diversas áreas do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Isso apesar de a maioria delas ainda ter de cumprir dupla jornada de trabalho, no lar e no ambiente profissional, o que não é o caso dos homens em nossa sociedade. Há, portanto, uma desvantagem evidente para elas, transposta graças à inteligência, à garra e à capacidade de superação inerentes ao sexo feminino.
No artigo da semana passada, narrei outra história exemplar de sucesso, a do juiz Pedro Santos, que aos 25 anos se tornou o mais jovem membro da magistratura federal do Brasil, isso depois de ser aprovado em outros dificílimos concursos públicos da área jurídica, alguns deles em primeiro lugar. Vejo semelhanças entre o caso dele e o da mãe concurseira que me inspirou o artigo desta semana. Em ambas as situações, foi necessária muita determinação, ou melhor, uma férrea vontade de vencer os obstáculos interpostos no caminho rumo aos objetivos de nossos heróis. Sem essa determinação de maratonista, nem Pedro Santos, nem M.G.S. jamais teriam alcançado a linha de chegada da aprovação nos concursos a que se submeteram.
Espero que o exemplo desses dois guerreiros sirva para todos os concurseiros que me leem. Em especial, espero que inspire as mulheres, que encontram em uma dessas histórias o comovente retrato de uma mulher modesta, mas determinada, que fez da aprovação em concurso público a sua meta e já alcançou a primeira vitória. Estou certo de que a experiência foi tão gratificante que ela, em breve, terá para nos contar mais aprovações, conforme prevê em sua carta.
Para mim, nada é mais gratificante do que saborear o triunfo de meus alunos e ex-alunos. No fim das contas, é o que vale para um veterano professor se considerar bem-sucedido na vida. Afinal, sempre haverá alguém para contar histórias como essas, em algum órgão público de algum lugar do Brasil. Quando o personagem principal dessas histórias é do sexo feminino, o exemplo ganha ainda mais relevo, por tudo aquilo que as mulheres precisam enfrentar para vencer a dura competição que envolve o concurso público.
A propósito, em meu artigo sobre o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, citei uma frase da escritora Martha Medeiros para ilustrar o momento de ascensão feminina no mundo moderno. Volto a recorrer aos brilhantes pensamentos de Martha, como corolário do meu texto desta semana, e em homenagem a todas as mulheres, concurseiras ou não, que me leem neste momento, para sintetizar o novo papel que elas desempenham na sociedade:
“Ser livre é fazer as próprias escolhas. Muitos dos nossos medos são herdados dos nossos pais. Quando vamos ver, somos mais audaciosas do que pensávamos.”
Tenho certeza de que, com a liberdade de fazer as próprias escolhas e a audácia que supera os velhos medos hereditários, vocês, queridas amigas e concurseiras, estarão a caminho de conquistar, até mais depressa do que esperam, o seu
FELIZ CARGO NOVO!