Como certamente diria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nada como um dia depois de outro. Na tarde do dia 11 de janeiro de 1991, um sonolento plenário da Câmara dos Deputados acompanhou o discurso de um parlamentar petista eleito pelo estado de São Paulo, à época prestes a encerrar seu primeiro mandato, sobre corrupção no governo Fernando Collor. Transcrevo o pronunciamento, ipsis literis, pela sua atualidade. “Sr. Presidente, srs. Deputados. Já foram amplamente divulgadas, inclusive por outros deputados que falaram aqui desta tribuna, as denuncias (sic) de atos de corrupção praticados na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. O que nos preocupa, senhor presidente e senhores deputados, é que as pessoas envolvidas nesses atos de corrupção, ao invés de serem punidas, vem (sic) sendo premiadas pelo governo federal. O mesmo governo que fala em moralidade administrativa, que fala em por (sic) fim aos marajás, e que, no entanto, mantem (sic) a impunidade, lamentavelmente, como regra geral neste país. Vamos aos fatos: Em 4 de agosto de 1988, o sr. Laomar Mello foi demitido da presidência da ECT, após ter sido denunciado por corrupção pelo Jornal do Brasil, por ter feito uma negociata com terrenos pertencentes àquela empresa, situados na área do Arpoador, na cidade do Rio de Janeiro. Hoje, o sr. Laomar Mello, além de não ter sido punido, foi nomeado pelo atual governo para importante cargo no INSS – o Instituto Nacional de Seguridade Social. Em janeiro de 1990, a ECT comprou, sem licitação, vários automóveis na fábrica da Volkswagen e 81 caminhões numa concessionária da Volkswagen de Brasília. É evidente que, comprando os caminhões na concessionária, a ECT pagou bem mais do que pagaria comprando diretamente na fábrica. Mas o mais grave é que todas as compras foram realizadas sem licitação. Também em janeiro, a ECT adquiriu computadores e outros equipamentos de informática, mais uma vez sem licitação. Essas compras foram denunciadas pela imprensa. Posteriormente, o Tribunal de Contas da União comprovou, em auditoria, um rombo de Cr$ 170 milhões nas contas da empresa. Os responsáveis por esse rombo, e por essas compras sem licitação, foram o ex-presidente da ECT, Joel Marciano Rauber, e o ex-vice-presidente, José Carlos Rocha, ambos nomeados pela ECT pelo governo Sarney. Veio, então, o governo Collor, que havia prometido moralidade administrativa, caça aos marajás, e o que aconteceu? O sr. Joel Marciano Rauber foi nomeado secretário nacional de comunicações, importante cargo do ministério da Infra-Estrutura, na prática equivalente ao antigo cargo de ministro das Comunicações. E o sr. José Carlos Rocha, de vice, passou a presidente da própria ECT. Essa é a verdadeira face da pretensa “moralidade” administrativa do atual governo. Ao lado do discurso moralista, para enganar a opinião pública, o governo desenvolve a prática de premiar e promover pessoas envolvidas em caso de corrupção. O lamentável, sr. Presidente e srs. Deputados, é que enquanto aqueles que se beneficiaram do uso da máquina estatal estão impunes e premiados, a ECT, como os demais órgãos e empresas públicas, estão (sic) sendo desmantelados, esvaziados, arcando a população com o ônus de não poder contar com serviços públicos à altura das suas necessidades.” Autor do pronunciamento: o então deputado federal Luiz Inácio Lula da Silva (PT/SP). Clique aqui para ver o fac símile do documento original aqui transcrito. |