Edson Sardinha
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A três semanas da eleição das mesas-diretoras do Parlamento e a menos de dois anos da sucessão presidencial, o PFL intensifica os ataques pessoais ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Candidato à presidência da Câmara, o líder do partido na Casa, José Carlos Aleluia (BA), acusa Lula de desvincular a própria imagem à do governo para tentar garantir a reeleição. Menos de uma semana depois de o comandante do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), ter chamado o presidente de “incompetente” e “inexperiente”, Aleluia compara Lula a um “ator”, que diverte o público, mas não governa o país. O charme e a suposta desvinculação da imagem do presidente à do governo são a única explicação para os elevados índices de popularidade mantidos pelo ex-líder sindical, segundo o deputado. “O presidente vive o tempo todo fazendo show. Um show que tem sempre o mesmo script. Ele leva um discurso escrito e prepara os improvisos programados para falar e as pessoas acharem graça no jornal no dia seguinte. É um presidente que não governa. Por isso, ele consegue se desvincular do governo, que é ruim”, diz. Prestes a passar a liderança do partido ao deputado Rodrigo Maia (RJ), Aleluia garante que não irá desistir da disputa pela presidência da Câmara, apesar de não ter conseguido nem o apoio do PSDB, principal aliado na oposição, e critica os concorrentes à vaga. “Eu sou o único candidato que não irá pedir bênção ao presidente da República”, afirma. Independentemente do resultado da sucessão na Câmara, o líder do PFL diz que o partido irá intensificar a fiscalização sobre o governo em 2005, ano em que também tenta dar fôlego à pré-candidatura do prefeito do Rio, César Maia, à sucessão presidencial. Enquanto o partido discute se adota ou não um canário como novo símbolo, Aleluia diz que o PFL já encontrou a figura ideal para desqualificar as ações do Planalto e fazer decolar a candidatura de Maia: o avião presidencial comprado por R$ 130 milhões. “O avião é apenas a ponta do iceberg. Como voa, é visível. O ‘Aerolula’ é o outdoor do desperdício. Como a oposição não pode construir um outdoor, até porque não tem espaço proporcional na mídia, vamos usá-lo como propaganda. Quem olhar para ele vai ver o dinheiro jogado fora na reforma do Palácio, na viagem dos meninos, na corrupção do Waldomiro e nos equívocos da Petrobras”, diz. O pefelista nega a possibilidade de retirar a candidatura no último momento para declarar apoio ao dissidente petista Virgílio Guimarães (MG), numa tentativa de derrubar o candidato do governo, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). Mas sinaliza com um gesto de solidariedade ao deputado mineiro. “O presidente da República diz um absurdo quando fala que vai retirar, sem esmagar, o oxigênio do candidato Virgílio Guimarães (PT-MG). O que ele quis dizer com isso? É como se dissesse: ‘não vou dar milho para esse povo’. Quando o presidente diz isso, ele humilha o Congresso”. Congresso em Foco – Existe a possibilidade de o senhor retirar a sua candidatura até a véspera da eleição da mesa-diretora da Câmara? José Carlos Aleluia – Nem antes, nem depois. Não estou analisando a retirada de candidatura, porque a minha é a única que tem proposta. O candidato oficial disse que vai trabalhar pela vontade do governo. O outro disse que vai trabalhar pelo interesse de um grupo na Câmara. Vou trabalhar pela vontade da sociedade. Quero que a instituição esteja próxima da sociedade, que os deputados possam exercer o seu trabalho, criar e estabelecer uma pauta para o país, e não ficar aqui votando medidas provisórias. Eu sou o único candidato que não irá pedir bênção ao presidente da República. Não irei trabalhar pela vontade do presidente da República, mas pela vontade da população. O senhor disse que vai trabalhar pela aproximação do Parlamento com a sociedade. De que forma? A sociedade quer ver o Congresso tomando iniciativas, e não apenas respondendo às iniciativas do Planalto, enfrentando a questão da reforma tributária, um obstáculo ao desenvolvimento do país que nós ainda não enfrentamos porque o Palácio não ajuda. O governo federal está destruindo a Federação, sugando os recursos da sociedade e inviabilizando estados e municípios. A sociedade quer ver um Congresso que limite a edição de medidas provisórias e enfrente, sem artificialismos, a omissão do governo na questão da violência. Não podemos continuar com a escorcha tributária que se estabelece no país. A sociedade quer ver um Congresso que não seja um apêndice do Palácio do Planalto. Essa é a mensagem da minha candidatura. Não estamos preocupados com coisas menores, ao contrário dos demais candidatos. O que seriam essas coisas menores, por exemplo? Discutir se aumenta ou não