Everaldo Pereira*
Lula se safou por pouco de uma saia justa internacional. Semanas separam o fim de seu governo do início da crise político-institucional que está gerando profundas transformações no mundo árabe. Se a diplomacia lulista estivesse dando as cartas na política externa, neste momento o mandatário brasileiro lançaria mão de suas metáforas futebolísticas para tentar driblar a opinião pública mundial.
Mas como explicar ao mundo o apoio do Brasil, nos últimos anos, a ditadores do quilate de Muamar Kadafi, Fidel Castro e Robert Mugabe? Por que não dar preferência a líderes de nações democráticas? Agora, na condição de ex-presidente, um Lula de memória curta afirmou em entrevista à BBC Brasil que a crise no Oriente Médio representa um bem para a democracia.
Ora, se regimes democráticos tiveram alguma relevância na política externa brasileira nos últimos oito anos, por que Lula, o chanceler Celso Amorim e o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, negligenciaram a única democracia consolidada daquela região? Israel foi deixado de lado pelo Itamaraty durante quase todo o governo petista.
Meses antes de encerrar o mandato, o então presidente brasileiro finalmente desembarcou em território israelense. Em vez de se redimir pelo longo e inexplicável distanciamento, gerou desconforto quando se recusou a visitar o túmulo do fundador do sionismo, Theodor Herzl.
Confesso que apenas agora minhas dúvidas começam a ser dirimidas. Em 2009, Lula trocou afagos fraternos na Líbia com o ditador Muamar Kadafi. As grandes construtoras brasileiras e a Petrobras firmavam naquele país contratos em busca de expandir sua produção e seus mercados.
Neste começo de 2011, vejo empresas brasileiras resgatarem seus funcionários às pressas enquanto o tirano líbio esmaga seu povo com bombardeios aéreos. As companhias são obrigadas a debandar para evitar a morte de brasileiros inocentes. Voltarão a operar na Líbia quando a turbulência chegar ao fim, mas a instabilidade certamente resultará em ajustes no balanço financeiro.
Se, por um lado, apertar a mão de ditadores pode gerar vantagens econômicas momentâneas, por outro, a revolta de povos cansados de décadas de opressão causa prejuízos inesperados.
Em 2010, Celso Amorim defendeu que o Brasil ampliasse as relações com a Guiné Equatorial, outro país acusado de graves violações aos direitos humanos. Ao justificar o encontro entre Lula e o presidente Obiang Nguema – que tomou o poder no país africano em 1979 por meio de um sangrento golpe de Estado, Amorim declarou: Negócios são negócios.
Mas por que não investir nas democracias que respeitam direitos civis? Israel fica no centro do Oriente Médio, com instituições independentes, baixos níveis de corrupção e liberdades individuais asseguradas por um governo democrático. Além disso, os israelenses apresentam altos índices de educação e desenvolvimento tecnológico, com destaque para as comunicações, medicina e aviação.
É um país do tamanho de Sergipe, com a população equivalente à do Pará e uma economia igual à soma dos PIBs (Produto Interno Bruto) de Rio de Janeiro e Goiás.
A presidente Dilma Rousseff tem a oportunidade de mudar esse cenário. Já no início do mandato, adotou uma postura inversa à praticada por Lula em relação ao Irã, desafeto declarado de Israel. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, acostumado com o ombro amigo do ex-presidente brasileiro mesmo quando passava por cima dos direitos humanos e negava o Holocausto, está incomodado com a nova posição do governo do Brasil.
Israel, cuja democracia serve de inspiração mundo afora – inclusive para jovens árabes se levantarem contra regimes autoritários -, merece toda a atenção, respeito e amizade do Brasil. O povo brasileiro só tem a ganhar ao promover o intercâmbio cultural e econômico com Israel. E, certamente, Israel também irá se beneficiar ao trocar experiências com um país jovem, rico e vibrante como o Brasil.
* Vice-presidente do Partido Social Cristão (PSC)