salário dos parlamentares, se é preciso cortar ou não a água mineral, por exemplo. Não vamos debater isso. Vamos discutir como o Congresso poderá se tornar mais cidadão, mais pró-sociedade do que pró-Palácio. O Congresso Nacional é uma instituição que tem baixa credibilidade pública, principalmente por causa do fisiologismo e dos benefícios que os congressistas aprovam para si mesmos. Como reverter isso? Essa situação ainda piora na medida em que aparece uma candidatura oficial. O presidente da República diz um absurdo quando fala que vai retirar, sem esmagar, o oxigênio do candidato Virgílio Guimarães (PT-MG). O que ele quis dizer com isso? É como se dissesse: “não vou dar milho para esse povo”. Quando o presidente diz isso, ele humilha o Congresso. É uma forma muito elementar e perversa de tratar o Congresso. O que é isso? Vai cortar verbas? Ele já ameaçou inclusive demitir servidores ligados aos deputados que apóiam o candidato Virgílio. Isso deprecia o Congresso. No dia em que o Congresso tiver altivez e puder tratar o Palácio de igual pra igual, a imagem melhora. Quero o oxigênio da sociedade, não o do Tesouro. “O presidente da República diz um absurdo quando fala que vai retirar, sem esmagar, o oxigênio do candidato Virgílio Guimarães (PT-MG). O que ele quis dizer com isso? É como se dissesse: ‘não vou dar milho para esse povo’ Os parlamentares também não têm culpa por essa submissão? Não. O que contribui mais é a forma como o conjunto aceita essa humilhação. No Parlamento, as virtudes não vêm dos indivíduos. Elas vêm da somatória das virtudes e dos defeitos de todos os parlamentares, porque cada qual traz a sua expectativa. O debate leva à virtude. Por isso, a democracia é importante. No momento em que o presidente da República diz que vai resolver a eleição no Congresso, tirando oxigênio de uma candidatura para passá-lo a outra, parece desconhecer que o Congresso não é uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A minha candidatura é anaeróbica, ela não precisa de oxigênio do Planalto. O governo alega que tem de ceder, liberar verbas e cargos, em troca de votos no Congresso. Os anteriores também usavam o mesmo argumento. Não se trata de um problema estrutural? O atual governo enfrenta dificuldade porque não tem estrutura partidária e optou por fazer canibalismo partidário. Saiu cooptando parlamentares dos grandes partidos para inchar os pequenos. Essa atração (para a base aliada) não foi por causa das propostas do governo, porque Lula não tem proposta. Foi fisiológica. O governo quer eleger o presidente da Câmara também com fisiologismo. "Essa atração (para a base aliada) não foi por causa das propostas do governo, porque Lula não tem proposta. Foi fisiológica. O governo quer eleger o presidente da Câmara também com fisiologismo” Essa estratégia não é a mesma adotada pelos presidentes anteriores, que tiveram o apoio do próprio PFL? O governo Lula conseguiu amplificar as mazelas do Parlamento. A forma pequena com que ele negocia a reforma do ministério é um exemplo. Ele faz isso pra ter um Congresso fraco. Na medida em que ele fica de novembro até hoje negociando uma eventual reforma ministerial, Lula desgasta o Legislativo. Agora, ele ainda declara que só irá concluir a reforma após as eleições na Câmara e no Senado. É isto o que deprecia o Congresso: um governo fraco que trabalha para ter um Parlamento e uma democracia fracos. “O governo Lula conseguiu amplificar as mazelas do Parlamento (…) Na medida em que ele fica de novembro O senhor vê diferença entre os candidatos do PT, Luiz Eduardo Greenhalgh e Virgílio Guimarães? Há uma diferença de berço, mas não de genética. Um nasceu no Palácio e o outro nasceu na casa ao lado, mas todos os dois vão tomar a bênção do presidente. Para a Câmara, seria melhor a eleição daquele que “nasceu na casa ao lado”? Para o Parlamento, a melhor candidatura é a minha, que é independente. Se aparecesse um candidato com independência e mais forte do que eu, poderia até desistir. O problema é que um é protegido pelo presidente e o outro quer pedir audiência a Lula para lhe entregar uma carta. Não quero audiência com o presidente, não dependo dele. Quero o oxigênio que está na natureza. O senhor apoiaria o candidato avulso do PT para aplicar uma derrota ao governo? O bom seria a vitória de uma candidatura independente. Gostaria que Michel Temer (PMDB-SP) tivesse se apresentado como candidato. O senhor o apoiaria? Há muito mais facilidade em apoiar Michel Temer do que qualquer outro nome. Não prometo apoio, porque ele não é candidato. Michel não iria precisar, como eu, de pedir bênção ao Planalto. Na medida em que se aproxima a sucessão presidencial, a tendência é o PFL fazer uma oposição mais acirrada ao governo este ano? A tendência é o PFL fazer uma oposição na mesma linha crítica, firme, positiva, propositiva e fiscalizadora. O governo vai ter de ampliar a palavra fiscalização. É um governo que está, cada dia mais, precisando de fiscalização, deslumbrado com o poder, desperdiçando dinheiro público. A cada dia batem-se, no Brasil, recordes de arrecadação e de dívida pública, porque o dinheiro é sempre encaminhado de forma equivocada. O avião é apenas a ponta do iceberg. Como voa, é visível. O “Aerolula” é o outdoor do desperdício. Como a oposição não pode construir um outdoor, até porque não tem espaço proporcional na mídia, vamos usá-lo como propaganda. Quem olhar para ele vai ver o dinheiro jogado fora na reforma do Palácio, na viagem dos meninos, na corrupção do Waldomiro e nos equívocos da Petrobras. A Petrobras não agüenta Lula por mais quatro anos. A imprensa brasileira diz isso, e não é o Larry Rohter. “O avião é apenas a ponta do iceberg. Como voa, é visível. O ‘Aerolula’ é o outdoor do desperdício. Como a oposição não pode construir um outdoor, até porque não tem espaço proporcional na mídia, vamos usá-lo como propaganda” O governo Lula é melhor ou pior do que o senhor imaginava? Esperava um governo pior. Lula dizia que tinha proposta, e eu não sabia qual era. Como ele não tem proposta, seu governo se revela apenas medíocre. Um governo de um presidente charmoso, que usa todo o charme para se distanciar do governo. “Esperava um governo pior. Lula dizia que tinha proposta, e eu não sabia qual era. Como ele não tem proposta, seu governo se revela apenas medíocre” A imagem do presidente está desassociada da imagem do governo? Ele tem conseguido, mas isso tem limite. A sociedade vai começar a enxergar que ele deveria estar presidindo, e não fazendo campanha. Lula fica em campanha o tempo todo e esquece de governar. Ele não reúne os ministros, não dá ordem de comando. É o governo do “mantém em conserva”. Em sociologia, quando se mantém e conserva, a tendência é degenerar. É casamento em família, um governo que não produz nada. O governo é medíocre e Lula, um ator. Está tentando descolar do governo para tentar a reeleição. A sociedade começa a entender isso, porque não tinha, até então, oposição em termos de alternativa de poder. As oposições estavam cometendo o erro de não apresentar candidatura. Ainda aparece gente dizendo que o PFL se precipitou ao apresentar candidato. Na verdade, o PFL deveria ter apresentado o seu nome antes, porque Lula faz campanha todo dia. Seria bom que PSDB e PMDB apresentassem candidatos, gente pra confrontar Lula. Não quero um presidente que pegue sucuri, mas que governe o Brasil. “O governo é medíocre e Lula, um ator. Está tentando descolar do governo para tentar a reeleição. A sociedade começa a entender isso, porque não tinha, até então, oposição em termos de alternativa de poder” Mas, nesses dois anos, o governo Lula não teve acertos? O único acerto do governo Lula foi não ter feito nada. Todos esperavam que o governo Lula fosse bom no social. É um desastre. O Primeiro Emprego não existe, os jovens continuam sem emprego e o programa é um fracasso. O Fome Zero é apenas uma marca, como o próprio governo reconheceu. O Bolsa-Renda está desvinculado de tudo. Gente responde a motivação. É um princípio básico de funcionamento da sociedade: não se pode desmotivar as pessoas, o Luiz Gonzaga já dizia isso em sua música. As pessoas querem sobreviver e ter expectativas. Os programas sociais de Lula não são universalizados. Ele nada fez pela educação fundamental. Hoje não há escola secundária nem de péssima qualidade no Brasil. Não apresentou um plano para a área universitária. É um governo sem expectativa. Na saúde, é um desastre. O atual governo tenta manter aquilo que Serra criou, mas não inova. A única inovação do governo Lula na saúde, aliás, foram os “vampiros”. “O atual governo tenta manter aquilo que Serra criou, Apesar dessas críticas, o governo Lula tem índices elevados de aprovação. Não há um distanciamento entre o seu diagnóstico e o da sociedade? O índice de popularidade do governo é circense. Os circos também têm eventualmente grande popularidade. O presidente vive o tempo todo fazendo show. Um show que tem sempre o mesmo script. Ele leva um discurso escrito e prepara os improvisos programados para falar e as pessoas acharem graça no jornal no dia seguinte. É um presidente que não governa. Por isso, ele consegue se desvincular do governo, que é ruim. É como se ele fosse o presidente do governo de um outro país. Isso não dura muito. Na hora em que começar o debate sobre a possibilidade de continuar com Lula por mais quatro anos ou de ter uma expectativa nova, com proposta de crescimento sustentável, não tenho dúvida de que essa popularidade irá se reduzir aos 25% dos eleitores cativos que o PT tem. |
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